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Cotidiano

SP: acesso à internet no Itaim Bibi é 58 vezes superior ao do Jardim Helena

Bairros mais pobres e populosos enfrentam limitações de conectividade que impactam em áreas como educação e economia local

05/12/2022 às 13:33  atualizado em 06/12/2022 às 09:04

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Dificuldades para acompanhar aulas online durante a pandemia representam um dos claros problemas causados por falta de acesso à internet

Dificuldades para acompanhar aulas online durante a pandemia representam um dos claros problemas causados por falta de acesso à internet | Jorge Araujo/Folhapress

A cidade de São Paulo é detentora de um dos índices de conectividade mais desiguais do Estado. Enquanto no bairro do Itaim Bibi, região nobre da cidade, a distribuição de internet móvel chega a 50,90 antenas por 10 mil habitantes, no Jardim Helena, bairro populoso da zona leste, essa taxa fica em apenas 0,88. Os dados são do Mapa da Desigualdade de 2022.

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“Muitos de nós não temos acesso à internet de qualquer forma aqui, tanto que para agendar serviços públicos básicos é necessário a ir a uma lan house ou papelaria. Alguns estudantes do bairro abandonaram a escola durante a pandemia, pois não tinham acesso algum à internet”, relata Aline Alves da Silva, de 35 anos, moradora do Jardim Helena ao portal R7.

O levantamento revela que existe uma expressiva exclusão digital nos distritos mais pobres e populosos da capital paulista, conforme dados da Rede Nossa SP.

“Nesses bairros, como são muito populosos, são milhões de pessoas que acabam excluídas”, aponta Igor Pantoja, pesquisador da Nossa SP. São os casos de Grajaú, Cidade Tiradentes, Itaquera, Jardim Ângela, São Miguel, Itaim Paulista e Sapopemba, por exemplo.

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A ONU (Organização das Nações Unidas) considera o acesso à internet um direito humano fundamental, uma vez que  propicia o alcance de serviços essenciais como educação, auxílios governamentais e participação política. O mesmo princípio foi reconhecido por Bruno Covas enquanto foi prefeito da cidade.

“O próprio Poder Judiciário já reconheceu em decisões que não era possível avançar com alguns processos participativos de políticas públicas [pela internet], porque as pessoas não têm acesso, principalmente a população mais pobre”, adiciona Pantoja.

Segundo Julian Portillo, engenheiro de telecomunicações e pesquisador na área, a diferença entre os cenários de acesso à internet em bairros pobres e ricos se dá pela falta de interesse comercial das operadoras na instalação de antenas em áreas menos favorecidas.

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“A distribuição de antenas [ou a disponibilidade de acesso à rede móvel] está ligada diretamente ao investimento das operadoras. Normalmente, as regiões de poder aquisitivo menor possuem uma tendência maior de haver baixa cobertura de sinal de telefonia móvel. Dentro da cidade de São Paulo, há muita discrepância entre a cobertura de sinais 3G, 4G e, agora, o 5G”, diz o especialista.

O engenheiro destaca ainda que, devido ao maior investimento demandado pela nova tecnologia, somente as regiões de maior poder aquisitivo possuem cobertura de 5G por enquanto, o que já ocorria com o 3G e o 4G. “Não é para menos que há frequentemente tantas reclamações de usuários devido à baixa cobertura, sinal ruim ou até mesmo a ausência dele”, completa.

Exclusão afeta desde a educação até a economia das famílias

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A falta de acesso à internet ou limitação de navegação nesta rede pode trazer consequências para a área de educação e economia no cotidiano de famílias pobres.

Durante a pandemia, escolas tiveram de interromper as aulas presenciais e passaram a oferecer o chamado ensino à distância. Neste cenário, muitos alunos acabaram tendo sua vida escolar prejudicada por falta de conectividade.

“Temos um processo de reação em cadeia que parte da exclusão digital para o aprofundamento dos abismos educacionais, que são marca constituiva da educação brasileira”, pondera Caio Callegari, coordenador de pesquisa e inovação do Instituto Unibanco.

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“Portanto, temos ampliado as desigualdades educacionais. Precisamos agora reverter isso com medidas de equidade, focadas nesses estudantes que tiveram o direito à educação apequenado”, prossegue.

No Jardim Helena, a conectividade é péssima, e o sinal cai com frequência, segundo Aline.

“Os problemas de conexão trouxeram muitos prejuízos, pela dificuldade de acesso a serviços e lives de educação”, comenta a técnica em informática, que lembra que a conexão se torna ainda pior nos fins de semana: “Aí é quase impossível usar os serviços”.

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Caio Callegari diz ainda que que o processo de exclusão digital não se limita às casas em locais mais pobres, mas também nas escolas.

“Quando observamos dados de acesso, velocidade e estabilidade das redes, vemos um padrão de desigualdades que afeta também as escolas nas regiões mais vulneráveis, como as rurais e as que estão nos entornos dos grandes centros. Não afeta só as crianças, mas os educadores, que têm menos tempo disponível para buscar informações que tornem as aulas mais atrativas”, argumenta.

Além do impacto na educação, a falta de acesso à rede impediu que muitas famílias enfrentassem dificuldade na obtenção do auxílio emergencial, recorda Igor Pantoja.

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“No auxílio emergencial, o processo era feito online, pelo celular. Então, todo mundo que precisa do auxílio precisa do acesso à internet. E aí se vê a gravidade, porque é justamente essa população que precisa do acesso que tem dificuldade maior com a internet”, diz.

Aline diz conhecer pessoas que enfrentaram esse problema: “Minha vizinha, por exemplo, trabalha em home office, e, sempre que a energia cai, é obrigada a procurar a família que reside em outra região”.

O que diz a Prefeitura

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Sobre os problemas de limitação de conectividade que ocorrem nos bairros mais vulneráveis socialmente, a gestão Ricardo Nunes (MDB) afirmou que busca reduzir a desigualdade no acesso à internet, e disse que instalará 12 mil pontos de Wi-fi grátis na capital paulista em 2023, e outros 40 mil até 2024. Até o momento, 1.100 foram instalados.

A respeito da tecnologia 5G, executada pelas operadoras, a prefeitura destaca a Lei das Antenas (nº 17.733/2022), que estabelece critério para a instalação de antenas. “O objetivo é simplificar o licenciamento desses equipamentos e expandir o sinal de internet no município, especialmente nas regiões mais periféricas”, escreve a gestão, em nota.

O foco, segundo a administração, será nas chamadas áreas prioritárias, ou “áreas de sombra”, locais sem ou com pouco sinal de internet e telefonia móveis em distritos de periferia.

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Essas áreas serão as seguintes, destacou a prefeitura:

a) Região Sul: Jardim Ângela, Jardim São Luiz, Cidade Dutra, Pedreira, Grajaú, Marsilac, Parelheiros, Santo Amaro e Socorro. 
b) Região Norte: Anhanguera, Perus, Jaraguá, Brasilândia, Pirituba, Cachoerinha, Tremembé e Mandaqui. 
c) Região Leste: Jardim Helena, Lajeado, Guaianases, José Bonifácio, Cidade Tiradentes, Parque do Carmo, Iguatemi, São Rafael, Sapopemba, Itaquera e Ermelino Matarazzo.

A Reportagem do portal R7 procurou também a Sinditelebrasil, o sindicato responsável pelo trabalho das operadoras de telefonia no Brasil, para obter um posicionamento sobre a instalação de antenas em regiões mais pobres, mas, segundo o portal, não houve resposta.

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