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Cotidiano

São Paulo investe milhões em arborização, mas apenas 11,7% das ruas têm árvores

Estudo mostrou que concentração de poluentes no ar que os paulistanos respiram ficou acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em todos os primeiros 22 anos deste século

Nilson Regalado

29/09/2024 às 07:00

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Reflexo da falta de árvores é a alta constante no nível de poluentes na Capital

Reflexo da falta de árvores é a alta constante no nível de poluentes na Capital | Edson Nagase/Pexels

No ano em que São Paulo ostentou o título de cidade com o ar mais poluído do mundo, a Prefeitura plantou 31.246 mudas de árvores em ruas, praças e parques da Cidade. Em 2023, a Administração Municipal pôs 61.680 árvores na terra.

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Dados oficiais da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente apontam que o município já investiu R$ 16,8 milhões na arborização em 2023 e 2024. Mas, toda verba (e energia) investida ao longo dos últimos anos pouco mudou no cenário urbano.

Números oficiais da Prefeitura apontam que São Paulo tem 11,7% de suas ruas arborizadas, dado que contrasta com outras capitais, como Curitiba, onde o índice de arborização viária é de 76,1%, e Porto Alegre, com um número que chega a 82,7%.

O último levantamento feito pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente aponta que a Capital tinha 650 mil árvores. Realizado em 2017, o censo deverá ser revisto até o final de 2024.

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Segundo a Administração Municipal, 54% do território da Capital é coberto por vegetação. Nesse sentido, terras indígenas em Parelheiros e outras áreas preservadas de Mata Atlântica, também no extremo da Zona Sul, criam a impressão de que toda a cidade está suficientemente arborizada.

“Esses números não refletem adequadamente a relação entre os benefícios das áreas verdes e a poluição do ar, pois a distribuição da vegetação varia consideravelmente em diferentes regiões da cidade. Muitas vezes, áreas com maior arborização nem sempre estão localizadas em zonas de intenso tráfego de veículos, onde os benefícios das árvores seriam mais evidentes”, salienta Ricardo Nakazato, professor de Ciências Biológicas na Universidade Guarulhos (UNG) e doutor em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente.

O reflexo da falta de árvores é a alta constante no nível de poluentes na Capital. Nos últimos três anos a concentração de ozônio na cidade disparou em todas as estações de monitoramento da Cetesb. Além disso, no início deste mês a qualidade do ar em São Paulo ficou por dois dias consecutivos como uma das piores do mundo.

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Pesquisa

Um estudo divulgado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) mostrou que a concentração de poluentes no ar que os paulistanos respiram ficou acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em todos os primeiros 22 anos deste século.

“Nos bairros periféricos e populosos, como Itaim Paulista e São Miguel, além da escassez de árvores, a população pode estar mais exposta aos riscos relacionados à poluição do ar. Isso se deve ao fato de que muitos moradores dependem do transporte público e costumam trabalhar longe de casa, aumentando sua vulnerabilidade e exposição aos poluentes atmosféricos”, detalha o doutor em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente e professor da UNG.

E a nota técnica do IEMA mostrou que, em alguns pontos da cidade, o nível de poluentes verificado no ar foi quatro vezes maior do que o indicado pela OMS. Mesmo no período pandêmico, os poluentes atmosféricos estiveram acima do que a organização considera seguro para a saúde pública.

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“Em contraste, os residentes de áreas mais arborizadas e nobres, como os Jardins e o Morumbi, desfrutam de um ambiente mais saudável e com acesso a serviços de saúde caros, eficientes e voltados à prevenção. Esses bairros, são caracterizados por uma menor densidade populacional e mais arborizados, criando um ciclo positivo que beneficia a saúde de seus moradores”, compara Nakazato.

Impacto

A “Campanha Permanente de Incentivo à Arborização” é uma política pública proposta pelo então vereador Jooji Hato (1948/2019), em 1996, e sancionada pelo prefeito Paulo Maluf. O plantio é feito pela Divisão de Arborização Urbana, ligada à Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.

“É crucial priorizar a preservação das áreas verdes que ainda existem, especialmente nas proximidades do Parque da Cantareira, Parelheiros e Parque do Carmo, que enfrentam o impacto do crescimento populacional desordenado”, resume Nakazato.

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“Além disso, São Paulo apresenta desafios significativos para a criação de novas áreas verdes com poucos locais disponíveis para a criação de parques. Também não adianta criar novas áreas verdes se as que já existem estão sendo desmatadas”, conclui o professor.

Segundo a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, de janeiro de 2021 a agosto de 2024, foram plantadas mais de 223 mil árvores na Capital.

“Não podemos ver as árvores como uma solução única para a redução da poluição. É fundamental implementar políticas públicas eficazes que reduzam o número de veículos nas ruas e melhorem o transporte público”, diz o doutor em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente.

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Além disso, explica que as queimadas devem ser combatidas, pois o material particulado e outros poluentes podem ser dispersados por longas distâncias, agravando a situação de áreas que normalmente já são poluídas. Tanto que queimadas no Brasil geram fumaça visível a 1,5 milhões de quilômetros da Terra.

Essas medidas não apenas contribuirão para a qualidade do ar, mas também terão um impacto significativo na vida das pessoas mais afetadas pela poluição.

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