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Cotidiano

Sabesp quer automatizar saneamento em todo o estado de SP até 2030

Morungaba foi escolhida para sediar o projeto-piloto por já ter toda a população atendida com fornecimento de água e coleta de esgoto

Leonardo Sandre

18/09/2023 às 16:28  atualizado em 18/09/2023 às 17:35

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Estação da Sabesp na região metropolitana de São Paulo

Estação da Sabesp na região metropolitana de São Paulo | Divulgação

A Sabesp está prestes a concluir um projeto-piloto que vai servir de referência para a virada tecnológica que pretende fazer em toda sua operação. Até 2030, a companhia quer automatizar todo o ciclo de saneamento nos 375 municípios onde atua, e modelo a ser seguido vem de Morungaba, que fica a 100 quilômetros da capital paulista.

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Em 2021, a cidade de pouco mais de 13 mil habitantes começou a implementar um sistema que une inteligência artificial e internet das coisas (termo que se refere a objetos que são conectados e capazes de trocar informações). Com isso, processos que antes eram manuais passaram a ser automatizados e, hoje, quase toda a operação já é feita remotamente.

"Em 2024, Morungaba será o primeiro município que a Sabesp vai chegar a 100% de automação", diz Roberval Tavares de Souza, diretor de operações da companhia.

O ciclo de saneamento básico costuma contemplar as seguintes etapas: primeiro, a água é captada de um rio e levada a uma ETA (Estação de Tratamento de Água), que faz o processo de filtragem e adequação aos parâmetros exigidos para consumo humano.

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Em seguida, a água é bombeada até os reservatórios. De lá, saem os sistemas de distribuição, que atendem as casas, comércios e imóveis da cidade. Após o consumo, a água vira esgoto e, através do sistema de coleta, é encaminhado a uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) para ser devolvido ao meio-ambiente.

Hoje em dia, boa parte das etapas desse ciclo é feita de forma manual. Quando ocorre um vazamento numa linha da Sabesp, por exemplo, é preciso fechar o registro para interromper o problema e fazer o conserto -semelhante ao que acontece em uma casa.

Para isso, um profissional precisa ir até o local com uma ferramenta específica. Mas em Morungaba não. "Estamos transformando a chave de manobra num botão que eu aperto e a válvula fecha", explica Souza.

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Outro exemplo de automação está nas ETAs. Nessas estações de tratamento são analisados diversos parâmetros que interferem na qualidade da água, como cloro, turbidez, PH e flúor.

No processo convencional, a Sabesp precisa manter funcionários trabalhando numa escala de 24 horas para controlar esses indicadores. "Vai [alguém] com um baldinho, coleta a água, leva para o laboratório e faz a análise química. Todos os dias, de hora em hora."

No sistema automatizado é diferente. Em um dia de muita chuva, por exemplo, o parâmetro de turbidez -que indica a quantidade de partículas na água- piora. Os sensores instalados nos equipamentos da estação de tratamento detectam essa mudança e mandam uma ação para a bomba dosadora aumentar o produto que acelera a coagulação e faz essas partículas decantarem.

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No jargão técnico, a operação tecnológica -também chamada de saneamento 4.0- funciona com auxílio de dispositivos de IoT (internet das coisas, em inglês), que fornecem informações sobre as etapas do processo através de sensores. Já a inteligência artificial ajuda na tomada de decisões.

Isso porque os dados coletados são comparados com parâmetros pré-estabelecidos ou com as informações de histórico. Um consumo alto durante a madrugada, por exemplo, foge do padrão e pode indicar um vazamento. Nos casos em que algo sai do normal, o sistema emite alertas.

"Com a automação, a velocidade de decisão é mil vezes mais rápida. Eu consigo mais eficiência operacional e menores custos para a empresa, o que reflete no cliente. Como nossa tarifa é módica, o que eu consigo ganhar de eficiência é transferido aos clientes", diz Souza.

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A automação ainda permite identificar vazamentos internos, na casa do consumidor. Uma das etapas do projeto envolve trocar todos os hidrômetros da cidade por equipamentos capazes de transmitir os dados para o centro de operação.

Dessa forma, o consumo passa a ser verificado em tempo real, evitando fraudes e alertando para eventuais problemas.

Souza diz que, hoje, um vazamento só é descoberto 30 dias depois, quando a Sabesp passa no imóvel no dia da leitura e entrega uma conta com valor mais alto que o normal.

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"Todo o sistema de Morungaba conduz para uma redução de custo na operação muito forte. Além da menor quantidade de operadores necessária, a companhia economiza com a diminuição dos níveis de perdas na rede", afirma. "Eu descubro um vazamento [de forma] online, na hora em que ele tá acontecendo", acrescenta.

De acordo com o diretor, há cerca de dez anos, a Sabesp começou a investir em automação, com o plano de chegar a 100% dos municípios onde opera até 2030.

"Estamos falando de 12 milhões de hidrômetros, 70 mil quilômetros de rede de água e 60 mil quilômetros de rede de esgoto", afirma.

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Segundo Souza, não existe benchmarking para esse projeto, que nasceu dentro da área técnica da Sabesp. "Fora do Brasil, você pode encontrar alguma coisa nos Estados Unidos, França e Alemanha, mas eu não conheço [um sistema] de ponta a ponta como este."

Morungaba foi escolhida para sediar o projeto-piloto por já ter toda a população atendida com fornecimento de água e coleta de esgoto.

Até o momento, já foram investidos R$ 4,8 milhões na iniciativa. Outros R$ 2,7 milhões serão direcionados até a conclusão em 2024.

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Souza explica que um dos benefícios dessa virada tecnológica é o ganho de eficiência, o que ajuda na disputa por mercado.

"Com o marco legal de saneamento, a gente precisa disputar as licitações. Antes, a Sabesp era contratada de forma direta. Para conseguir ganhar outros municípios, é preciso ser mais eficiente, porque agora o ambiente é de disputa."

Raio-X da Sabesp

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Fundação: 1973
Lucro líquido 2022: R$ 3,12 bilhões
Valor de mercado em 2022: R$ 32,9 bilhões
Funcionários: 12.299
Municípios atendidos: 375
População atendida: 28,4 milhões
Concorrentes: Aegea, Iguá, BRK, GS Inima, Águas do Brasil

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