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Cotidiano
Baterias decisivas foram disputadas contra Italo Ferreira, em formato melhor de três, nas ondas de Lower Trestles, nos EUA
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O surfista Filipe Toledo | Thiago Diz/World Surf League
Terminada a final do Mundial de surfe de 2021, o campeão Gabriel Medina colou o rosto no do vice-campeão Filipe Toledo e avisou: "Sua hora vai chegar".
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Chegou.
Toledo, 27, é o novo campeão do mundo. O brasileiro voltou à decisão neste ano e confirmou o domínio estabelecido ao longo de toda a temporada. As baterias decisivas foram disputadas contra o também brasileiro Italo Ferreira, 28, em formato melhor de três, nas ondas de Lower Trestles, em San Clemente, nos Estados Unidos.
Morador de San Clemente, o paulista de Ubatuba mostrou bom conhecimento do mar californiano. Na primeira perna da disputa, conseguiu boas ondas para a direita, entre elas uma de nota 7,50 e outra de nota 7,63, com um total de 15,13. Italo respondeu com um 8,00 e achou que tivesse conseguido a virada no final, mas levou um 6,97, totalizou 14,97 e socou a água em frustração.
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Na segunda disputa de 35 minutos, Filipe manteve seu bom fluxo para a direita, com manobras fortes e bem controladas, conseguindo um 8,67 e um 7,83, totalizando 16,50. Ferreira tentou responder com seu ótimo jogo aéreo, conseguindo um 8,60 para a esquerda. Sua segunda alta mais nota foi um 6,33, com total de 14,93.
Quarto brasileiro a levar o título, Filipe se junta ao tricampeão Medina (2014, 2018 e 2021), a Adriano de Souza (2015) e ao próprio Italo (2019), também campeão olímpico em 2021. E dá sequência ao domínio estabelecido por seu país no surfe masculino, um movimento batizado de "Brazilian Storm".
De 2014 para cá, a "tempestade brasileira" só não fez o campeão no biênio 2016/2017, com triunfo do havaiano John John Florence -em 2020, o campeonato foi cancelado por causa da pandemia de Covid-19. Agora, chegou a vez de Toledo, que teve uma trajetória acidentada até encontrar a paz consigo mesmo e o troféu que tanto buscava.
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Filho do surfista Ricardo Toledo, que marcou sua presença na elite do esporte entre os anos 80 e 90, Filipe logo se mostrou bastante talentoso e esteve na briga pelo título mundial pela primeira vez em 2015. Depois disso, teve momentos de fúria com juízes -o que chegou a lhe render uma suspensão- e enfrentou um quadro de depressão, algo sobre o que fala abertamente.
"Passei por momentos realmente difíceis, 2019 foi um ano bem complicado para mim, psicologicamente, emocionalmente. E percebi que falar sobre a situação com alguém, um profissional, é fundamental. Foi o que me ajudou e hoje me ajuda a identificar que posso estar voltando para um comportamento ruim, triste, depressivo. Hoje, sei manobrar isso e passar por cima dessa situação", afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo, em julho.
Àquela altura, ele já havia estabelecido larga vantagem na classificação de 2022 e acabara de vencer a etapa do Rio de Janeiro pela quarta vez. "Tranquilo", como definiu repetidamente, disse estar no "melhor momento" de sua vida, dando muito crédito à mulher, Ananda, 28: "Se não fosse ela, não sei o que aconteceria".
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Próximo aos filhos -Mahina, 5, e Koa, 4- sempre que possível, minimizou um dos gatilhos da depressão, a distância da família nas viagens que exige o circuito. E observou uma relação direta entre o próprio sorriso e as notas dadas pelos juízes, aqueles mesmos para os quais destinara sua fúria.
"A gente vê pelos resultados. Eu reparei que é quando estou confortável que os resultados aparecem. É estar bem comigo mesmo, antes de mais nada", explicou. "Tenho estado tranquilo e bem confortável."
Confortável, em casa, pertinho de toda a família, Filipe chegou à etapa final da liga mundial em primeiro lugar -e com o pai, a mulher e os filhos na praia. Isso lhe permitiu aguardar na final enquanto Kanoa Igarashi, Italo Ferreira, Ethan Ewing e Jack Robinson disputassem o direito de desafiá-lo pelo título.
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Italo, que estava em quarto no ranking, derrubou inicialmente Igarashi, em reedição da final olímpica de Tóquio. Em seguida, passou por Ewing e Robinson. Mas não resistiu àquele que havia construído a melhor campanha ao longo da temporada.
No ano passado, era Medina quem estava nessa posição, na liderança, confirmada no triunfo sobre Toledo. Ausente de boa parte do Mundial de 2022 justamente para dar atenção à sua saúde mental, Gabriel elogiou o talento do então vice-campeão, apostou nele no Finals desta temporada e declarou sua torcida sem pudor.
Então, Filipe cumpriu a profecia do amigo.
Tatiana cai na estreia
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Terceira colocada no ranking, a brasileira Tatiana Weston-Webb, 26, estreou contra a quinta, a australiana Stephanie Gilmore, 34, que havia batido a quarta, a costa-riquenha Brisa Hennessy, 22. Conseguiu boas ondas, mas acabou perdendo por 15,30 a 14,87 na soma das duas melhores notas.
No finalzinho da bateria, a gaúcha precisava de um 7,30 para deixar a rival para trás. Encontrou uma onda alta para a direita, executou três manobras sólidas, manteve o equilíbrio e comemorou o que via como sua passagem para a semifinal. Ganhou um 6,87.
"Estou muito feliz em relação a como surfei. Tinha a certeza de que tinha conseguido a nota. Era uma onda volumosa, fiz manobras grandes, e os juízes não acharam o que eu achei, o que acontece a toda hora no nosso esporte. Mas ninguém vai tirar de mim o que fiz", afirmou.
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A experiente Gilmore foi adiante e derrubou também a segunda da classificação, a francesa Johanne Defay, 28. Na final em melhor de três com a líder do ranking, a pentacampeã Carissa Moore, 30, do Havaí, venceu por 2 a 0.
Foi o oitavo título da australiana. Ela deixou para trás a australiana Layne Beachley, hepta entre 1998 e 2006, tornando-se a mulher mais vencedora da história do surfe.
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