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Cotidiano
Rosana Reis apresenta rap Inevitável no Curta Santos
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A rapper fez questão de gravar seu trabalho na ocupação Nossa Senhora de Lourdes, no Morro do Itararé | Divulgação
Dar visibilidade à situação de vulnerabilidade que vivem dezenas de famílias que moram em ocupações e palafitas na Baixada Santista é a síntese do rap Inevitável, da cantora Rosana Reis, que está disputando o Curta Santos 2022 - festival de curtas-metragens.
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A rapper fez questão de gravar seu trabalho na ocupação Nossa Senhora de Lourdes, no Morro do Itararé, divisa de Santos com São Vicente, composta por 40 famílias (60 crianças), que brigam na Justiça pela manutenção de suas casas.
Rap é um discurso rítmico com rimas e poesias, que surgiu no final do século 20 entre as comunidades afrodescendentes nos Estados Unidos. É um dos cinco pilares fundamentais da cultura hip hop.
RELAÇÃO.
Em entrevista ao Diário, Rosana, que é psicóloga por formação, disse que construiu o rap há um ano. Ao ser convidada para cantar numa entrega de brinquedos para crianças, conheceu a comunidade e conversou com os moradores que resolveram contar o martírio de viver sob a ameaça de despejo e sem qualquer apoio do poder público.
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"Quando se mora em comunidade, se estabelece vínculos afetivos, inclusive durante a construção da própria casa. Na maioria das vezes, leva-se um ano para construí-la, com muito esforço, com muito trabalho. A casa, por mais humilde que seja, é resultado de seu suor, seu sonho. Aí, resolvi então concluir a letra da música contando a realidade deles", afirma.
INEVITÁVEL.
Sobre o título de sua canção, Rosana diz que inevitável é justamente a situação que a comunidade do Morro do Itararé se encontra. "Como eles poderiam evitar a ocupação? Não existe um programa de habitação regional. Não rola, atualmente, para as pessoas pobres, em vulnerabilidade social. Tem coisas que são inevitáveis por conta do desemprego, da fome, enfim".
Na letra do rap, Rosana cita 'fantasmas sociais' que, para ela, são as pessoas invisíveis perante os governos e a sociedade. "As pessoas passam ao lado de outras em situação de rua e não as veem. Fiz uma música chamada Mundo de Aparências que está diretamente relacionada a essa situação. De pessoas que vivem sorrindo e negando a realidade. Somos tratados como fantasmas sociais", explica.
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IGUAIS.
Em Inevitável, Rosana Reis canta a necessidade das pessoas serem vistas como iguais, com direitos a serviços públicos, à moradia, de ir e vir, saneamento básico, iluminação pública, enfim, tudo que a comunidade do Morro do Itararé reivindica.
"Eles (moradores) querem cidadania, não se importam de pagar uma taxa para obter serviços que todos têm. Ninguém quer ficar em situação de rua. Isso e outras situação me inspiram em cantar músicas de protesto. Espero que eu possa contribuir de alguma forma com a comunidade", afirma.
A artista acredita que ser pobre não deveria significar passar por dificuldades tão grandes em uma região totalmente urbanizada. "A pobreza que uma parte da sociedade faz questão de impor é de miséria. Pessoas vivendo com uma ajuda insuficiente para sobreviver. Não dá para pagar aluguel e comer. Então, chega um momento em que as pessoas não conseguem se manter e, aí, entra a bebida, a droga e tudo que é de ruim, até que a pessoa acaba na rua. As pessoas precisam parar de negar a realidade. Precisamos de políticas públicas. Nossos impostos têm que ser voltados para assistir à população mais vulnerável, sim", finaliza.
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OCUPAÇÕES.
Vale lembrar que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que os tribunais que tratam de casos de reintegração de posse instalem comissões para mediar eventuais despejos antes de qualquer decisão judicial. Conforme o ministro, a medida de transição visa a reduzir os impactos habitacionais e humanitários em casos de desocupação coletiva.
Na região, há alguns exemplos em que a decisão vai interferir. O da ocupação no Morro do Itararé, ameaçada de ser colocada na rua sem nenhum amparo da política habitacional municipal, é uma delas.
Conforme o ministro, tribunais devem instalar, imediatamente, comissões de conflitos fundiários que sirvam de apoio aos juízes. Elas devem realizar também inspeções judiciais e audiências de mediação antes de qualquer decisão para desocupação, mesmo em locais nos quais já haja decisões que determinem despejos. Ministério Público e Defensoria Pública devem participar.
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As remoções também devem ser avisadas previamente e as comunidades afetadas devem ser ouvidas, com prazo razoável para a desocupação e com medidas para resguardo do direito à moradia, proibindo em qualquer situação a separação de integrantes de uma mesma família.
Barroso ressaltou a necessidade de medidas de transição em prol da garantia dos direitos humanos, pois "a execução simultânea de milhares de ordens de desocupação, que envolvem milhares de famílias vulneráveis, geraria o risco de convulsão social", finalizou.
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