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Cotidiano

Tomaria um chope com Dino, mas não voto nele para o STF, diz Mourão

Senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão disse que o presidente Lula não deveria indicar o ministro da Justiça, Flávio Dino, ao STF

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 Hamilton Mourão

Hamilton Mourão | MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

O senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS) diz que o presidente Lula (PT) não deveria indicar o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), ao STF (Supremo Tribunal Federal) e que, se isso ocorrer, votará contra.

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"[Quando era do Alto Comando do Exército] votei em gente que eu jamais sentaria para tomar um chope; e deixei de votar em gente que eu tomaria chope e bateria papo a noite inteira. O Dino eu posso convidar para tomar um chope, mas não voto nele."

Em entrevista à Folha, Mourão afirma que o governo hesitou em assinar o decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) que colocou militares para enfrentar a crise na segurança pública do Rio de Janeiro por vergonha do discurso político adotado pelo Palácio do Planalto até então.

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Ele reconhece que o furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra do Exército, em outubro, "foi péssimo" para a imagem das Forças Armadas e diz que as unidades estão sujeitas à ação do crime organizado.


Anistia a réus do 8 de janeiro

Essas pessoas estão sendo julgadas na última instância, não foi obedecido o princípio do juiz natural, as condutas não são individualizadas. Quando você olha o conjunto da obra, tem algumas pessoas que você pode individualizar, quem quebrou, vandalizou. E há as outras pessoas que eram passageiros da agonia nesse filme. Anistia é uma tradição no Brasil. Essas pessoas [do 8 de janeiro] não mataram ninguém, o que fizeram foi dano material. E eu coloco ali no artigo 2º [do projeto] que estou tirando fora [da anistia] os que realmente se envolveram nos atos de vandalismo e depredação.

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Pedidos de intervenção militar no 8 de janeiro

Você pode pedir tudo na vida. Pedir é a liberdade de expressão. Agora, se você pegar um fuzil, granada e sair para a rua, aí é outra coisa. Mas ninguém ali estava armado de fuzil nem de granada, nem de nada.

A conta chegou para as forças armadas?

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Há no segmento mais esclarecido da sociedade, ou pseudo-esclarecido, certo preconceito em relação às Forças Armadas. Minha preocupação sempre foi essa associação: que a oposição que sempre houve em relação ao presidente [Jair Bolsonaro] jogasse essa conta no colo das Forças. Em parte, a preocupação se efetivou. A própria questão da desconfiança do presidente em relação aos comandantes. Não era para ter desconfiança.

Relação das forças armadas e governo Lula

Acho que vem sendo distensionada. Qualquer governo no Brasil vai compreender que as Forças constituem uma reserva estratégica para um sem número de projetos ou como solução para diversos problemas. Desde socorro a calamidades, segurança de eventos e chegando até as raias da questão da segurança pública, que está sendo colocada agora.

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Glo no Rio

Não vai resolver [o problema]. Acho que essa [GLO em portos, aeroportos e fronteiras] foi um planejamento meio de afogadilho. Ah, vou botar a Força Aérea no aeroporto do Galeão, no Santos Dumont, lá em São Paulo; vou botar a Marinha no porto de Santos, no porto do Rio de Janeiro. Sim, e aí? Só vai intensificar um patrulhamento ali durante um período limitado? Nesse período, a turma do narcotráfico vai tomar outras medidas de proteção, sabendo que em maio [a GLO] acaba. Volta tudo como dantes no quartel de Abrantes.

'Governo envergonhado'

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Eu vejo o governo envergonhado. Envergonhado de empregar as Forças Armadas por causa do discurso político dele. Vai chegar o momento que ele vai ter que entender que aquela reserva [Forças Armadas] está ali é para ser usada. Se tem 220 mil homens e mulheres do Exército, 50 mil da Marinha e da Força Aérea, que ele paga religiosamente todo mês, tem que empregá-los.
É uma questão ideológica, apesar de em governos anteriores de Lula e Dilma a GLO ter sido usada. Basta acontecer greve de Polícia Militar em qualquer estado, quem vão acionar? As Forças Armadas.

