Entre em nosso grupo
2
Cotidiano
Está previsto o uso de ambulâncias para fazer a remoção ao Hospital Geral Cantareira, na zona norte da cidade
Continua depois da publicidade
Cracolândia | Willian Moreira/Futura Press/Folhapress
A gestão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), elabora plano para internar os usuários de drogas que frequentam a cracolândia avaliados "com rebaixamento de consciência" e "com risco de morte". Está previsto o uso de ambulâncias para fazer a remoção ao Hospital Geral Cantareira, na zona norte da cidade.
Continua depois da publicidade
De acordo com o plano de trabalho ao qual a reportagem teve acesso, serão abertas vagas de internações voluntárias, involuntárias e compulsórias e as estruturas devem impedir fugas.
A triagem será feita por agentes de saúde que irão percorrer as cenas de uso. Cada pessoa abordada terá os dados inseridos em um cadastro e o prontuário médico analisado pelas equipes.
O projeto elaborado pela Secretaria de Saúde em parceria com a Associação Filantrópica Nova Esperança, organização social contratada para gerenciar as ações, estabelece três critérios de triagem de acordo com o nível de comprometimento cognitivo causado pelo uso de drogas.
Continua depois da publicidade
Segundo o documento, usuários "sem transtornos mentais agudos e clinicamente hígidos (sadios)" serão levados "de forma voluntária" ao Siat Emergencial, tenda montada pelo programa Redenção na rua Helvétia, onde está a maior concentração de dependentes químicos atualmente.
De lá, vão ser encaminhados para ao Centro de Convivência Integral a ser inaugurado na rua Boracéa, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, com capacidade para até 40 leitos. O custo será de R$ 568.575,25 por mês após a implantação, estimada em R$ 993,5 mil. Veículos próprios do programa municipal para tratar dependência de drogas serão usados para transportar os usuários de drogas.
Questionado se a ação seria uma espécie de mutirão de internação de dependentes químicos, o secretário-executivo de Projetos Estratégicos da prefeitura, Alexis Vargas, negou. Ele não quis detalhar, porém, como será o novo projeto. Procurada, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) também não explicou como irá funcionar o novo equipamento, apenas disse que "está em fase de elaboração".
Continua depois da publicidade
No plano de trabalho do Centro de Convivência Integral estão previstas atividades como tomada de medicação supervisionada, meditação, recreação e programação esportiva. Uma unidade de acolhimento será criada para abrigar os frequentadores que não têm onde morar -serão disponibilizadas 30 vagas a serem ocupadas por até seis meses.
Em relação às pessoas que recusarem atendimento, a administração municipal afirmou que "serão respeitadas em sua decisão desde que não haja risco de morte". Não houve detalhamento de quais critérios serão usados para o diagnóstico.
Usuários "com rebaixamento de consciência" serão colocados em uma ambulância do programa Redenção e levados ao Hospital Geral Cantareira. O Samu será chamado em casos de remoção de usuários "com instabilidade clínica". Uma vez estabilizados, esses usuários vão seguir o mesmo trâmite do critério anterior.
Continua depois da publicidade
No mesmo documento, um trecho questiona a capacidade de autonomia dos usuários de drogas em relação ao próprio tratamento. "Questões como a liberdade de escolha do dependente químico são questionáveis: ele deve ter total direito de escolha ou existe a condição clínica de escolha?"
No começo de junho, o prefeito anunciou que 22 dependentes químicos tinham sido internados de forma involuntária no município. Segundo dados oficiais da prefeitura, quase metade desses usuários deixou o tratamento em até 20 dias.
HOSPITAL JÁ FOI INVESTIGADO
Continua depois da publicidade
O Hospital Geral Cantareira foi usado como referência em 2017 durante a gestão do então prefeito João Doria (PSDB) como parte do Redenção. Na época, foram ofertadas vagas em clínicas psiquiátricas após ação policial que desmantelou a feira de drogas a céu aberto no entorno da praça Júlio Prestes.
Cerca de três meses depois, apenas 17% concluíram o tratamento de quatro semanas voltado à desintoxicação. Dados oficiais de agosto de 2017 mostraram que de 842 encaminhamentos voluntários para leitos psiquiátricos, 108 dependentes continuavam internados. Entre as 734 internações já concluídas ou interrompidas, só 122 (17%) delas foram levadas até o fim.
Relatório elaborado por conselhos regionais de medicina, psicologia, serviço social e enfermagem, Ministério Público, Defensoria Pública e Comuda (Conselho Municipal de Políticas de Drogas e Álcool), em agosto de 2017, apontou que o hospital tinha um assistente social para 70 internados.
Continua depois da publicidade
Outros dois hospitais conveniados à prefeitura para tratar usuários de drogas foram analisados pelo relatório na época e foi concluído que faltava estrutura para os atendimentos. A prefeitura, na ocasião, rebateu as acusações e afirmou que havia "número suficiente de profissionais".
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade