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Cotidiano
A presença de membros do PSOL e do PC do B no comando da paralisação desta terça-feira (3) impulsionou a tática de Nunes de carimbar o selo de radical e baderneiro no adversário
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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) | Wilson Dias/Agência Brasil
A greve dos transportes e da Sabesp em São Paulo evidenciou estratégias dos principais candidatos na disputa pela Prefeitura de São Paulo, com Ricardo Nunes (MDB) associando o movimento ao PSOL do rival Guilherme Boulos e Tabata Amaral (PSB) evitando o debate por considerá-lo polarizado.
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A presença de membros do PSOL e do PC do B no comando da paralisação desta terça-feira (3) impulsionou a tática de Nunes de carimbar o selo de radical e baderneiro no adversário. O tom foi adotado em dobradinha com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem está próximo.
Boulos, que busca desfazer a pecha e moderar sua imagem, defendeu a greve contra a privatização de empresas públicas e disse que prefeito e governador partidarizaram o debate para desviar o foco. O líder nas pesquisas explora a vinculação dos oponentes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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Em meio a provocações e acusações, Tabata ficou em silêncio nas redes sociais. Na avaliação da equipe da deputada, a discussão se deu em termos rasos e ainda não era hora de se manifestar. Em entrevista à CNN Brasil nesta quarta (4), contudo, ela afirmou não ter receio de se posicionar.
Quem deu a senha para o discurso eleitoral foi Tarcísio, que na noite de segunda-feira (2) e na manhã de terça afirmou que a paralisação foi sequestrada por interesses políticos e ideológicos.
"Tem uma motivação política por trás. Ano que vem é ano de eleição municipal. Está muito claro qual é a motivação do sindicato, corporativa e política", disse em entrevista à imprensa.
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Nunes foi a público lembrar que a presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, é filiada ao PSOL e cobrou responsabilização dos mentores do movimento. Adotou ainda uma retórica para contrapor os paulistanos à iniciativa, ressaltando os transtornos para o cidadão.
"Lamentamos que nossa população seja prejudicada por uma greve ideológica, apoiada por partidos como o PSOL", publicou o prefeito em rede social.
"São Paulo de gente trabalhadora jamais será terra de baderna e quebradeira", acrescentou, com dois termos que busca colar em Boulos por sua militância no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
Nunes também chamou o PSOL de "o partido do caos".
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"Vale tudo para colocar em prática o radicalismo, até prejudicar milhões de trabalhadores que foram vítimas com a greve. E não para por aí. O radicalismo inclusive descumpriu decisão judicial que determinou a manutenção das linhas nos horários de pico e não cumpriram", disse.
O alinhamento entre Tarcísio e Nunes beneficia o prefeito, que busca o apoio do governador para atrair também o campo bolsonarista mas sem o ônus da rejeição que a ligação direta com Bolsonaro provoca.
Segundo o Datafolha, 68% dos eleitores na cidade não votariam em alguém indicado pelo ex-presidente.
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Como resposta, Boulos e deputados do PSOL denunciaram problemas nas linhas privatizadas de metrô e trem, reforçando a versão de que a população é contrária às concessões desejadas por Tarcísio.
O deputado, apoiado pelo presidente Lula (PT), disse que o governo estadual foi o responsável pela greve por apostar na intransigência e no conflito, recusando diálogo com os trabalhadores.
O entorno do candidato, nos bastidores, criticou a partidarização e reafirmou que o comando grevista é independente do partido, dizendo ser absurda a ideia de responsabilizar Boulos pela mobilização.
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Para auxiliares, o potencial de desgaste é pontual e não terá efeitos prolongados. A estratégia de ligar Nunes a Bolsonaro será mantida. Em se tratando da greve, a ideia é falar que os radicais, na verdade, foram os dois governantes locais, ao lançarem mão de diversionismo para confundir os paulistanos.
O deputado foi aconselhado a ser cauteloso no embate direto ao longo da terça. Por meio da assessoria, divulgou uma nota em que afirmou ser "lamentável que o governador queira fugir de sua responsabilidade ao atribuir aos outros um problema gerado por ele mesmo e ao tentar partidarizar o debate".
"Pior ainda é ver um prefeito que abandonou a cidade querer fazer disso (a paralisação) palanque eleitoral", completou no texto. Boulos tem tentado mostrar que sua atuação na Câmara dos Deputados passa longe de radicalismos, em esforço para mostrar capacidade de composição com outros setores.
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No entorno de Nunes, a avaliação é a de que a esquerda errou em não deixar clara a motivação e a razoabilidade da greve, o que gerou um desgaste desnecessário para Boulos, favorecendo o prefeito. Na opinião deles, caiu na conta do psolista o sofrimento da população.
Outro ponto comemorado foi a demonstração de sintonia entre Tarcísio e Nunes. Para aliados do prefeito, ter o apoio do governador no pleito é fundamental. Auxiliares de ambos afirmam que não houve discurso combinado e o alinhamento na retórica foi natural.
Já em relação à crítica de parte do PL bolsonarista, de que o discurso de Nunes poderia ter sido mais incisivo contra a esquerda, aliados do prefeito discordam. Eles argumentam que era Tarcísio o alvo principal da pauta antiprivatização e, portanto, o foco de Nunes deveria estar em minimizar os prejuízos para os usuários do transporte.
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No caso de Tabata, a ausência do debate contrastou com a estratégia até então em curso, de não poupar críticas simultâneas a Nunes e Boulos, como fez em entrevista à Folha no mês passado. A avaliação era a de que a deputada deveria entrar nos embates ou seria ignorada pelos adversários.
A pessebista disse à CNN que um tuíte seu "não mudaria nada" e que prefere se envolver quando é para agregar algo, "não para ganhar like". A única opinião foi sobre a greve em si, que qualificou como um tiro no pé, falando em banalização de um instrumento legítimo por "motivos politiqueiros".
Entusiastas da candidatura de Tabata afirmam que é apenas o começo do processo eleitoral e que seus movimentos devem ser ajustados ao longo dos próximos meses.
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Amanda Vettorazzo, membro do MBL (Movimento Brasil Livre) e uma das coordenadoras da pré-campanha de Kim Kataguiri (União Brasil), alfinetou o silêncio da adversária. "Dia de caos e desordem em São Paulo e não ouvimos um pio da Tabata Amaral", postou a suplente de deputada estadual.
Kim, que lançou seu nome e busca ser referendado por seu partido, elevou os ataques a Boulos por ocasião da greve, suspendendo momentaneamente as críticas a Nunes para centrar fogo no psolista. O deputado federal e líder do MBL chamou a greve de ilegal e reiterou o apoio às privatizações.
Ele também atacou o movimento grevista, relacionando-o ao PSOL, e, na mesma linha de Nunes, buscou se colocar ao lado de Tarcísio, a quem elogiou. Nas redes, Kim disse que o governador "mandou a real sobre o que e quem está por trás da greve" e apontou interesses políticos.
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"Imagina se São Paulo cai na mão dessa gente", afirmou, em alusão a Boulos e ao PSOL.
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