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Cotidiano

Porto público tem produtividade 86% maior que cais privatizado de Cubatão

Enquanto margens direita e esquerda têm congestionamento de navios, terminais de uso privado estão ociosos

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O marco regulatório diferenciou a forma de exploração dos terminais

O marco regulatório diferenciou a forma de exploração dos terminais | Divulgação/SPA

A produtividade nas margens direita e esquerda do Porto de Santos foi 86,45% maior que nos dois Terminais de Uso Privado de Cubatão (TUPs) nos onze primeiros meses de 2023. Os dados levam em consideração a quantidade de atracações em cada um dos 54 berços de Santos e do Guarujá, na comparação com os três berços existentes no terminal exclusivo da Usiminas e os outros quatro da VLI Multimodal. Segundo dados oficiais da Autoridade Portuária de Santos (APS), enquanto o porto público registrou 4.617 atracações de 1º de janeiro a 30 de novembro, os dois terminais privatizados de Cubatão receberam 332 navios para carga e descarga em 346 dias.

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Ou seja, o chamado porto organizado contabilizou 1,79 navio atracado, em média, por berço a cada sete dias. Em Cubatão, essa média caiu para 0,96 embarcação por berço a cada semana. Enquanto os terminais privatizados permanecem ociosos, os atrasos se sucedem no porto público por excesso de navios, distribuindo prejuízos a setores importantes da Economia, como os produtores e exportadores de café, por exemplo.

Só em novembro, o Centro dos Exportadores de Café (Cecafé) contabilizou recorde de atrasos nos embarques. Segundo o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 81% dos navios contratados para levar o grão brasileiro aos quatro cantos do mundo enfrentaram algum retardo imprevisto em Santos durante o mês.

E os atrasos nas escalas dos navios contratados para embarque de café vêm subindo desde junho, quando 43% das escalas sofreram alterações. O Cecafé não consegue contabilizar o prejuízo para exportadores e produtores diante de tanta demora, pontualmente potencializada por eventos climáticos extremos nos portos da Região Sul.

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Essa baixa produtividade nos TUPs de Cubatão contrasta com os resultados de uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Embora Terminais de Uso Privado e portos públicos tenham interesses econômicos semelhantes, a auditoria do TCU apontou um índice de ociosidade de 56% na média dos cais públicos brasileiros em 2020.

O procedimento relatado pelo ministro Bruno Dantas, do TCU, também observou que foram investidos R$ 38,9 bilhões em novos terminais privados naquele ano. Já nas áreas federais, o arrendamento de áreas portuárias somou R$ 3,6 bilhões.

O porto privatizado de Cubatão compreende uma área com mais de cinco milhões de metros quadrados no coração do maior polo logístico da América do Sul. Os dois TUPs ficam a seis quilômetros do Porto de Santos e a menos de 60 quilômetros da Grande São Paulo, maior polo consumidor do País.

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MARCO REGULATÓRIO.

O movimento reduzido de navios em Cubatão, na comparação com o chamado porto público de Santos, pode motivar sanções à Usiminas e à VLI. Essas eventuais penalidades estão previstas no Artigo 8º da Lei 12.815.

Sancionada em 2013 pela então presidenta Dilma Rousseff, a regra estabelece obrigações e fixa o prazo de 25 anos para que "autorizatários", como é o caso da Usiminas e VLI, invistam na expansão e modernização das instalações portuárias.

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A fiscalização quanto ao cumprimento das condições estabelecidas nesses contratos cabe à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). A Lei 12.815/13 também prevê que o uso das instalações pode ser prorrogado por outros 25 anos, desde que as obrigações sejam cumpridas pelas empresas e haja o interesse mútuo na continuidade do modelo de negócios.

A Antaq informou que "eventuais alterações contratuais demandarão a observação das regras estabelecidas pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) e pela Autarquia".

Em relação ao Terminal Integrador Portuário Luiz Antônio Mesquita (Tiplam), operado pela VLI Multimodal, a Antaq disse que "desde 1993, quando foi assinado o primeiro contrato de adesão, houve mais quatro pedidos de melhorias na área. Em 2017, 2018 e 2020 a Antaq realizou quatro vistorias técnicas no terminal para liberação e ampliação de áreas".

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Em relação ao Terminal Marítimo Privativo de Cubatão (TMPC), a autarquia revelou que a Usiminas "também possui um contrato de adesão antigo, assinado em 1995, e adequado em 2016. Em 2020, após vistorias técnicas da Antaq, a instalação obteve a habilitação para tráfego internacional de suas cargas".

Consultada se buscaria alguma interlocução com a Usiminas e a VLI para aumentar o uso dos berços localizados em Cubatão, a Autoridade Portuária de Santos preferiu não comentar o assunto. A justificativa da APS é que "os Terminais de Uso Privado, por definição, estão fora do Porto Organizado, portanto, fora da área de jurisdição da Autoridade Portuária de Santos".

Porto público x cais privado

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O marco regulatório diferenciou a forma de exploração dos terminais.

- No porto público, as áreas de atividade portuária podem ser arrendadas às empresas privadas mediante a celebração de contratos, sempre precedidos de licitação. São considerados como critérios para julgamento, entre outros, a maior capacidade de movimentação, a menor tarifa ou o menor tempo de movimentação de carga.

- Já os terminais de uso privado (TUP) são instalados em áreas fora do porto organizado, cuja exploração será realizada mediante autorização. Essa autorização será formalizada por meio de um contrato de adesão.

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Operadoras são 'herdeiras' do 'espólio' de Cosipa e Ultrafértil

Dos sete berços em operação atualmente nos TUPs, quatro ficam no Terminal Integrador Portuário Luiz Antônio Mesquita (Tiplam). Essa instalação está a serviço da VLI Multimodal, gigante que detém terminais portuários e linhas de trens em quatro das cinco regiões do País. Os outros três ficam no Terminal Marítimo Privativo de Cubatão (TMPC) e são exclusivos da Usiminas, uma das líderes na siderurgia no País. Tanto a VLI quanto a Usiminas estão sob forte influência do capital internacional.

Dentre os berços do Tiplam, dois são usados exclusivamente para exportação e outros dois para importação. A VLI é subsidiária da Vale Sociedade Anônima, 'herdeira' do 'espólio' da antiga Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Fundada pelo ex-presidente Getúlio Vargas (1882/1954), a CVRD foi privatizada em 1997, no Governo Fernando Henrique Cardoso.

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Segundo a Assessoria de Comunicação da VLI, o Tiplam opera como "terminal bandeira branca", oferecendo sua capacidade a outras operadoras "para escoamento das riquezas produzidas no País".

A VLI atende os principais produtores de bens minerais e do agronegócio. E seu terminal portuário em Cubatão é especializado na movimentação de insumos para fertilizantes, como enxofre e amônia, além de açúcar e grãos.

Gigante multinacional, a Vale consome 5% de toda a energia produzida no Brasil. Apesar da montanha de dinheiro que movimenta, do volume de impostos que recolhe e dos milhares de empregos que gera, depois de privatizada a Vale foi eleita como a pior do mundo em direitos humanos e meio ambiente, pelo Public Eye People's.

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O 'prêmio' é patrocinado pelas ONG's Greenpeace e Declaração de Berna. A empresa também esteve indiretamente envolvida, através de suas subsidiárias, pelos desastres ambientais de Mariana (2015) e de Brumadinho (2019). Os dois incidentes deixaram um saldo de 291 mortos e espalharam prejuízos por Minas Gerais e pelo Espírito Santo.

A história do Tiplam remonta à década de 1960, quando foi fundada a antiga Ultrafértil S.A. Indústria e Comércio de Fertilizantes. Segundo o novomilenio.inf.br, o então terminal marítimo da Ultrafértil entrou em operação em 28 de julho de 1969. Na época, ele ficava a seis quilômetros da fábrica, que recebeu o pomposo nome de "maior complexo de fertilizantes da América Latina". Na inauguração, o porto privativo tinha 240 metros de comprimento.

Os outros três berços de Cubatão pertencem à Usiminas, sucessora da antiga Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa). Criada em 1960 pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902/1976), a construção da siderúrgica estatal contou com o apoio de empresas alemãs e japonesas, que forneceram tecnologia e conhecimento para o projeto.

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No início das operações em seus cais privados, tanto a Cosipa quanto a Ultrafértil enfrentaram a oposição do Sindicato dos Operários Portuários de Santos e da antiga Companhia Docas de Santos (CDS), a autoridade portuária da época.

Rapidamente, a estatal se tornou um dos principais pilares da indústria siderúrgica brasileira. Sua localização estratégica viabilizou a exportação de seus produtos para o mundo todo, impulsionando o setor industrial do Brasil. Durante as décadas de 1970 e 1980, a Cosipa ampliou sua capacidade de produção e investiu em tecnologia para se tornar ainda mais competitiva no mercado global.

Mas, a partir da década de 1990, a empresa enfrentou desafios que incluíram a abertura do mercado brasileiro à concorrência internacional. Isso aconteceu durante o governo do ex-presidente Fernando Collor. Problemas de gestão também prejudicaram o desempenho da Cosipa.

A siderúrgica então foi incluída no Plano Nacional de Desestatização durante o mandato de Collor e acabou privatizada em agosto de 1993, durante o governo do ex-presidente Itamar Franco (1930/2011).

FAMÍLIA COSIPANA.

No auge, nas décadas de 1970 e 1980, a Cosipa chegou a ter perto de 14 mil funcionários de efetivo próprio. Somados aos terceirizados, eram quase 20 mil trabalhadores. Em 1997, já eram pouco mais de oito mil. Hoje, segundo o Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista, a planta industrial da Usiminas emprega apenas 1.400 empregados e mais 800 terceirizados.

"Com o fechamento das áreas primárias da antiga Cosipa, houve um tremendo impacto negativo na economia da região. Isso gerou um grande desemprego, tanto no efetivo próprio quanto nas terceirizadas", lamenta o presidente doo Sindicatos dos Siderúrgicos e Metalúrgicos, Sergio César Oliveira.

Com as áreas de aciaria em pleno funcionamento, a Cosipa chegou a produzir 4,2 milhões de toneladas de aço por ano. Mas, a partir de 2015, com a desativação dos altos fornos e demais áreas primárias, hoje a planta de Cubatão só lamina as placas de aço, em chapas finas e bobinas a quente a frio.

Através de sua Assessoria de Comunicação, a empresa afirmou que, somadas, as duas plantas industriais da empresa, em Cubatão e em Ipatinga, Minas Gerais, produziram 2,999 milhões de toneladas de aços laminados de janeiro a setembro deste ano.

Veja amanhã no Diário: deputado federal Alberto Mourão (MDB) diz que "vai para cima" dos terminais privatizados de Cubatão e o prefeito Ademário Oliveira diz que "o mundo inteiro está de olho no filé" do Porto de Santos.

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