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Cotidiano

Tarcísio inicia transição em SP com desafio de alocar bolsonaristas, tucanos e técnicos

Governador eleito e Rodrigo Garcia devem se reunir na tarde desta quinta no Palácio dos Bandeirantes

Maria Eduarda Guimarães

17/11/2022 às 11:52  atualizado em 17/11/2022 às 12:02

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O governador eleito de SP, Tarcísio de Freitas

O governador eleito de SP, Tarcísio de Freitas | Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deu início nesta quarta-feira (16), após um período de férias, a reuniões internas com sua equipe e o coordenador que indicou para tratar da transição do Governo de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD).

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O processo de transição, raro no estado de São Paulo devido à sequência de gestões do PSDB, só deve tomar corpo após uma primeira reunião entre Tarcísio e o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB) – que está em Nova York para reuniões com investidores e evento do Lide, mas retorna nesta quinta-feira (17).

A expectativa é de que a transição seja amigável, já que Rodrigo apoiou Tarcísio no segundo turno da eleição contra Fernando Haddad (PT), mas sob pressão para alocar aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) e tucanos ligados à atual gestão, além de técnicos que trabalharam na campanha do ex-ministro.

O governador eleito retornou após viajar com a família para Miami (EUA) e tratar de questões pessoais em Brasília, onde vivia até mudar seu domicílio para São José dos Campos (SP) por causa da eleição.

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Tarcísio e Rodrigo devem se reunir na tarde desta quinta no Palácio dos Bandeirantes. Devem estar presentes também os coordenadores da transição: Afif, pelo lado de Tarcísio, e do secretário Marcos Penido, representando o atual governo.

Nas primeiras reuniões, o time de Tarcísio, composto basicamente pelos aliados que o ajudaram no plano de governo, deve buscar com o governo Rodrigo informações sobre o funcionamento de órgãos estaduais e Orçamento para viabilizar mudanças a partir de 1º de janeiro de 2023.

No âmbito da discussão sobre as contas públicas, a equipe deve tratar de um projeto que tramita na Assembleia Legislativa, com o apoio da base de Rodrigo e de Tarcísio, para aumentar o salário do governador, o que tem efeito cascata em outras carreiras do funcionalismo, com impacto estimado pelo estado em R$ 1,5 bilhão.

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Um decreto estadual de 2006, publicado pelo então governador Cláudio Lembo (PFL), estabelece diretrizes para o processo de transição, mas não limita a quantidade de pessoas da equipe.

Além de Afif e do vice-governador eleito Felicio Ramuth (PSD), Tarcísio tem em seu entorno o ex-deputado federal Eleuses Paiva (PSD); Marcelo Branco, ex-secretário municipal de Transportes; o economista Samuel Kinoshita, ex-assessor de Paulo Guedes no Ministério da Economia; e Jorge Luiz de Lima, que também era assessor de Guedes. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, é outro que assessora Tarcísio.

O governador eleito prometeu um secretariado técnico, e a expectativa é a de que nomes desse núcleo duro comandem algumas pastas.

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O entorno de Tarcísio afirma que, embora Bolsonaro não tenha por enquanto cobrado que seu afilhado político abrigue aliados ideológicos na estrutura do governo, nomes ligados ao bolsonarismo, como o deputado federal Capitão Derrite (PL-SP), são cotados. Ricardo Salles (PL) e Mário Frias (PL), por outro lado, têm chances baixas, segundo aliados do governador eleito.

Rodrigo, por sua vez, está familiarizado com a transição, uma vez que foi o coordenador do processo em 2018, na condição de vice-governador eleito de João Doria (PSDB à época), após a vitória no segundo turno sobre o então governador Márcio França (PSB).

Em 21 de novembro de 2018, França nomeou 12 pessoas indicadas por Doria para formar a equipe de transição, incluindo Rodrigo.

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O decreto 51.145 de 2006 estabelece que o governador eleito deve indicar um coordenador da equipe de transição, o que Tarcísio já fez ao incumbir Afif da tarefa. Cabe a Rodrigo, agora, publicar no Diário Oficial a lista dos demais membros da equipe indicada por Afif.

A norma diz que a equipe deve ser integrada por "profissionais e auxiliares" indicados pelo coordenador e também por servidores designados pela Casa Civil.

O decreto ordena que as secretarias e órgãos forneçam informações precisas e em tempo hábil.

