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Cotidiano
No primeiro Dia de Finados sob administração das empresas, o paulistano deve se deparar com acúmulo de lixo e estrutura precária em parte dos 22 cemitérios concedidos
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Prestes a completar oito meses sob concessão da iniciativa privada, cemitérios municipais de São Paulo ainda convivem com problemas crônicos como falta de zeladoria e invasões, além de relatos de cobranças abusivas | Rovena Rosa/Agência Brasil
Prestes a completar oito meses sob concessão da iniciativa privada, cemitérios municipais de São Paulo ainda convivem com problemas crônicos como falta de zeladoria e invasões, além de relatos de cobranças abusivas. No primeiro Dia de Finados sob administração das empresas, o paulistano deve se deparar com acúmulo de lixo e estrutura precária em parte dos 22 cemitérios concedidos.
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A Folha de S.Paulo foi aos maiores cemitérios administrados por cada uma das quatro concessionárias do serviço funerário municipal: Vila Formosa (zona leste), Vila Nova Cachoeirinha (zona norte), São Luiz (zona oeste) e Campo Grande (zona sul). Em todos viu pilhas de entulho e pedaços de lápides amontoados. Também encontrou algum tipo de invasão em quase todos, exceto no da zona sul.
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Por contrato, as empresas têm até 2027 para concluir obras obrigatórias. Algumas obras de reforma já estão em curso, especialmente nas áreas administrativas e salas de velório. Segundo usuários ouvidos pela reportagem, as únicas mudanças visíveis são pintura nova, instalação de bebedouros e grades e mais funcionários.
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No cemitério São Luiz, a própria reforma estragou uma área dedicada aos mortos. A tinta branca aplicada em muretas de concreto que dividem algumas covas manchou lápides e apagou os nomes de quem está enterrado ali. O mesmo local tem monumentos pichados e lixo sobre os muros que separam o cemitério e a rua.
Uma invasão de usuários de drogas persiste num canto do terreno do cemitério Vila Nova Cachoeirinha, com lixo espalhado pelo chão. Algumas covas estão a menos de 20 metros do ponto onde o grupo se concentra, e o local é cercado pela favela do Boi Malhado.
Há cinco meses, três pessoas que dormiam em barracas nessa área do cemitério receberam um ultimato para que se retirassem em 24 horas. A Cortel, concessionária responsável pelo Vila Nova Cachoeirinha, reconstruiu um muro de concreto que separa a favela e o cemitério, mas a estrutura foi parcialmente derrubada.
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Os sem-teto continuam frequentando o local, ainda que sem barracas, e dizem que agora são obrigados a deixar o terreno ao escurecer.
Elisângela, 34, é uma das frequentadoras do local e diz que cerca de 30 pessoas passam por ali diariamente, formando uma espécie de minicracolândia. Na tarde de segunda (30) ela havia acabado de atravessar o muro caído em direção à favela quando foi atacada, com socos no rosto, por outra mulher que frequenta o local.
Um funcionário do cemitério, que pediu para não ser identificado, disse que as brigas ali são constantes.
Em nota, a Cortel afirma que manter as melhorias no cemitério "tem sido um desafio pela sensibilidade que envolve a relação digna que procura manter com cidadãos em situação de vulnerabilidade social que convivem na parte externa". No Vila Formosa e no São Luiz, a reportagem encontrou barracas de lona armadas, mas nenhum sinal dos ocupantes.
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Segundo Vanusa Oliveira, 41, o velório de sua sogra no cemitério Campo Grande teve um atraso de três horas e uma cobrança abusiva por parte da concessionária, o Grupo Maya. Ela diz que a empresa tentou cobrar R$ 528 por hora de aluguel da sala de velório. Por contrato, porém, o valor é suficiente para ao menos seis horas de cerimônia.
Segundo ela, a família acompanhou o enterro ao lado de uma pilha de terra revirada, pedaços de papelão molhado e entulho. "Eu e minha cunhada ficamos indignadas", diz Vanusa.
Questionada sobre o caso na tarde desta terça (31), por e-mail, o Grupo Maya não respondeu até a publicação deste texto. A empresa não disponibiliza outro meio de contato.
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Na Vila Formosa, maior cemitério do país, a concessionária está construindo um novo nicho mortuário, próximo à área dos velórios, além das reformas no equipamento. No local ainda há, no entanto, lápides vandalizadas, pilhas de entulho, vias esburacadas e até animais mortos em decomposição pelo terreno.
