Entre em nosso grupo
2
Cotidiano
Em 28 anos, o tamanho da malha de metrô mais do que dobrou
28/12/2022 às 09:31 atualizado em 28/12/2022 às 09:36
Continua depois da publicidade
Rodrigo Garcia durante visita ao tatuzão, do Metrô de São Paulo | Divulgação
Os moradores da região metropolitana de São Paulo compravam cada vez mais carros e, a cada ano, tinham mais dificuldades para chegar de um ponto a outro das cidades. Congestionamentos cresciam, o transporte coletivo estava sucateado e perdendo passageiros, e eram comuns as cenas de pessoas penduradas nas portas de trens e sobre composições, em alguns casos resultando em acidentes com mortes.
Continua depois da publicidade
Em 1995, Mário Covas assumiu seu primeiro mandato como governador em um cenário de deterioração na mobilidade e com a promessa de recuperá-la. O plano era acelerar a expansão do transporte sobre trilhos e investir em grandes obras de infraestrutura para carros e caminhões.
As obras anunciadas por Covas tornaram-se bandeira de todos os candidatos do PSDB nas décadas seguintes: Rodoanel, novas linhas de metrô, Trem Intercidades, Ferroanel, ligação entre Santos e Guarujá, modernização das linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Todos esses projetos tiveram atrasos e em alguns casos nem sequer foram iniciados, mesmo que tenham aparecido como estratégicos no planejamento interno do governo.
Continua depois da publicidade
METRÔ
Em 28 anos, o tamanho da malha de metrô mais do que dobrou. A comparação entre aquilo que foi planejado e construído, porém, é desfavorável aos governos tucanos. A metrópole ainda tem menos da metade dos trilhos projetados em 1997 para os anos 2020.
A linha 4-amarela tornou-se o caso emblemático da marcha lenta na expansão metroviária. Sua construção foi anunciada ainda no primeiro ano de Covas no governo, mas as obras começaram quase dez anos depois.
Continua depois da publicidade
Ao anunciar a construção, o governo sabia que não teria dinheiro para operar a linha e que precisaria repassá-la a uma empresa. Para resolver o problema, a aposta foi uma novidade que se tornaria símbolo da era tucana em São Paulo: a PPP (Parceria Público-Privada). A linha 4 foi o primeiro empreendimento no Brasil a adotar esse modelo.
"O mercado ficava com um pé atrás. Como iriam entrar numa questão que não conheciam? Isso tudo levou três, quatro, cinco anos de amargura", afirmou o ex-secretário Jurandir Fernandes, que ocupou a pasta de Transportes Metropolitanos nos governos de Geraldo Alckmin.
Quando o cronograma apontava poucos meses para a inauguração, em 2007, houve a maior tragédia na história do Metrô, com a abertura de uma cratera na estação Pinheiros que deixou sete mortos. A entrega foi adiada em mais três anos.
Continua depois da publicidade
As críticas ao empreendimento, entretanto, não se resumem aos atrasos. "O Estado tem de bancar a falta de passageiros por muito tempo na linha 4-amarela porque a obra foi atrasada e a concessionária tinha feito o cálculo da rentabilidade com um certo número de passageiros que não existiam, porque a linha não estava pronta", disse o coordenador do Mobilab (Laboratório de Estratégias Integradas da Indústria da Mobilidade) da USP, Mauro Zilbovicius.
Para a linha 6-laranja, há sete anos entre obras e paralisações, o modelo mudou: o setor privado ficou responsável pela construção, em vez do poder público, e o mesmo consórcio também deve cuidar da operação da linha.
O raciocínio é que, assim, as empresas têm interesse na rápida conclusão da obra. Daquilo que estava planejado para a malha de trens e metrôs de 2020, três linhas estão incompletas e outras quatro não foram entregues, com atrasos que chegam a nove anos.
Continua depois da publicidade
Sobre os atrasos em obras, a STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos) afirmou que nos últimos três anos, com sete novas estações e aberturas de 8,3 quilômetros de metrô, há uma "média de crescimento superior à média histórica de expansão da rede". A pasta disse ainda que retomou trabalhos para construir e ampliar quatro linhas.
"O que já foi aberto, somado às obras em execução por esta gestão, representa 44% da rede de metrô, que foi inaugurada em 1974 e nunca contou com investimento do Governo Federal a fundo perdido", declarou a STM.
TRENS
Continua depois da publicidade
Em contrapartida às dificuldades no metrô, a modernização da CPTM costuma ser citada como um plano bem-sucedido dos tucanos. Novos trens, estações reformadas e menor tempo de viagem são os maiores contrastes entre as décadas de 1990 e 2020.
O plano de investimentos veio após uma série de tumultos no primeiro governo Covas, com mortes e vandalismo. Ao longo das duas décadas seguintes, para entregar a renovação da CPTM, o investimento foi o dobro do previsto no fim dos anos 90.