PEC de militars na política

Os militares não estão na política. Eu peguei o levantamento do número de candidatos que tivemos na eleição do ano passado, [de militares] da ativa. Foram 16 oficiais e 20 sargentos num efetivo de 220 mil. Os militares estão na política com esse número baixíssimo? Na minha visão essa PEC atira em algo que não é para atirar.

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Militares no governo Bolsonaro

Os ministros oriundos do meio militar você conta na mão. O PT bota sindicalista de ministro. Vamos dizer que é um governo de sindicalistas?

Tentativa de Bolsonaro de reverter eleição

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Não participei de reunião nenhuma, então não posso dizer se [Bolsonaro] falou isso ou aquilo. Em relação à famosa história da minuta do golpe Golpe não tem minuta. O camarada pega, dá o golpe e depois a gente vê como é que vai resolver a questão jurídica. Isso não existe. Acho que em nenhum momento passou pela cabeça do presidente [Bolsonaro] essa ideia.
Fica muita especulação. Talvez pela conduta do presidente, que ficou deprimido por ter perdido a eleição, preocupado com a questão dos processos que poderia sofrer a partir dali. Acho que esse foi o clima que se viveu entre final de outubro e dezembro.

Bolsonaro e Walter Braga Netto inelegíveis

Não vejo [como livramento não ter sido vice de novo], até porque se eu fosse o vice, nós tínhamos ganho a eleição [risos]. Vejo com tristeza essa situação, não acho que está correta essa forma como tanto o presidente Bolsonaro como o Braga Netto vêm sendo perseguidos pela questão do 7 de Setembro. É uma forçação de barra isso aí.

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Republicanos no governo PT

Entendi a escolha do deputado Silvio [Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos] como escolha pessoal do presidente [Lula]. O partido obviamente concordou, mas não vejo que tenha abraçado de forma completa o governo. Se tivesse abraçado de forma completa, eu não poderia continuar [no Republicanos]. Por ter sido vice-presidente do Bolsonaro não dá para me colocar nessa posição. Apesar de a minha oposição não ser aquela de ser contra tudo e contra todos. Coisas boas, independentemente de virem do governo ou não, sempre terão meu apoio. .

José Múcio na defesa

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O [ministro] Múcio eu considero um cara extraordinário. É conciliador, sabe ouvir bastante, tem posições muito claras. Foi uma excelente escolha do presidente Lula e está fazendo um excelente trabalho como ministro da Defesa.

Flávio Dino

Fala muito. Inclusive agora ele diminuiu a exposição. Acho que entendeu que estava atravessando uma linha que não era a mais segura para ele.

Indicação ao STF

A prerrogativa do presidente da República é indicar alguém de conduta ilibada e notório saber jurídico. Vamos aguardar se o Dino vai ser indicado. Não sei [se ele pode ser aprovado]. É nosso colega, é senador igual a gente. Não voto porque eu considero que o presidente não deveria indicá-lo. Deveria indicar qualquer outra pessoa, menos ele. Me dou muito bem com ele, mas não voto. Eu fui durante quatro anos membro do Alto Comando do Exército, onde a gente vota para promover os oficiais a general. Votei em gente que eu jamais sentaria para tomar um chope; e deixei de votar em gente que eu tomaria chope e bateria papo a noite inteira. O Dino eu posso convidar para tomar um chope, mas não voto nele [para o Supremo].

Armas furtadas de quartel

É um caso grave. Era material inservível, mas o tráfico poderia comprar alguma peça fora do país para recuperar aquele armamento. Era responsabilidade da unidade ter aquilo sob controle. Então foi péssimo.
Unidades militares estão sujeitas a essa ação do crime organizado. Quem são os soldados que nós temos? É a garotada que vem da periferia. Quem serve ao Exército é a turma preta, pobre, analfabeta, como diria meu amigo Fabiano Contarato [líder do PT no Senado]. Essa é a turma que serve ao Exército, na sua grande maioria, e que sofre a ingerência do tráfico para ações dessa natureza. Esse é um dos problemas que a gente enfrenta. 'Eu vou matar tua irmã, eu vou matar teu pai se tu não me trouxer um fuzil.' Lamentavelmente isso ocorre.

Eu nunca tinha visto algo [furto de armas] dessa magnitude. O último roubo dessa natureza, grande assim, foi quando [Carlos] Lamarca [guerrilheiro que lutou contra a ditadura militar], em 1969, roubou os fuzis.

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