Usuários do cemitério notaram melhorias no prédio administrativo, mas dizem que o cuidado não se aplica à conservação das lápides.
"Não existe trabalho de jardinagem aqui, está cheio de mato alto, lixo, está tudo largado", reclama a dona de casa Daniele Lima Pereira, 37, que há três anos perdeu a mãe, vítima da Covid-19. "É meu marido que tem que vir cuidar do túmulo, porque os funcionários aqui não cuidam."
PROBLEMAS NOS CEMITÉRIOS PRIVATIZADOS DE SP
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Reportagem percorreu unidades de Vila Formosa, Vila Nova Cachoeirinha, São Luiz e Campo Grande
Lápides depredadas
Parte do entulho encontrado em pilhas nos cemitérios é de lápides quebradas, deixando covas sem identificação; há também casos de lápides manchadas de tinta e de lixo acumulado em fosso de sepulturas
Invasões
Em Vila Nova Cachoeirinha, um grupo de usuários de drogas derrubou um muro e persiste no local; no Vila Formosa e São Luiz, há barracas de lona solitárias
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Sujeira
Pilhas de lixo, entulho, e estrutura pichada
Zeladoria
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No cemitério da Vila Formosa, falta poda para o mato ao redor de covas e outros espaços
Cobrança indevida
A reportagem encontrou um caso de cobrança indevida pelo aluguel de sala de velório, no cemitério Campo Grande
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No São Luiz, apesar das pilhas de lápides quebradas e um equipamento pichado, a reportagem também encontrou funcionários trabalhando na pintura e jardinagem.
Isso tudo ocorre após a concessão resultar em aumento dos preços de serviços funerários básicos para a população o velório mais simples passou de R$ 299,85 para R$ 1.443,74. Esses valores estão previstos no contrato feito com a Prefeitura de São Paulo e valem para famílias que ganham mais do que três salários mínimos.
A prefeitura já recebeu dois alertas do TCM (Tribunal de Contas do Município) por causa de problemas após as concessões dos cemitérios. O tribunal encontrou desde falhas de segurança e limpeza até falta de clareza nas informações sobre gratuidades previstas em lei.
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A privatização prevê, por exemplo, gratuidades para famílias que ganham até três salários mínimos. Além disso, há o funeral social, que garante preços menores a quem não tem condições de pagar os valores no ato do velório e recebe um prazo de 60 dias para pagar a taxa mínima ou se cadastrar em programas sociais.
Os mais afetados pelo aumento de preços, assim, são os paulistanos de renda baixa ou média que não se encaixam nesses casos e decidem usar os serviços mais baratos disponíveis.
Há também um inquérito civil aberto em julho pelo Ministério Público de São Paulo para investigar possíveis violações à política de gratuidade nos enterros. O órgão afirma que ainda aguarda as respostas das empresas sobre o atendimento em cada um dos 22 cemitérios municipais.
Responsável pelo cemitério da Vila Formosa, a Consolare afirma que contratou 32 novos colaboradores para varrição e recolha de resíduos, "número que representa o dobro de funcionários que realizavam esse trabalho no local antes da concessão". A empresa diz que já investiu R$ 17 milhões nos seis cemitérios que administra e que vai apurar a origem do lixo, uma vez que a limpeza é diária. Afirma ainda que não encontrou pessoas em situação de rua dentro do terreno.
A empresa também ressalta que a responsabilidade pela conservação dos jazigos é das famílias, segundo decreto municipal de 2020, e que realiza campanha permanente "para que os munícipes mantenham seus dados cadastrais atualizados, com a finalidade de tornar efetiva a comunicação".
Sobre o cemitério São Luiz, a empresa Velar SP diz que as lápides manchadas de tinha "já foram devidamente limpas" e que a pintura dos equipamentos ocorreu em três ocasiões (abril, junho e outubro). "Toda vez que atos de vandalismo forem identificados, os devidos reparos serão realizados de imediato."
A Cortel afirma que atua em conjunto com a Subprefeitura da Casa Verde e "tem monitorado as pessoas que se utilizam de barracas do lado externo do cemitério, a fim de levar diagnósticos para viabilizar soluções junto à prefeitura". Afirmou, ainda, já ter retirado mais de 830 toneladas de lixo do local.
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