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Cotidiano
É a primeira vez que uma meta da guerra iniciada em 24 de fevereiro foi colocada de forma tão objetiva
28/09/2022 às 09:43 atualizado em 28/09/2022 às 10:03
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Novas imposições do líder russo foram anunciadas nesta terça | Fotos públicas
O jogo de saída de Vladimir Putin para a Guerra da Ucrânia ganhou contornos mais definidos nesta quarta-feira (28), quando o Kremlin afirmou que o conflito irá durar "no mínimo até a liberação da República Popular de Donetsk".
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A frase foi do porta-voz Dmitri Peskov, na sua conferência telefônica usual com repórteres que cobrem o dia-a-dia do governo russo. É a primeira vez que uma meta da guerra iniciada em 24 de fevereiro foi colocada de forma tão objetiva.
A autoproclamada república é uma das duas províncias ucranianas que compõe o Donbass, a bacia do rio Don, uma região de maioria russófona que estava parcialmente sob controle de separatistas pró-Kremlin desde a guerra civil que seguiu a anexação da Crimeia por Putin, em 2014.
Seu reconhecimento e o de sua irmã, Lugansk, foi um dos pretextos para a invasão -elas pediram ajuda de Moscou contra Kiev, assim como agora seus dois líderes estão em Moscou para finalizar a anexação formal das áreas à Rússia, numa espécie de fecho de ciclo.
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Denis Pachilian, de Donetsk, e Leonid Psetchnik, de Lugansk, voaram à capital russa após a finalização de referendos nas duas regiões na terça (27). Assim como ocorreu nas áreas sulistas de Kherson e Zaporíjia de forma ainda mais suspeita por tratarem-se de regiões recém-ocupadas, uma maioria quase unânime votou a favor de ingressar na Rússia naquilo que foi descrito como uma farsa em Kiev e no Ocidente.Psetchnik foi ao Telegram pedir a Putin que "considere a questão", mais um passo de um balé coreografado que deve ter o próximo passo com a fala do presidente ao Parlamento na sexta (30). A praça Vermelha, coração de Moscou, amanheceu com telões sendo montados sob cartazes com a frase "Donetsk, Lugansk, Zaporíjia, Kherson - Rússia!", sugerindo um evento para comemorar a anexação.
A fala de Peskov deixa claro que a fronteira que o Kremlin pensa em chamar de sua ainda não está sob seu controle. O problema para Moscou é que, enquanto o controle sobre Lugansk é quase total, assim como nas áreas ao sul, em Donetsk ainda falta algo como 40% do território para tomar. Segundo o Ministério da Defesa, a contraofensiva ucraniana para tentar retomar Liman, cidade estratégica da região, falhou nesta quarta.
Ainda não há relatos independentes disso, mas o fato é que os recentes sucessos militares do governo de Volodimir Zelenski, que reconquistou cerca de 5% de seu território ao capturar de volta a região de Kharkiv no começo do mês, estão estagnados.
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A derrota ali obrigou Putin a mudar sua estratégia na guerra, decretando uma protelada mobilização parcial de pelo menos 300 mil reservistas e acelerando a anexação das partes que já domina da Ucrânia. É uma jogada de risco, pois a guerra até então pintada na TV estatal virou parte da realidade das cidades russas, com protestos e fuga de jovens para países vizinhos.
Ela não deve ter efeito imediato, dado que ao menos dois meses de treinamento são necessários, diz a Defesa, para mandar tropas à frente. Mas abre a perspectiva de um reforço cuja a falta fez Putin fracassar na tentativa inicial de tomar Kiev de assalto e, depois, obrigou o recuo para focar o combate no Donbass e levou à perda de Kharkiv.
Antes da mobilização, o apoio popular a Putin estava em 83%, segundo o instituto independente Levada, e a maioria dos russos achava que as áreas ocupadas deveriam ou ser declaradas autônomas, ou serem absorvidas como entes da Federação Russa.
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Ninguém falou sobre os custos disso, claro, ainda mais em um momento em que a economia russa luta para driblar as sanções impostas pelo Ocidente devido à guerra. A anexação da Crimeia, que se deu sem guerra e com um referendo entre uma população majoritariamente pró-russa, custou centenas de bilhões de dólares ao Kremlin.
Só o subsídio ao orçamento dos dois entes federais da península, a República da Crimeia e a cidade de Sebastopol, custou R$ 7,7 bilhões a Moscou em 2021. E é uma região que tem quase quatro vezes menos moradores do que as áreas ocupadas tinham no pré-guerra.
Isso dito, Peskov colocou politicamente um marco que antes não havia. No dia da invasão, Putin falou em "proteger os povos do Donbass" e prometeu "desmilitarizar e desnazificar" o vizinho.
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Ao longo do tempo, autoridades foram admitindo interesses territoriais: um general falou em unir a Rússia à área separatista russa da Transdnístria (Moldova), anexando toda a costa ucraniana, e o chanceler Serguei Lavrov admitiu que queria ver Zelenski deposto.
Daí a desconfiança óbvia acerca do limite posto pelo porta-voz, que de todo modo não será aceito imediatamente por Kiev e pelo Ocidente, mas aí Putin joga com a crise energética da chegada do inverno e da redução do fornecimento de gás russo ao continente para minar o apoio a Zelenski entre europeus –o que gera as suspeitas acerca do ataque aos gasodutos do mar Báltico na segunda.
Por outro lado, Peskov pode sugerir a exaustão, ainda que momentânea e à espera do efeito da mobilização, da campanha russa. De resto, uma vez consideradas suas, as áreas ocupadas viraram parte da chantagem atômica contra o Ocidente: Putin já lembrou que a doutrina nuclear russa permite o emprego desse tipo de bomba em caso de ataques convencionais que ameacem seu território.
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Isso gerou temores no Ocidente de que o russo possa usar um artefato do tipo, talvez de menor potência, contra tropas ucranianas. Nesta quarta, o chanceler polonês, Zbigniew Rau, disse que a Otan deverá preparar uma "reação devastadora", ainda que não nuclear, se isso ocorrer.
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