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Cotidiano
Aos 47 anos, o novo governador paulista passa a comandar o estado mais rico do país com boa situação financeira e base política formada
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Tarcísio de Freitas e Felicio Ramuth | Reprodução/Facebook
Há pouco mais de um ano, a ambição de Tarcísio de Freitas (Republicanos), então ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro (PL), era disputar o senado por Goiás. Neste domingo (1º) ele assume o Palácio dos Bandeirantes, de onde despejou o PSDB depois de 28 anos de hegemonia em São Paulo.
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Aos 47 anos, o novo governador paulista passa a comandar o estado mais rico do país com boa situação financeira e base política formada.
Porém terá tarefas complexas, a começar pelo equilíbrio entre o bolsonarismo e os outros grupos do governo. Também vai enfrentar desafios para cumprir sua plataforma de privatizações, com destaque para a Sabesp.
Exaltando a técnica em detrimento da política, Tarcísio foi eleito com a promessa de entregar projetos inacabados do PSDB no estado, como o Trem Intercidades, novas linhas de metrô e o Rodoanel, que envolvem uma série de entraves.
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Vinculado a três padrinhos políticos de peso, Bolsonaro, Gilberto Kassab (PSD) e Paulo Guedes, ele ocupa uma vitrine natural para as eleições de 2026, mas depende de construir relações com deputados e prefeitos, aliados e opositores, para manter-se no jogo.
Contrariando bolsonaristas, escolheu Kassab, conhecido pela habilidade na articulação, como secretário de Governo.
A cerimônia de posse acontece a partir das 9h, na Assembleia Legislativa de São Paulo, e deve terminar às 10h30, quando Tarcísio vai ao Palácio dos Bandeirantes para a segunda etapa da solenidade, com a posse do secretariado.
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O governador Rodrigo Garcia (PSDB) tem destacado que deixará as contas em ordem e caixa recorde para investimentos, mas a equipe de transição, por outro lado, diz ter identificado uma série de problemas que vão de leitos desativados à falta de professores.
No início da gestão, a expectativa de Tarcísio é avançar em temas que são vidraças do PSDB.
Em evento neste mês, ele anunciou o leilão do Rodoanel Norte, obra emperrada, para março, e o edital do Trem Intercidades, que ligará São Paulo a Campinas, para o primeiro semestre. Ambos os projetos já eram tocados pelo governo Rodrigo.
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A ascensão de Tarcísio reorganizou a política paulista ao desbancar a hegemonia do PSDB e consolidar a polarização entre a direita bolsonarista e a esquerda.
Aliados afirmam que o governador eleito terá maioria consolidada na Assembleia, onde sua tarefa mais árdua será aprovar a venda das estatais, a começar pela Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia).
De acordo com o vice-governador eleito, Felicio Ramuth (PSD), as áreas que terão atenção prioritária no início do governo são a social e de habitação, além de gargalos na saúde e educação.
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Em relação ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Tarcísio já afirmou que há abertura para o diálogo. Kassab, que tem boa relação com o petista, será a ponte.
Os novos governo federal e estadual, porém, já estão em desacordo a respeito da privatização do Porto de Santos, defendida pelo governador eleito.
Na transição, ele manteve a postura ambígua em relação à direita radical que marcou sua campanha. Por um lado, agradeceu a Bolsonaro ao ser diplomado no último dia 19, mas preteriu bolsonaristas na formação de seu governo e no apoio para o comando da Assembleia, que deve ficar com André do Prado (PL).
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Tarcísio terá que mostrar habilidade para seguir um caminho próprio sem desagradar a base bolsonarista que o elegeu. O entorno do novo governador diz não acreditar que o ex-presidente terá ascensão sobre o afilhado.
O grosso do secretariado de Tarcísio não saiu de indicações de partidos, embora a coligação que o elegeu (Republicanos, PSD e PL) esteja contemplada. A maior parte é composta de nomes que trabalharam com Tarcísio no Ministério da Infraestrutura, com Guedes no Ministério da Economia ou são próximos a Kassab.
Ainda assim, o governador pagou pedágio para sua base fiel ao escalar dois bolsonaristas para postos-chave no futuro governo -o deputado federal Capitão Derrite (PL-SP) à frente da Segurança Pública e a vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos) no comando da pasta Políticas para Mulheres.
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Sonaira é comparada à senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF). Ela já propôs projetos contrários à obrigatoriedade de máscaras e à vacina, às cotas raciais e à participação de transgêneros em disputas esportivas. A vereadora já se referiu ao feminismo como "ideologia imunda".
Derrite também tem histórico polêmico. Em um áudio, revelado pelo portal Ponte em 2015, teria dito que "o camarada trabalhar cinco anos na rua e não ter três ocorrências [morte de suspeito]" é "vergonhoso".
Estará sob o guarda-chuva da segurança a avaliação sobre as câmeras nas fardas dos policiais, que Tarcísio já criticou e prometeu rever mesmo após o sucesso da medida em reduzir mortes tanto de suspeitos quanto de policiais.
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Apesar de auxiliares de Tarcísio minimizarem os impasses, ambos os secretários podem trazer desgaste para ele, que busca se firmar com uma versão mais moderada e agregadora do bolsonarismo.
Os tucanos, que deram apoio a Tarcísio no segundo turno, sobretudo por meio da adesão incondicional de Rodrigo, ficaram de fora do primeiro escalão, assim como a União Brasil.
Ao desalojar o PSDB da máquina do governo, Tarcísio buscou seguir o que prometeu na campanha, quando falou em "uma linha de mudança, preservando o bom legado".
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Apesar da agenda de atração de investimento privado e controle de gastos semelhante à dos tucanos, o novo governador tentará buscar uma marca sua.
De acordo com interlocutores de Tarcísio, a diferença em relação aos antecessores está na experiência de sua equipe na execução de concessões e obras de infraestrutura, o que trará entregas e construirá uma agenda positiva. Além disso, a nova gestão tem a meta de digitalizar todos os serviços.
De início, Tarcísio terá que analisar um pacote de 79 leis aprovadas na Assembleia para decidir se veta ou se sanciona os textos, o que pode causar desgaste com os deputados autores dos dispositivos. A análise será técnica, dizem aliados, e não haverá constrangimento em vetar o que for considerado prejudicial.
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Uma medida que deve ser vetada, por exemplo, é a que diminui o imposto sobre doações e heranças, o que reduziria a arrecadação do estado em R$ 4 bilhões. A proposta é do bolsonarista Frederico D'Ávila (PL), que integrou a transição.
Há ainda uma lei escrita por Janaina Paschoal (PRTB) e outros deputados, que proíbe a exigência de cartão de vacinação contra a Covid para acesso a qualquer local no estado
Aliados de Tarcísio se preocupam com os primeiros meses na Alesp, uma vez que 39 deputados não foram reeleitos e dificilmente se engajarão nas votações. A partir de março, quando a nova legislatura assume, a formação de uma ampla base de apoio é vista como provável.
Para o deputado Gilmaci Santos (Republicanos), as privatizações, uma das principais bandeiras de Tarcísio, devem ser o grande desafio na Alesp.
"Acho que o maior desafio será a privatização da Sabesp, se ele [Tarcísio] continuar com a ideia de privatização, porque vai fazer um estudo, ver os prós e contras. Teremos também outras privatizações", diz.
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