Entre em nosso grupo
2
Continua depois da publicidade
A descoberta, que levanta preocupações, culminou na redação de uma Nota Técnica publicada pelo periódico Biota Neotropica | Divulgação/USP
Biólogos da Universidade de São Paulo (USP), em monitoramento de manguezais no estuário de Santos, identificaram uma espécie arbórea conhecida como mangue maçã (Sonneratia apetala), nativa do Sudeste Asiático, com presença em países como Índia, Sri Lanka, Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas, que seria nociva ao ecossistema nativo regional. A informação é de Denis Pacheco e foi publicada no Jornal da Universidade de São Paulo (USP).
Continua depois da publicidade
Faça parte do grupo do Gazeta no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.
É o primeiro registro da Sonneratia apetala na América do Sul. Geraldo Eysink e Edmar Hatamura, os biólogos envolvidos, buscaram a colaboração da professora sênior do Instituto Oceanográfico (IO) da USP Yara Schaeffer-Novelli para identificar a origem da espécie, introduzida de forma involuntária.
Segundo explicam os biólogos, a hipótese mais provável é que o transporte pode ter acontecido por meio da água utilizada pelos navios para estabilização - equilibrar o navio. A água de lastro é muitas vezes bombeada para dentro do navio em um local de origem e depois liberada em outro local, o que pode incluir portos intensamente trafegados. Ela pode transportar organismos marinhos e outras substâncias que podem afetar os ecossistemas locais quando liberados em novas áreas.
Continua depois da publicidade
Tudo ocorreu porque eles estavam fazendo um trabalho junto com a HC2-Gestão Ambiental, empresa focada em solucionar problemas ambientais que atualmente trabalha na recuperação de uma área de manguezal em Cubatão, quando descobriram a planta originária da Índia e de Bangladesh.
Muitas foram encontradas nas margens dos rios Cubatão e Perequê durante uma expedição de barco. As plantas mais distantes da margem foram identificadas inicialmente nas fotos do drone e posteriormente confirmadas em terra.
A descoberta, que levanta preocupações sobre a conservação dos manguezais, áreas vitais de preservação, culminou na redação de uma Nota Técnica publicada pelo periódico Biota Neotropica. A espécie, até então desconhecida no Brasil e sem registros na América do Sul, reforça a necessidade de proteger ecossistemas críticos.
Continua depois da publicidade
A espécie de porte médio, que pode alcançar até 20 metros de altura, possui um sistema radicular do tipo pneumatóforo que se estende até o solo lodoso, folhas ovaladas de cor verde brilhante e flores grandes e vistosas de cor amarela que, de acordo com os especialistas, chamam bastante atenção.
"Seus frutos e sementes flutuantes facilitaram sua disseminação pelas águas, levando à descoberta de 86 exemplares até o momento", conta a professora Schaeffer-Novelli ao relatar que a identificação delas foi possível por meio de caminhadas de campo e o uso de drones pelos biólogos, que revelaram a presença da planta em áreas específicas.
Segundo acreditam, a presença dessa planta no Brasil representa uma ameaça direta à biodiversidade local, competindo por espaço e recursos com os gêneros nativos de manguezal, considerado Área de Preservação Permanente (APP), conforme a legislação nacional.
Continua depois da publicidade
ALERTA.
Os pesquisadores alertam que a resposta das autoridades ambientais até o momento tem sido limitada, e incluiu o contato com o Ministério do Meio Ambiente (ICMBIO) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para tratar do caso da espécie invasora.
A equipe apela por uma mobilização conjunta de órgãos ambientais, comunidade científica e sociedade para enfrentar o desafio. Medidas como a remoção manual das plantas invasoras e até mesmo a necessidade de aplicação de outras técnicas devem ser consideradas, embora cada uma apresente seus próprios impactos ambientais e econômicos.
Continua depois da publicidade
"A preservação de áreas de manguezais é crucial não apenas para a proteção dos habitats, essenciais para a subsistência de comunidades pesqueiras ao longo de 8 mil quilômetros de costa, mas também para a conservação de espécies migratórias de organismos aquáticos como peixes e mamíferos marinhos, e também para várias espécies de aves, conforme estipulado pelas Convenções de Washington de 1940 e de Ramsar de 1971", pontua Schaeffer-Novelli.
Os biólogos lembram que os manguezais prestam diversos serviços ecossistêmicos, como fixação de carbono, berçário para espécies marinhas de interesse econômico e proteção contra erosão. Além disso, garantem as condições sustentáveis de pesca, vital para o sustento das comunidades de pescadores e as originárias.
"Os pescadores são os guardiões desse importante ecossistema e é ele que garante a sobrevivência de inúmeras famílias ao longo do litoral brasileiro, o que significa que, caso esse frágil ecossistema seja afetado por mais esse fator estressante, as chances dessas comunidades diminuem", complementa o biólogo Eysink.
Continua depois da publicidade
Na opinião dos pesquisadores, a situação realça como o ecossistema dos manguezais é frágil e a importância de manter uma vigilância constante contra espécies exóticas invasoras. Essas espécies têm o potencial de causar danos irreversíveis à biodiversidade e aos serviços essenciais que os manguezais oferecem gratuitamente.
A comunidade internacional, incluindo locais como Hong Kong, na China, já enfrenta desafios semelhantes, evidenciando a importância de uma abordagem global e colaborativa para a conservação desses ecossistemas cruciais.
Por fim, segundo os especialistas, o caso da Baixada serve como um alerta crítico da necessidade de políticas mais ágeis e ações proativas para proteger os manguezais e outros ecossistemas vulneráveis do Brasil e do mundo contra ameaças externas.
Continua depois da publicidade
A introdução dessa espécie invasora na Baixada levanta questões urgentes sobre a gestão e controle de espécies forasteiras no Brasil, especialmente em áreas de preservação permanente e unidades de conservação.
Conforme explica Eysink, qualquer interferência que perturbe o equilíbrio do manguezal é motivo de grande preocupação. De acordo com o trio, é importante lembrar que espécies invasoras, sejam elas fauna, flora ou microrganismos, precisam ser erradicadas, segundo a regulamentação brasileira sobre o tema.
"Apesar de não se tratar de uma unidade de conservação federal, a área em foco é uma zona de preservação permanente, abrangendo Cubatão, São Vicente e outras regiões interligadas", sinaliza a professora.
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade