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Cotidiano
Tal qual Pelé, Washington Olivetto jogou no lixo nosso complexo de vira latas e nos fez sentir orgulho de sermos brasileiros
23/10/2024 às 12:06 atualizado em 23/10/2024 às 12:10
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O publicitário Washington Olivetto | Reprodução/Instagram
Tive a honra de ser sócio do Washington Olivetto. Formamos a POPCOM, a segunda maior agência digital do Brasil para campanhas inovadoras em Internet/Web. Era uma tecnologia criativa ainda em desenvolvimento. Onde sabíamos que nosso trabalho de comunicação antes de mais nada precisaria ser feito com amor, ética e responsabilidade.
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Talvez esse seja um dos trabalhos mais difíceis, mas, mais prazerosos. Para nós, essa preocupação não existia. Pois, a ética e a honestidade intelectual estavam em toda a linha de criação do Washington. Ele era assim, corajoso, insolente, provocativo, irreverente com genialidade natural em tudo o que pensava. Mas sempre com profundo respeito por todos em suas criações. Washington morreu aos 73 anos neste mês.
Tal qual Pelé, jogou no lixo nosso complexo de vira latas e nos fez sentir orgulho de sermos brasileiros. Suas ideias, comerciais memoráveis, personagens, e campanhas geniais colocaram nosso país no topo da publicidade mundial.
Foram incontáveis indicações e prêmios no Festival de Publicidade de Cannes. Os filmes: Meu primeiro sutiã, e Hitler, para um grande veículo de comunicação, estão entre os melhores filmes da história da publicidade mundial.
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Mas, seu talento não era só genialidade, técnica e competência. Era sensibilidade, compreensão e consciência. Sua criatividade nos fez sentir orgulho de sermos humanos.
Suas mais de 400 peças para o Garoto da Bombril e suas mil e uma utilidades, falavam diretamente com as mães do Brasil. Para mim, o comercial Hitler afirmava: dá para contar muitas mentiras dizendo somente a verdade. Isso foi uma aula de filosofia, sociologia, história, e propaganda, tudo ao mesmo tempo.
Espero que esse sentimento volte a ficar aceso nas consciências de todos os brasileiros. Sua criatividade e inteligência eram contagiantes. Ninguém precisava explicar, o público era tocado e compreendia sua mensagem, por mais diferenciada que fosse.
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Não tinha medo de arriscar. Respeitava a todos, mas acima de tudo, respeitava a inteligência de todos.
Talvez uma de suas maiores virtudes e qualidades tenha sido a honestidade intelectual ímpar, impagável, impecável e irrepreensível. Aliás, com certeza, foi por isso que não fez campanhas políticas. Como vender um produto que o cliente não poderia devolver depois? Como vender algo que não se acredita?
Torcedor apaixonado por futebol e por seu time do coração, contribuiu para trazer o Brasil para a democracia. Com sua Democracia Corinthiana, traduziu ao povão o que os comícios da Sé traduziram mais tarde na Constituição de 1988 e eleições diretas em 1989.
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Ímpar, Washington gostava de contar histórias, a maioria das vezes sobre fatos e causos dele próprio. Acredito que esse modo de ser era pura generosidade. Uma aula a cada história, uma lição a cada case. Uma risada a cada reflexão.
E neste domingo, dia 13 de outubro, você decidiu criar em outra dimensão, deixando a todos incrédulos, entendendo o quanto a vida pode ser breve, efêmera e ao mesmo tempo gigante e rica quando se sabe ser vivida.
Fica aqui minha gratidão por você iluminar muitas vezes o consciente e o inconsciente coletivo dos brasileiros com um sorriso inteligente. Tenho uma certeza, o Primeiro publicitário que nos ensinou a fazer graça sem precisar fazer piada, a gente nunca esquecerá. Vai com toda a Luz que você merece.
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* Américo Barbosa, publicitário e PhD em Comunicação e Semiótica.
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