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Cotidiano
Desde o dia em que Cristófaro afirmou 'não lavaram a calçada, é coisa de preto', Milton Leite tem como uma das prioridades cassá-lo
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Milton Leite (DEM) é presidente da Câmara Municipal de São Paulo | Afonso Braga/Rede Câmara
Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Milton Leite (União Brasil) se juntou às centenas de pessoas que, na manhã de quinta-feira (19), pediam a punição do seu colega Camilo Cristófaro (Avante), acusado de racismo.
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A poucas horas do início da sessão da Corregedoria que aprovou a abertura do processo que pode cassar ou afastar temporariamente Cristófaro, Leite subiu em um caminhão de som estacionado em frente à Casa e agitou os manifestantes. "Não vamos admitir em nenhum lugar atitudes racistas."
Desde o dia em que Cristófaro afirmou "não lavaram a calçada, é coisa de preto" em uma sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Aplicativos, o presidente da Câmara, que se declara negro, tem como uma das prioridades cassá-lo.
Ele tem se articulado para isso, se reunindo com os demais parlamentares e depositando confiança na pressão da opinião pública em ano de eleições.
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A ficha com as confusões de Cristófaro é extensa. Ele acumula mais de dez pedidos de investigação na Corregedoria, sendo dois por denúncias de racismo cometidas, respectivamente, em 2018 e 2019.
Isolado na Casa, Cristófaro partiu para um ataque virtual contra o presidente, além de gravar vídeos com aliados e assessores negros para negar que seja racista.
O vereador investigado abastece uma lista de transmissão pelo WhatsApp com reproduções de notícias que veiculam expressões racistas ditas pela apresentadora Ana Maria Braga e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso. Ambos usaram o termo "inveja branca".
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O presidente da Casa já teria exposto o seu desejo, inclusive, ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). Segundo a legenda de um vídeo compartilhado por Cristófaro, Leite disse a Nunes que iria "mandar o Camilo embora". O prefeito balança a cabeça em sinal de aprovação.
O parlamentar do Avante disparou o vídeo em sua lista de transmissão e ao grupo da Câmara, que reúne os 55 parlamentares.
"O presidente da Câmara Municipal se diz o dono da egrégia Casa e da Corregedoria", escreveu Cristófaro. "Pura campanha política para ele e seus filhos, será que ninguém enxerga isso?"
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Leite contra-atacou com áudios aos vereadores paulistanos. "Perco qualquer coisa nesta vida, mas não a dignidade e o respeito diante da minha raça", falou o presidente.
"Não é Vossa Excelência exibindo vídeo ou áudio para quem quer que seja que vai me frustrar ou [me fazer] deixar de trabalhar para cassar o seu mandato, porque Vossa Excelência desrespeitou uma lei vigente neste país."
Filho do presidente da Câmara paulistana, o deputado federal Alexandre Leite (União Brasil) foi quem protocolou uma das quatro denúncias contra Cristofáro à Corregedoria em razão da expressão "coisa de preto".
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O deputado classificou a atitude do parlamentar como indecente, desrespeitosa e criminosa. "Temos de ser enérgicos, contundentes e intolerantes no combate ao racismo e, por isso, recomendamos a cassação do vereador."
As outras três denúncias à Corregedoria foram apresentadas pelas vereadoras Luana Alves (PSOL) e Sonaira Fernandes (Republicanos), que são negras, e por uma moradora de São Paulo.
Na queda de braço, Leite levou o primeiro round ao emplacar a vereadora Elaine Mineiro (PSOL), da bancada coletiva Quilombo Periférico, como a relatora do caso na Corregedoria.
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A Corregedoria é um órgão independente, e a escolha do relator é uma prerrogativa do corregedor-geral, o vereador Gilberto Nascimento Júnior (PSC). Segundo a assessoria de Nascimento Júnior, Leite o consultou somente para saber quem estaria à frente no rodízio para assumir a relatoria do caso de Cristófaro. O corregedor, então, respondeu que seria a vez de Elaine e confirmou que a indicaria.
Outra solicitação do presidente ao corregedor foi a de agilizar o processo, que costuma se estender por meses. Empossada como a relatora na terça (17), Elaine apresentou dois dias depois o seu relatório pedindo a cassação ou a suspensão do mandato. O caso de Cristófaro, inclusive, entrou de última hora na pauta da reunião da Corregedoria na quinta.
Cristófaro chegou a pedir a suspeição de Elaine, mas o órgão recusou.
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Minutos após os vereadores decidirem, por 6 votos a 0, pela abertura do processo que pode levar à cassação, Leite confirmou que a votação no plenário será nesta terça (24).
Conforme o regulamento da Câmara, o relatório de admissibilidade, elaborado por Elaine, precisa ser aprovado por maioria simples (28 dos 55 vereadores).
Caso isso ocorra, Cristófaro será convocado a apresentar a sua defesa.
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A Corregedoria, então, deverá decidir se mantém Elaine para conduzir o relatório que pode sugerir a cassação, a suspensão ou a absolvição do vereador. Dessa vez serão necessários dois terços dos votos da casa, o equivalente a 37 vereadores.
Os únicos parlamentares cassados pelo legislativo paulista foram Vicente Viscome e Maeli Vergniano, ambos em 1999. Viscome foi acusado de ser um dos comandantes da Máfia dos Fiscais, na gestão Celso Pitta (1993-1996), e morreu em novembro de 2021. Já Maeli perdeu o mandato pelo uso indevido de um carro cedido por uma empreiteira que realizava coleta de lixo na cidade.
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