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Cotidiano

Putin diz que avião foi abatido por míssil americano na Rússia

Míssil que derrubou um avião de transporte militar com 74 pessoas a bordo em Belgorodo, foi disparado por um sistema antiaéreo americano Patriot

Gabriel Fernandes

31/01/2024 às 19:08

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Putin pediu, assim como a Ucrânia fizera antes, uma investigação internacional sobre o incidente

Putin pediu, assim como a Ucrânia fizera antes, uma investigação internacional sobre o incidente | Fotos públicas

O presidente Vladimir Putin disse nesta quarta-feira (31) que o míssil que derrubou um avião de transporte militar com 74 pessoas a bordo em Belgorodo, no sudoeste da Rússia, foi disparado por um sistema antiaéreo americano Patriot.

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O russo não apresentou as evidências de sua acusação, embora os primeiros relatos das autoridades que investigavam o abate ocorrido há uma semana eram de que fragmentos indicavam que a arma usada era de fabricação ucraniana.

Putin pediu, assim como a Ucrânia fizera antes, uma investigação internacional sobre o incidente —algo inusual para o líder, que sempre desprezou conclusões externas, como no caso do abate de um Boeing-777 sobre a Ucrânia em 2014, atribuído por uma apuração holandesa a separatistas pró-Rússia.

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Há muitas implicações na fala de Putin, que ocorre em meio ao pior momento para os ucranianos na guerra salvo o início da invasão, em fevereiro de 2022.

Isso porque os Estados Unidos e a Otan, clube militar liderado por Washington, sempre condicionaram a entrega de material bélico para Kiev ao compromisso de não empregá-lo contra o território russo. O medo era o de dar um motivo para Putin escalar o conflito, acusando o Ocidente de atacar diretamente a Rússia.

Como Putin presumivelmente não vai querer arriscar começar a Terceira Guerra Mundial agora, até porque está em um momento de vantagem no conflito com o vizinho, é provável que sua fala tenha mirado o ânimo ocidental em apoiar Kiev com mais armamentos.

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A declaração ocorreu um dia depois da divulgação, pela imprensa americana, que o governo Joe Biden autorizou o envio de um novo tipo de artilharia que vai dobrar para 150 km o alcance das armas atuais dos ucranianos. Trata-se da GLSDB (sigla inglesa para "bomba de pequeno diâmetro lançada do solo"), uma arma que adapta guiagem nova a munição antiga, e que, por ser mais barata, pode ser entregue em grande quantidade.

Não está claro, contudo, sob qual rubrica orçamentária virão tais bombas, dado que os EUA anunciaram não ter mais dinheiro novo para fornecer armas à Ucrânia se o Congresso não aprovar um pacote de R$ 300 bilhões proposto por Biden no ano passado e vetado pela oposição republicana.

A acusação de Putin também é feita sob medida para dissuadir a Alemanha de fornecer os mísseis de cruzeiro avançados Taurus que o governo de Volodimir Zelenski vem fazendo lobby para obter. Com capacidade de atingir alvos a 500 km, eles dobrariam o alcance de armas semelhantes que Reino Unido e França deram para a Ucrânia.

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Berlim foi quem forneceu duas baterias Patriot para a Ucrânia, e se comprometeu a repassar mais desses sistemas em um anúncio no ano passado. Ao menos uma delas foi destruída por um míssil hipersônico Kinjal russo no fim do ano passado.

A escassez do vital armamento, o mais sofisticado sistema antiaéreo a serviço da Ucrânia, joga dúvida sobre a afirmação do presidente russo. Parece improvável que Kiev deslocaria sua única bateria remanescente para longe da capital, seu centro nervoso a ser defendido, para atacar alvos dentro da Rússia.

Se quisesse fazer isso, poderia usar o sistema americano-norueguês Nasams ou o alemão Iris-T, que tem em maior quantidade. Ou algum dos remanescentes de seu arsenal antiaéreo soviético, notadamente os lançadores S-300, embora haja relatos de que falta munição para o modelo.

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No abate do grande Il-76, modelo que é a espinha dorsal da aviação de transporte militar russa, morreram 74 pessoas. Dessas, 65 seriam prisioneiros de guerra ucranianos que rumavam para o país vizinho naquele dia —segundo Moscou, eles seriam trocados por detentos russos. Kiev não confirma, mas também não desmente a informação, assim como a autoria do disparo.

Nesta quarta, houve a primeira troca de prisioneiros de guerra desde o incidente, com 195 russos e 207 ucranianos voltando para os seus respectivos países.

Em outro movimento, a Turquia anunciou que Putin irá visitar o país, um membro da Otan, no próximo dia 12. Será a primeira vez desde a invasão que o russo, que mantém tensas, mas próximas relações com o colega Recep Tayyip Erdogan, visitará uma nação nominalmente adversária à sua no contexto da guerra. Os turcos não reconhecem o Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu em 2023 uma ordem de prisão contra Putin por suposta deportação ilegal de crianças ucranianas.

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Politicamente, a pressão fica redobrada sobre Zelenski, que adicionou uma crise militar doméstica à lista de seus problemas —que começam pela inapetência dos EUA e da Europa em renovar o apoio militar ao país depois do fracasso de sua contraofensiva do ano passado e pelo recrudescimento dos ataques aéreos russos neste inverno do Hemisfério Norte.

Na segunda (29), o presidente ucraniano pediu a cabeça do comandante das Forças Armadas, Valeri Zalujni, que declinou da oferta de fazê-lo voluntariamente. Com o ônus da demissão do popular general na mão, Zelenski ainda viu a notícia vazar, e manteve suspense sobre o que irá ocorrer.

Esse relato, feito por diversos políticos ucranianos e confirmado por ao menos um aliado de Zalujni em público, não foi desmentido. O presidente e o general se estranhavam há meses, com declarações contraditórias de lado a lado, e o entorno de Zelenski vê o o militar como uma estrela em ascensão política com pretensões maiores.

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A cisão não passou despercebida em Moscou, onde o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que o caso está sendo monitorado e que ele revelaria "os problemas de Kiev". Segundo a agência de notícias Reuters, o cargo de Zalujni foi oferecido ao chefe do Exército, Oleksandr Sirskii, que o recusou.

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