Projeto de Karatê que já revelou talentos para a seleção brasileira faz rifas para se manter

Um projeto social que oferece aulas gratuitas de Karatê no bairro do Campo Limpo, em São Paulo, e que já revelou talentos para a seleção brasileira, enfrenta uma fase difícil desde que o contrato que tinha com a prefeitura de São Paulo foi encerrado, no início da pandemia. Agora, o "Atletas de Ouro", que reúne as categorias de base do Time Paulista de Karatê, se desdobra entre as aulas para os alunos e a venda de rifas e marmitas para manter os custos operacionais.

A idealizadora do projeto e sensei Deise Carvalho, conta que há mais de uma década batalha para levar educação e esporte aos jovens do Campo Limpo. "Iniciei minha primeira aula no bairro onde nasci e vivo até hoje, o Jardim Umarizal, desde o dia que iniciei as aulas, senti a grande importância de trabalhar com o lado social para crianças, jovens e adultos", lembra a professora.

• São Paulo ganha do Palmeiras no Morumbi e abre boa vantagem na final do Paulistão
• CBF tenta resolver Brasil x Argentina pendente
• Batizada de 'Al Rihla', bola da Copa do Catar promete ser mais rápida

Alunos de destaque nacional e internacional

Nos 13 anos de projeto, histórias de alunos que se destacaram são eternizadas em troféus e medalhas. Victor Andrade, de 21 anos, é um deles. Ele é medalhista mundial escolar, pan americano e multi medalhista estadual e nacional e lembra da importância do treinamento oferecido pelo Aletas de Ouro na sua carreira. 

"Sempre tive bastante dificuldade para custear as despesas das competições, devido apenas meu pai trabalhar e bancar tudo, muitas vezes pagar passagem, inscrição, alimentação e hospedagem era inviável [...] em um projeto social onde minha professora era voluntaria", conta o aluno que entrou no projeto em 2014.

Outra história inspiradora é a de Victoria Alves que começou a praticar Karatê no projeto aos 10 anos e conta que não imaginava que chegaria tão longe. "Em 2019, pude entrar na seleção brasileira de karatê e participar do meu primeiro Pan-Americano! A sensação dessa realização foi indescritível". 

Hoje atuando como atleta profissional, Victoria lembra que o projeto que a revelou para o mundo sempre precisou de apoio e diz que a falta de investimento em esportes é um problema antigo. "Não foi fácil, pois nunca tive muito recursos como materiais, protetores, custos de viagem e inscrição". A aluna lamenta que também não teve "apoio financeiro da prefeitura para competir, mas sempre corremos atrás, vendendo rifas, fazendo feijoadas beneficentes, tudo em prol do esporte".

Prefeitura de SP suspendeu verba ao projeto

O Time Paulista de Karatê, do qual o projeto Atletas de Ouro faz parte, já recebeu apoio da prefeitura no passado. Na época, os professores voluntários recebiam uma ajuda de custo, concedida por meio de um edital lançado em 2015 pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. Porém, a pandemia de Covid-19 levou a administração municipal a suspender o contrato e desde 2020 as aulas continuam acontecendo de forma gratuita para os alunos, mas sem apoio nenhum à professora voluntária.

A sensei Deise conta que enquanto recebia ajuda financeira da prefeitura, conseguia se dedicar integralmente às aulas, mas no momento precisa se limitar a um número menor de turmas. "Hoje temos poucas turmas e mais de 30 alunos em lista de espera, devido eu não ter disponibilidade  de ser voluntária para mais horários e turmas", explica a fundadora.

Além de ter suspendido os recursos destinados ao salário de professores do projeto, a prefeitura de São Paulo também nunca apoiou os alunos com equipamentos básicos para a prática do Karatê. No Centro Esportivo, onde as aulas funcionam, faltam kimonos, faixas, luvas, protetores de boca e outros itens essenciais. Quando surge um campeonato, são os alunos, novamente, que precisam custear os gastos das viagens e também da inscrição.

A professora conta ainda que não sabe se o projeto voltará a ter apoio do governo municipal, pois desde 2020 não tem tido informações sobre a publicação de novos editais de apoio a projetos de artes marciais.

Secretaria não respondeu à Reportagem

No dia 7 de março, a Reportagem da Gazeta tentou contato com a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer perguntando se há previsão para a publicação de novos editais de apoio a projetos como o Atletas de Ouro - criado pela Sensei Deise -, ou a renovação do edital pelo qual a iniciativa já recebeu auxílio. Como não recebeu retorno, a equipe entrou em contato novamente e, por telefone, falou com Anderson Dias, que solicitou o envio de um email, que nunca foi respondido. Passados 23 dias até a publicação desta notícia, a pasta ainda não havia se manifestado.

A Gazeta apurou que não houve publicação de novos editais para o Centro Esportivo no ano de 2022 que contemplasse o Time Paulista de Karatê. A página onde os editais são veiculados não cita a previsão de chamamentos futuros. O site da Secretaria que trata destas publicações pode ser consultado neste link: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/esportes/procedimentos_administrativos/chamamento_publico/index.php?p=323446.

Sobre o Aletas de Ouro

Criado em 2009 pela sensei Deise Carvalho, o projeto Atletas de Ouro do Time Paulista de Karatê oferece, através de trabalho voluntário, aulas de Karatê gratuitas para jovens do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. Atualmente atende cerca de 150 alunos no Centro Esportivo e em uma ONG no bairro de Paraisópolis. Conta com dois professores  e já formou mais de 1 mil alunos com conquistas de destaque nacional e internacional.

Atualmente a iniciativa funciona por meio do apoio de doações. É possível contribuir por meio da conta Pix: [email protected] (Deise Oliveira de Carvalho). Mais informações na página do Instagram: https://www.instagram.com/timepaulistadekarate/