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Cotidiano
Em comum são pacientes que deram entrada em equipamentos da rede municipal de saúde com sintomas de intoxicação e relatos de consumo de K9
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Em maio, foi firmada uma parceria entre município, governo federal e Ciatox para estabelecer um sistema de testagem para casos suspeitos de uso do K9 | Guilherme Cuha/SMTUR
A Prefeitura de São Paulo investiga três mortes suspeitas de terem sido causadas pelo consumo da droga K9. O primeiro óbito ocorreu no início de maio, e os demais nas últimas duas semanas de junho - a Secretaria de Saúde não forneceu mais informações sobre o perfil das vítimas.
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Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), as mortes são investigadas pelo IML (Instituto Médico Legal) e aguardam resultado laboratorial para confirmar a presença da substância.
Em comum são pacientes que deram entrada em equipamentos da rede municipal de saúde com sintomas de intoxicação e relatos de consumo de K9.
Em maio, foi firmada uma parceria entre município, governo federal e Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica, ligado à Unicamp) para estabelecer um sistema de testagem para casos suspeitos de uso do K9.
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Desde o início deste ano, a cidade registrou 464 casos suspeitos de intoxicação por canabinoides sintéticos, termo técnico para K9, que também é chamada de K2 e spice. Ao longo de todo ano passado foram registrados 99 casos. Os números se referem a atendimentos em equipamentos de saúde públicos e privados.
Os dados apontam que a zona leste de São Paulo concentrou a maioria dos registros este ano, com 265 casos (57,1% do total).
A Vila Jacuí, distrito às margens da avenida Jacu-Pêssego e vizinho de São Miguel Paulista, lidera com 108 casos (23,3%). Em seguida, estão Itaquera com 49 casos (10,6%) e Cidade Tiradentes com 23 casos (5%).
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Em comum, esses bairros estão localizados na periferia da capital paulista onde a população de jovens em situação de vulnerabilidade é maior. Nesses locais, uma porção de K9 é vendida por R$ 2,50 a R$ 10.
"Não podemos dizer que não há consumo de K9 em bairros ricos, mas, por ser uma droga barata e de fácil circulação, acaba atraindo os jovens com menor poder aquisitivo", diz Wagner Laguna, psicólogo e assessor técnico da Divisão de Saúde Mental da Coordenadoria de Atenção Básica.
A forma mais consumida do canabinoide sintético na cidade é a que imita um cigarro de maconha em que tabaco ou ervas são borrifados com a substância psicoativa disponibilizada em meio líquido. Por essa semelhança a droga passou a ser comercializada como uma "super maconha", apesar de não ter as mesmas substâncias psicoativas da Cannabis sativa.
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A única semelhança é que os canabinoides sintéticos agem nos mesmos receptores do cérebro que o THC, a substância psicoativa da maconha. Criadas em laboratórios para a fabricação de medicamentos, essas fórmulas circulam como substância proibida no Brasil desde 2014, quando ocorreram as primeiras apreensões em presídios.
Outra explicação para a zona leste figurar como a região da cidade com maior incidência de casos de intoxicação por K9 é a maior frequência de notificações feitas pelos equipamentos de saúde, segundo o técnico em saúde mental da Coordenadoria de Atenção Básica. "As equipes de saúde nas periferias estão mais atentas à droga", diz Laguna.
O motivo, segundo ele, foi a publicação de uma nota técnica em abril que orientou os técnicos atendem o público infantojuvenil na Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do município.
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Assim, o Programa Municipal de Prevenção e Controle das Intoxicações do município começou a monitorar o consumo da droga de forma detalhada há cerca de oito semanas, quando os boletins epidemiológicos passaram a ser publicados. Entre maio e junho, os registros subiram 83,3%.
De acordo com as publicações, o público que mais consome a droga são homens (81,3%) pardos (55,3%) com idade entre 20 e 39 anos (59,6%). A maior parte tem o ensino médio incompleto (27,3%).
O ambiente externo foi o local de uso da droga declarado com mais frequência, 52,2%, entre os usuários que deram entrada em equipamentos municipais de saúde, seguido pela própria casa, 27,8%.
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Entaenda as drogas K
O que são?
É a forma popular como ficaram conhecidos os canabinoides sintéticos, criados para estudos farmacológicos que buscavam entender o sistema endocanabinoide e o próprio mecanismo de ação no cérebro do THC, princípio psicoativo da maconha. Pesquisadores e a indústria farmacêutica buscam análogos sintéticos ao THC desde 1960, principalmente, para desenvolver novos analgésicos.
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Do que são feitas?
No formato mais consumido, é dissolvido em acetona ou etanol é borrifado em ervas para imitar o aspecto de folhas secas de maconha. Além disso, várias outras substâncias, como conservantes e drogas ansiolíticas e estimulantes, podem estar presentes.
Por que não se trata de 'maconha sintética'?
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A maconha é derivada da planta Cannabis sativa que produz os fitocanabinoides, entre eles, o THC e o canabidiol (CBD). As "drogas K" são produzidas a partir de canabinoides sintéticos e atuam nos mesmos receptores que a substância psicoativa THC.
Quais os efeitos?
Usuários relatam estado de torpor imediato e muitos dizem "apagar" após o consumo. Os efeitos já observados no organismo são: psicose, paranoia, alucinação, alteração de humor com irritabilidade, agressividade, desorientação, ansiedade, ataques de pânico, tremores, espasmos musculares e convulsão, transpiração intensa, queimação nos olhos, perda de percepção de tempo, sedação, dor no peito, taquicardia, bradicardia, hipertensão, hiperventilação, dormência e formigamento, náuseas, vômitos, ressecamento da boca, entre outros. Muitos dos sintomas da intoxicação aguda tendem a desaparecer duas horas após o consumo da droga e pouco se sabe ainda sobre os sintomas mais persistentes.
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A droga causa dependência?
Sim, as drogas K podem causar tolerância, sendo necessárias doses cada vez mais elevadas para obter o efeito psicoativo, e, com isso, há aumento de chances de desenvolvimento de dependência.
Fontes: biomédico Eric Barioni e Sociedade Brasileira de Toxicologia
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