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Cotidiano

Os desafios do empreendedorismo negro

Segundo especialista, negros enfrentam mais dificuldades na hora de empreender. Conheça histórias de alguns empreendedores

Gladys Magalhães

20/11/2023 às 07:30  atualizado em 20/11/2023 às 08:21

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Perfil do empreendedor negro brasileiro é diversificado, abrangendo diferentes setores e níveis de formação

Perfil do empreendedor negro brasileiro é diversificado, abrangendo diferentes setores e níveis de formação | Divulgação

Empreender no Brasil não é uma tarefa fácil. Segundo Marco Vinholi, diretor técnico do Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), ao abrir o próprio negócio, os brasileiros costumam enfrentar alta carga tributária, burocracia complexa, dificuldades de acesso a financiamento e crédito, além de um mercado competitivo e, às vezes, instável. Se o empreendedor é negro, contudo, as dificuldades tendem a ser ampliadas. 

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"Para os empreendedores negros, esses desafios são, frequentemente, maiores por fatores como discriminação racial, menor acesso a redes de contato e a recursos financeiros, além de falta de representatividade em posições de liderança e em setores-chave da economia. Isso pode limitar as oportunidades e o crescimento dos negócios deste público", diz Marco.

A percepção de Marco é comprovada por um estudo realizado pelo próprio Sebrae. De acordo com o levantamento "Empreendedorismo por Raça-cor (e sexo)", os empreendedores negros ganham cerca de 32% menos do que os empreendedores brancos, possuem empresas menores e trabalham mais sozinhos. 

O perfil do empreendedor negro
 De acordo com o levantamento do Sebrae, uma boa parte dos empreendedores negros empreendem por necessidade. Ou seja, abrem o próprio negócio porque essa é a opção para sobreviver. 

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"O perfil do empreendedor negro brasileiro é diversificado, abrangendo diferentes setores e níveis de formação. Muitos são motivados pela necessidade de criar suas próprias oportunidades de trabalho e renda, dada a menor oferta de empregos formais para negros no Brasil. Além disso, muitos buscam fazer a diferença em suas comunidades e representar a cultura afro-brasileira em seus negócios", comenta Marco, que ressalta que a resiliência é uma das principais características do empreendedor negro brasileiro. 

"É importante reconhecer a diversidade e a resiliência dos empreendedores negros no Brasil. Eles não apenas enfrentam desafios adicionais, mas, também, oferecem perspectivas únicas e inovações importantes para o mercado brasileiro. O apoio a esses empreendedores pode trazer benefícios significativos para a economia e a sociedade como um todo. A riqueza do País está nessa diversidade. Aliás, é fundamental para o nosso desenvolvimento o fomento ao empreendedorismo mais igualitário e de oportunidades para todos."

A seguir, conheça histórias de alguns empreendedores da comunidade negra

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Maria José Vilhalba, da Mary Customs Sneakers
Maria José Vilhalba, da Mary Customs Sneakers - Foto: Divulgação

Negócio customizado
Assim como muitos brasileiros, a professora de educação física Maria José Vilhalba, de 53 anos, precisou empreender para aumentar a renda da família. Assim, durante a pandemia, nasceu a "Mary Customs Sneakers".

"Na pandemia estava desempregada e precisava de uma renda para pagar as contas do cotidiano e compras básicas do mês. Tinha um computador e internet, daí pensei: tenho que descobrir algo para ganhar dinheiro", conta. 

Atualmente, ela fatura de R$ 2 a R$ 5 mil mensais com a empresa, que possui um parceiro responsável pelas artes digitais. Para Maria, ser parda e mulher é um desafio a mais para empreender, visto que, hoje, ela divide o tempo entre a empresa de costumização de tênis, a docência, além dos afazeres domésticos. "Precisamos de mais visibilidade, oportunidades. No meu nicho, não temos muito reconhecimento, pois 98% dos customizadores são homens", diz. 

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Daniel Sousa Santos, da Xeidiarte
Daniel Sousa Santos, da Xeidiarte - Foto: Divulgação

Para enaltecer a cultura
A Xeidiarte é o primeiro negócio de Daniel Sousa Santos, de 35 anos. Bacharel em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual, Daniel empreendeu por acaso, visto que seu intuito era enaltecer a cultura negra. 

"A Xeidiarte nasceu em 2015, como uma página de charges, caricaturas e ilustrações. Não tinha um intuito comercial. Eu só queria ter um espaço para falar de temas que considero relevantes e provocar reflexões por meio do meu trabalho. Com o crescimento do número de seguidores nas redes sociais, os pedidos por produtos se tornou recorrente e nos organizamos, eu e minha esposa, para isso acontecer. No final de 2017, lançamos as primeiras camisetas e não paramos mais", lembra. 

O empreendedor não revela o faturamento, mas as camisetas, cuja produção é terceirizada e conta com mais de 10 fornecedores na cadeia produtiva, custam entre R$ 59 e R$ 179. 

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"A Xeidiarte é uma ferramenta de propagação da Cultura Negra. Através de ilustrações autorais transformadas em produtos de moda, arte e papelaria, contribuímos na construção de uma sociedade antirracista contando as histórias de personalidades e símbolos negros (...). O racismo estabeleceu no imaginário popular que produções de pessoas negras não têm qualidade e credibilidade. Isso cria barreiras para expansão das vendas de marcas que reafirmam suas negritudes diretamente nos produtos. Porém, de pouco a pouco, temos superado essas barreiras", celebra Daniel. 

Eliel Ebenézer, da Qodelles
Eliel Ebenézer, da Qodelles - Foto: Divulgação

Com a filosofia Ubuntu
Para Eliel Ebenézer, de 35 anos, a falta de contatos é um dos grandes desafios para empreendedores, especialmente negros, no Brasil. Mesmo com faturamento de cerca de R$ 100 mil a R$ 150 mil por mês com a empresa de tecnologia Qodelles, ele diz que a falta de network acaba dificultando a captação para este que é o seu terceiro negócio e para o qual  ele atribui o sucesso ao aprendizado com os negócios anteriores e também à filosofia Ubuntu. 

"O meu negócio é tecnologia e capacitação, treinamento, uma escola de programação. Eu atuo com um modelo de capacitação para profissionais que queiram fazer a inclusão digital ou migrar a área de tecnologia e também tenho uma empresa de software que faz aplicativos e atende o mercado de modo geral. O que me levou a empreender foi a vontade de fazer um tipo de programa diferenciado. Eu quis montar um time voltado ao modelo de entrega do produto, mas com um olhar mais humano. Além disso,  na nossa empresa temos uma filosofia chamada Ubuntu, que nasceu na África do Sul,  e diz: 'quanto melhor você é , melhor eu sou". Isso nos move aqui, capacitar as pessoas", relata. 

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Para ter sucesso
Para quem está pensando em abrir o próprio negócio, o diretor técnico do Sebrae, Marco Vinholi, aponta qual é o passo a passo: 

Definir o tipo de negócio e o plano de negócios; 

Escolher a estrutura jurídica e registrar a empresa; 

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Obter o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) e inscrições fiscais;

Cumprir as exigências legais específicas do setor; 

Organizar a parte financeira e dar início às operações e ao Marketing do negócio. 

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O especialista lembra ainda que é importante fazer pesquisa de mercado, conhecer bem o público-alvo e as tendências do mercado, ter um bom planejamento financeiro e um bom controle financeiro, e buscar fontes de financiamento. "Em resumo, é fundamental o planejamento prévio e a noção sobre o mercado. Um desafio enorme das empresas hoje é a sobrevivência", finaliza. 

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