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A Casa Civil fica encarregada de fornecer infraestrutura e local de trabalho para a equipe – o decreto sugere o gabinete do governador no edifício Cidade 1, na rua Boa Vista, no centro da capital.

O presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Dimas Ramalho, determinou a criação de uma comissão para acompanhar os trabalhos da equipe de transição. O grupo, chefiado por Ramalho, terá seis profissionais da corte de contas paulista.

Diferentemente de transições anteriores, o processo neste ano deve ser mais complexo, uma vez que pela primeira vez o grupo político do PSDB deixará totalmente o comando da máquina paulista. O partido, que venceu eleições seguidas no estado desde 1994, sofreu uma derrota histórica com Rodrigo.

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Atualmente, há mais de 19 mil cargos de confiança ativos. Os principais partidos de sustentação de Tarcísio (Republicanos, PSD e PL) brigam por espaço, além dos nomes ligados a Bolsonaro.

Por outro lado, partidos que já fazem parte da máquina e integraram a coligação de Rodrigo, como PSDB, União Brasil, MDB, PP e Podemos, apoiaram Tarcísio no segundo turno e querem manter seus feudos.

A gestão Rodrigo tem 28 pastas (incluindo secretarias extraordinárias e a Procuradoria-Geral do Estado). Tarcísio pretende manter o número de secretarias próximo a isso, mas terá que mexer no desenho institucional, já que se comprometeu a criar uma pasta para Mulheres, por exemplo, para a qual a deputada federal Rosana Valle (PL-SP) é cotada.

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O desafio de Tarcísio será compor um secretariado próximo dele, com nomes técnicos e de confiança, além de abrigar aliados. Algumas siglas podem ser contempladas a partir de acertos que não envolvam só cargos – como um apoio ao PL no comando da Assembleia Legislativa e ao prefeito da capital, Ricardo Nunes, do MDB, em sua reeleição.

Influente no governo estadual, o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), aliado de primeira hora de Rodrigo, quer manter a pasta de Logística e Transportes sob seu domínio, mas deve ser desalojado por Tarcísio.

A orientação é dar uma nova cara ao governo, indicando uma ruptura com a gestão PSDB, mas tentando minimizar conflitos e sem desprezar os aliados de Rodrigo – que sairão do cerne da estrutura governamental para serem alocados a uma distância segura.

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Além de Rodrigo e Tarcísio, São Paulo teve poucas experiências de transição para grupos políticos distintos. Houve França e Doria, que, apesar de rivais, eram ambos ligados à estrutura do PSDB, já que França assumiu por ser vice de Geraldo Alckmin, na época tucano. E houve Luiz Antônio Fleury (MDB) e Mário Covas (PSDB) em 1994.

Desde que as eleições diretas para o governo do estado foram retomadas, em 1982, três emedebistas se elegeram, em governos de continuidade: Franco Montoro, Orestes Quércia e Fleury. Depois uma sequência de tucanos: Covas, Alckmin e José Serra.

Em 2006, Lembo, que era vice de Alckmin, editou o decreto da transição quando passou o poder para Serra, mantendo o Bandeirantes com o mesmo grupo, o que também ocorreu em 2010, quando o tucano Alberto Goldman fez a transição para Alckmin. Nas duas ocasiões, um almoço entre os governadores e os eleitos deu início à transição e houve coordenadores nomeados em ambos os lados.

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TRANSIÇÃO RODRIGO - TARCÍSIO

COORDENADORES

Tarcísio - Guilherme Afif Domingos (PSD), ex-vice governador
Rodrigo - Marcos Penido, secretário de governo

DECRETO 51.145 DE 2006

Estabelece as diretrizes da transição em SP
Equipe deve ser formada por membros que representem o atual governador e o eleito, sem limite de vagas
Governador eleito indica o coordenador do time (que será Afif)
Equipe terá profissionais e auxiliares, além de servidores
Equipe deve buscar informações sobre órgãos, programas e contas públicas
Governo deve prestar informações precisas e em tempo hábil
Reuniões devem ser registradas em atas e podem ter a participação de especialistas nos temas em discussão
Casa Civil deve fornecer estrutura e local de trabalho para a equipe de transição

TRANSIÇÕES ANTERIORES ENTRE PARTIDOS DIFERENTES

Márcio França (PSB) e João Doria (PSDB) - 2018
Cláudio Lembo (PFL) e José Serra (PSDB) - 2006
Luiz Antônio Fleury (MDB) e Mário Covas (PSDB) - 1994

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