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Cotidiano
Segundo pesquisa, pandemia afetou a renda de 8 em cada 10 imigrantes que trabalham em oficinas de costura em São Paulo
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Oficina de costura com funcionários bolivianos na cidade de São Paulo; há quem costure máscara por R$ 0,05 por peça | /Reprodução Tv Globo
“Desde que chegamos ao Brasil, há 20 anos, meus pais trabalham com costura. Pela primeira vez, minha mãe pensou em desistir e voltar para a Bolívia. Pois, quando a pandemia começou, parou tudo na parte da costura e meus pais ficaram sem nenhuma renda”. O relato é da boliviana Carmen Vergara, 30 anos, que mora com os pais no centro da cidade de São Paulo.
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A família de Carmen faz parte de um contingente de cerca de 300 mil bolivianos que escolheram São Paulo para viver. O número é de organizações não governamentais, pois, oficialmente, de acordo com a Polícia Federal, 75 mil bolivianos vivem na capital paulista. A maior parte desta população, assim como os pais de Carmen, trabalha no setor têxtil, especificamente nas oficinas de costura, que foram duramente impactadas pela pandemia do novo coronavírus.
Uma pesquisa realizada pela organização não-governamental britânica Business and Human Rights Resource Centre, divulgada na última quinta-feira (3) pela Agência Bori, aponta que oito em cada dez imigrantes que trabalham em oficinas de costura na cidade da São Paulo ficaram sem renda durante a pandemia.
“Quando vimos as empresas começarem a cancelar encomendas, pensamos: se as empresas e as marcas estão passando por este apuro, imagina como estão essas pessoas que trabalham de modo informal. Foi assim que nasceu a ideia da pesquisa. No levantamento, vimos que muitos viram a renda, que já era baixa, em torno de R$ 1.045, diminuir drasticamente; 61% tiveram dificuldades para se alimentar”, revela a pesquisadora Marina Novaes, responsável pelo estudo.
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Ainda conforme a pesquisa, a pandemia trouxe outros problemas para os imigrantes. Uma boa parcela teve dificuldades para arcar com os custos do aluguel, quase a totalidade (93%) deixou de enviar dinheiro para os familiares no seu país de origem e, entre os que têm filhos em idade escolar, 30% não possuem acesso à internet para que as crianças acompanhem as aulas on-line.
Máscaras a R$ 0,05
A alternativa para a falta de renda foi encontrada na produção de máscaras. Contudo, os preços pagos pelo item essencial na proteção contra a Covid-19 chegou a R$ 0,05 por peça. “No geral, 78% indicaram que os preços pagos pelos produtos diminuíram e 84% passou a costurar máscaras durante a pandemia”, diz Novaes.
Os pais de Carmen também recorreram às máscaras no período. “Por mais que seja uma máscara, algo que parece simples, é demorado para montar, para deixá-la bonitinha, fácil de usar. Contudo, como tinha muita mão de obra, os valores acabaram muito baixo”, conta a boliviana, que trabalha na parte administrativa de uma empresa e, apesar de ter tido o salário reduzido, acabou sendo a única responsável pelas contas da família.
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Poder público
A Business and Human Rights Resource Centre recomenda ao poder público mapear a população imigrante e incluí-los na rede pública de proteção social. A organização também orienta empresas a mapear suas cadeias de suprimentos.
Procurada, a Prefeitura de São Paulo informou que fez várias ações para ajudar a população imigrante que vive na capital durante a pandemia, entre elas está a distribuição de cestas básicas, de materiais informativos, bem como a ampliação da equipe e do atendimento no Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI).
Apesar disso, muitas famílias se sentiram desassistidas pelo poder público no período e recorreram às organizações não-governamentais, como o programa Tecendo Sonhos da Aliança Empreendedora. “A pandemia impactou drasticamente os imigrantes da cidade de São Paulo, especialmente aqueles que trabalham em oficinas de costura, que trabalham para pagar contas. Muitos deles precisaram de apoio de subsistência para conseguir passar por esse período e, apesar, de já observarmos um aquecimento nos pedidos dessas oficinas com a flexibilização, acreditamos que 2021 continuará sendo um ano de dificuldades. Assim, estamos tentando fortalecer essa população enquanto grupo, tentando formar uma cooperativa, ensiná-los a investir em produção própria e capacitá-los para trabalhar com vendas on-line , que pode ser uma alternativa para os próximos anos”, finaliza Cristina Filizzola, coordenadora do projeto.
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