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Cotidiano

Rússia e Ucrânia seguem em negociação enquanto exército russo ocupa Belarus

Moscou busca uma nova lógica de segurança na região antes que a tensão chegue a um conflito

Gustavo Cavalcante

09/02/2022 às 15:39

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Presidente russo Vladimir Putin

Presidente russo Vladimir Putin | Kremlin/Fotos Públicas

Sob a sombra dos mais temidos exercícios militares russos até aqui na crise da Ucrânia, tanto Moscou quanto Kiev deram sinais de abertura para negociações para evitar que a tensão crescente se torne em um conflito aberto.

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A Rússia quer estabelecer uma nova lógica de segurança na região que retire a ameaça de forças da Otan (aliança militar ocidental) perto de suas fronteiras, com uma eventual entrada dos ucranianos no clube de 30 países.

Ela o fez no escopo da crise que vem desde 2014, quando anexou a Crimeia justamente para evitar a absorção de Kiev no arcabouço ocidental ao ver um governo aliado de Vladimir Putin derrubado. Também ajudou rebeldes separatistas pró-Rússia no leste do país, cuja autonomia está no centro da disputa.
"Houve sinais positivos de que a solução para a Ucrânia só pode ser baseada nos Acordos de Minsk. Kiev deveria ter feito isso há muito tempo, assim há sinais positivos e outros, nem tanto", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na manhã desta quarta (9).

Ele se referia à defesa dos acordos, que estabeleceram um cessar-fogo precário mas nunca foram totalmente aceitos pela Ucrânia por ceder controle local aos rebeldes, feita pelo presidente francês Emmanuel Macron, na véspera.

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Ele havia estado na segunda (7) com Putin e no dia seguinte, com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Enquanto Macron manteve a posição contrária da Otan e dos EUA às demandas maiores da Rússia, ele piscou ao aceitar a principal exigência pontual russa -o que, na prática, resolveria seu problema porque a Otan não aceita membros com pendências territoriais tão sérias.

Nesta quarta, o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, bateu no cravo ao dizer que "há a possibilidade real de avanços" e na ferradura, ao negar a ideia do arranjo de Minsk "sob a interpretação russa". Como isso é no mínimo ambíguo, observadores creem que pode haver um caminho a seguir.

Por outro lado, Kuleba evitou polêmicas e disse que "não houve traição" por parte de Macron ao citar o acerto proposto por Putin.

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No lado diplomático, outros movimentos ocorreram. A União Europeia convidou a Rússia para participar de negociações sobre a segurança no continente no âmbito da OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa), ente do qual Moscou já faz parte.

Enquanto isso, os tambores da guerra seguem seu ritmo. A Rússia, que posicionou cerca de 130 mil militares em torno da Ucrânia desde novembro para fazer valer seu ponto nas negociações, iniciou a fase ativa do megaexercício que promove com a Belarus.

Ditadura aliada de Moscou, que durante anos evitou ficar tão sob a influência de Putin, Belarus fica ao norte da Ucrânia -sua fronteira, meros 200 km por rodovia até Kiev. Com a pressão contra o ditador Aleksandr Lukachenko nas ruas, após mais uma eleição para o manter no poder que detém desde 1994, Minsk capitulou politicamente.

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Agora, há no país 30 mil soldados russos, dois batalhões com os avançados sistemas antiáereos S-400 e diversos aviões, incluindo os modernos caças Su-35S, os melhores disponíveis em alguma quantidade na Força Aérea de Putin.

Segundo a Otan, é o maior deslocamento russo no vizinho desde o tempo em que ambos os países faziam parte da União Soviética, o império comunista falecido em 1991. Já a Ucrânia se mantém em estado constante de exercícios pontuais desde o começo da crise, também para efeito de propaganda de prontidão junto aos aliados ocidentais, com fotos divulgadas de tanques e soldados.

O presidente russo, segundo o Kremlin, disse que todos vão embora após os dez dias de exercícios. Pode ser, mas o fato é que será um período de alta tensão na Europa, dado que não é preciso muito para transformar uma simulação em realidade.

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A Rússia diz que não quer invadir a Ucrânia e, de fato, teria muito a arriscar se o fizesse. Operações mais limitadas estão no cardápio, contudo, e a presença de seis navios de assalto anfíbio neste fim de semana em exercícios no mar Negro levantam temores de alguma ação pontual para ligar por terra as áreas pró-russas do leste à Crimeia, por exemplo.

Ainda assim, com toda essa fumaça, parece improvável qualquer movimento por parte de Putin. O russo até aqui se mostrou disposto a exercitar suas forças e mostrar-se pronto para usá-las, o que é diferente de tomar a iniciativa. Mas essa avaliação é baseada em indícios.

Pelo sim, pelo não, as forças americanas na Polônia foram instruídas a preparar a retirada de seus cidadãos no país caso haja conflito. É parte do jogo psicológico que o governo de Joe Biden vem também exercendo, com ameaças de sanções e uma retórica dura contra Putin

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