"Houve melhoria no tempo de viagem e principalmente um aumento muito grande na mobilidade da população de mais baixa renda", disse o arquiteto Renato Viégas, que foi diretor de planejamento e expansão da Secretaria dos Transportes Metropolitanos. "O crescimento da mobilidade da população de baixa renda foi de 48%, muito maior do que o crescimento médio, que foi de 11%."
Continua depois da publicidade
Enquanto isso, ficou pelo caminho a promessa de separar as linhas de passageiros e de cargas, com o Ferroanel. O projeto existe desde o fim da década de 1960, mas depende da colaboração do governo federal, que é responsável pelos trens de carga na região -hoje concedido à MRS Logística.
Em vez do contorno ferroviário, a MRS agora deve fazer uma separação dos trilhos. Um trecho de 8,5 quilômetros entre as estações Água Branca e Mooca, porém, ainda será compartilhado com linhas de passageiros. A previsão é que essas obras sejam entregues em 2027 e 2034. Especialistas consideram o assunto urgente: no início deste mês, duas linhas de passageiros ficaram paralisadas após o descarrilamento de um trem de carga.
Esse projeto deve abrir espaço para outra ideia que foi repetida à exaustão, sem se concretizar: o Trem Intercidades, que deve conectar Campinas à capital. A preocupação de especialistas hoje é que, caso se torne realidade, o trem regional seja de alta qualidade para atrair passageiros.
Continua depois da publicidade
RODOANEL E ESTRADAS
No caso da maior obra de infraestrutura do estado, o Rodoanel, o tempo de execução foi novamente uma fonte de críticas. A conclusão de 3 dos 4 trechos estava entre as promessas do segundo mandato de Covas, que iria até 2002 -uma meta parcial que só foi alcançada mais de dez anos depois.
O governo amarga a paralisação das obras do trecho norte há quatro anos, quando cerca de 85% das obras já estavam concluídas. A última vez que o Rodoanel ficou tanto tempo sem avanços havia sido entre 2002 e 2007, um hiato entre as construções dos trechos oeste e sul.
Continua depois da publicidade
Travas no licenciamento ambiental, cancelamento de editais e denúncias de superfaturamento marcaram a construção do anel viário ao longo dos anos. Em 2018, a justificativa para o abandono dos canteiros foi a dificuldade das empresas de continuar tocando a obra. As empreiteiras que integravam os consórcios foram fortemente atingidas financeiramente com a Lava Jato, entrando em recuperação judicial e sendo declaradas como inidôneas pela União.
Além dos atrasos, o governo descumpriu a promessa de gratuidade no uso do Rodoanel. O primeiro pedágio foi implantado sete anos após a inauguração do primeiro trecho, contrariando um compromisso de Alckmin e lançando uma tendência para o futuro da obra.
A alta dos preços em pedágios de todo o estado motivaram críticas ao longo dos anos e, em 2010, chegou a mudar os índices de reajuste na tentativa de atenuá-los. No longo prazo, esse problema continuou. Neste ano o governador Rodrigo Garcia chegou a cancelar os reajustes automáticos na cobrança, que ocorreriam em julho, mas um aumento de quase 12% veio em dezembro.
Continua depois da publicidade
"São Paulo tem a melhor malha de rodovia do país, nesse sentido o esquema de concessão deu certo", diz Zilbovicius. "O problema é: quanto custa ir para Santos? É caro." A tarifa do pedágio no sistema Anchieta-Imigrantes, após os reajustes neste fim de ano, subiu para R$ 33,80 para carros.
A Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) disse, em nota, que lançou este ano o edital que prevê a conclusão das obras do Rodoanel, e que a concorrência internacional está em andamento. O leilão está marcado para 14 de março de 2023. "O prazo previsto para entrega das obras é de 24 meses, após a empresa vencedora concluir os levantamentos necessários para dar continuidade às obras existentes", disse a agência.
Sobre os pedágios rodoviários, a Artesp afirmou que nos últimos quatro anos as novas concessões passaram a oferecer reduções nas tarifas, "além da implementação pioneira do Desconto de Usuário Frequente (DUF), modalidade em que o usuário paga menos de utilizar mais a rodovia". Essa modalidade, segundo a agência, é prevista nas novas concessões.
O governo estadual hoje tem 126 obras paradas nas áreas de transportes e mobilidade urbana, segundo o TCE (Tribunal de Contas do Estado). Entre elas estão 31 ferrovias e 18 pontes, viadutos e similares.
Quase três décadas após o início da era tucana em São Paulo, o estado vive novos dilemas no transporte. Trens, metrô e ônibus novamente veem queda no número de passageiros, desta vez não pela má qualidade do serviço, mas pela queda nos deslocamentos provocada pela pandemia.
Com a tendência de queda na arrecadação com bilheterias, o financiamento da manutenção de estradas, ônibus, trens e metrôs será um nó que as próximas gerações de governadores terão de desatar.
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade