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Cotidiano

Polícia de SP pede prisão de filho do fundador das Casas Bahia

Saul Klein, foi indiciado pelos crimes de tráfico de pessoas, estupro, estupro de vulnerável, entre outros

Folhapress

29/04/2022 às 16:37  atualizado em 29/04/2022 às 16:45

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Saul Klein

Saul Klein | Reprodução/Prefeitura de Araraquara

A Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri (Grande SP) indiciou e pediu a prisão preventiva do empresário Saul Klein, 68. A informação foi confirmada pela polícia e pela defesa.

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O caso corre em segredo de Justiça. Klein, filho de Samuel Klein (1923-2014), fundador das Casas Bahia, foi indiciado nesta quinta-feira (28) pela delegada Priscila Camargo, titular da DDM de Barueri, pelos crimes de organização criminosa, redução à condição análoga de escravo, tráfico de pessoas, estupro, estupro de vulnerável, favorecimento à prostituição, casa de prostituição e falsificação de documento público.


A delegada ainda indiciou e pediu a prisão preventiva de outras nove pessoas. O caso foi levado para o Ministério Público e as detenções só podem ocorrer após autorização da Justiça.


Klein é acusado de estupro e aliciamento por 14 mulheres. O indiciamento feito pela polícia de Barueri encerra a investigação que levou cerca de dois anos para ser concluída.

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Elas acusam o empresário de aliciá-las e estuprá-las em festas que reuniam dezenas de garotas em sua casa, em Alphaville, desde 2008. Segundo a polícia, um imóvel em Boituva, no interior paulista, também teria sido usado.


O indiciamento feito pela Delegacia da Mulher da cidade da Grande São Paulo encera a investigação policial. O relatório final do inquérito policial entregue ao Ministério Público tem 90 páginas.


Às vésperas do Natal de 2020, ele teve, inclusive, de entregar seu passaporte à Justiça e foi proibido de ter contado com as 14 mulheres.

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Em nota, o advogado André Boiani e Azevedo disse, nesta sexta (29), que Saul Klein reafirma que nunca cometeu crime algum. "O indiciamento divulgado ontem [quinta] e o pedido de prisão são atos discricionários da autoridade policial que não vinculam os demais atores processuais", afirma a defesa.


"Saul e sua defesa técnica respeitam o posicionamento da delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri, mas entendem que a análise atenta e isenta dos elementos colhidos na investigação levará o Ministério Público e o Judiciário a concluírem por sua inocência", afirmou trecho da nota.


A advogada Priscila Pâmela dos Santos, que representa as 14 mulheres, afirmou nesta sexta-feira que há um sentimento de alívio entre suas clientes. "Elas se sentiram ouvidas", afirmou.

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Santos disse que tem conversado com as mulheres desde quinta-feira, após a polícia ter feito o pedido de prisão das dez pessoas. "Elas não conseguiram dormir direito, mas sentiram que a versão delas, que de fato é verdadeira, foi acolhida pela autoridade policial."


A advogada acredita que, pelo seu relatório, a delegada que conduz o caso fez uma análise macro de tudo que aconteceu e conseguiu entender que havia elementos suficientes para oferecer a denúncia ao Ministério Público.

"O documento reúne laudos psicológicos e psiquiátricos que mostram a situação de saúde dessas meninas", afirmou.

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Em nota, o Ministério Público de São Paulo afirmou que irá analisar o inquérito "a seu devido tempo".


Em dezembro de 2020, quando o empresário teve de entregar seu passaporte à Justiça, o advogado Azevedo disse que seu cliente contratava uma agência que lhe trazia sugar babies (como são chamadas as garotas que se dispõem a serem bancadas pelos daddies) e que ele mantém diversos relacionamentos simultaneamente.


"Ele era o 'daddy' de todos os 'daddies', do qual todas as 'babies' gostariam de ser 'babies'", disse Azevedo à coluna Mônica Bergamo, na época.

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Azevedo afirmou, também em dezembro de 2020, que os ataques têm por objetivo chantageá-lo e achacá-lo desde 2019, quando Klein parou de adquirir o serviço da empresa que lhe apresentava as mulheres, por desconfiar que os seus proprietários estavam tentando extorqui-lo.


Os relatos das 14 vítimas foram feitos à Ouvidoria da Mulher do Conselho Nacional do Ministério Público, que encaminhou o conteúdo ao Ministério Público de SP (MPSP).


A decisão judicial elenca informações apresentadas pelo MPSP baseadas nos testemunhos das supostas vítimas.

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"Segundo constou do requerimento, todas as mulheres acima foram vítimas de aliciamento sexual", aponta o despacho da Justiça citando informações elencadas pela promotoria. "Eram procuradas por aliciadores em redes sociais e outros canais, informadas falsamente de que havia interesse na contratação delas por parte de uma empresa e conduzidas a uma apresentação, a título de teste, para o requerido Saul."


"Os testes eram feitos em um flat e elas tinham que usar biquínis ou roupa íntima. Elas eram convencidas de que, se satisfizessem a lascívia do requerido Saul, poderiam ser contratadas para eventos na 'mansão' de Alphaville, quando então receberiam de mil a três mil reais, ou numa casa de campo dele em Boituva", segue a narrativa.


"Nesses eventos, que podiam contar com 15 a 30 moças, elas tinham que se exibir o tempo todo de biquíni e submeter-se a atividades sexuais com o requerido Saul, inclusive de modo humilhante e a contragosto. Também podiam ter que ingerir droga, permanecer trancadas em um quarto por um dia inteiro e aceitar se submeter a consultas com médicos ginecologista e cirurgião plástico, respectivamente, para cuidar das persistentes e reiteradas doenças sexualmente transmissíveis que as acometia e de outras enfermidades que apresentaram, bem como receber aplicações de botox ou outros tratamentos destinados a prepará-las para as sessões com o requerido Saul."

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Em dezembro de 2020, o jornal Folha de S.Paulo conversou por telefone com duas das alegadas vítimas que acusam o empresário. Uma afirmou ter conhecido Klein em 2008 e conviveu com ele até 2020. A outra começou em 2013. Nenhuma delas quis se identificar, alegando que não querem ser expostas e que têm medo de represálias do empresário. Elas corroboram os relatos elencados na decisão judicial.


Azevedo afirmou na época que a relação criada entre Klein e as mulheres nem sempre acarretava em atos sexuais, mas que quando isso ocorria era algo consensual. Ele afirma que o empresário dava presentes a elas, mas que ele nunca fez pagamentos às suas amantes e não participava desta negociação -quem tratava disso era a agência, que também se responsabilizava por verificar as idades de todas as garotas para que fossem maiores de idade.


"As participantes estavam ali de livre e espontânea vontade -e, saliente-se, todas queriam voltar aos eventos, em demonstração de que estavam de acordo com o que ali acontecia", diz ele.

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Em nota, a Via, atual proprietária da Casas Bahia, disse nesta sexta que Saul Klein nunca possuiu qualquer vínculo ou relacionamento com a companhia. "Saul vendeu sua parte societária em 2009. A Via assumiu a gestão da rede de lojas em 2010. A companhia informa, ainda, que é uma corporação sem acionista controlador ou bloco de controle definido."

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