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Cotidiano
Moradores do Grajaú, na zona sul de São Paulo, estão adotando a bicicleta como meio de transporte para fugir do trânsito intenso nos horários de pico
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Morador conta que decidiu optar pela bicicleta quando percebeu o tempo que gastava esperando no ponto de ônibus | Antonio Cicero/Photo Press/Folhapress
Moradores do Grajaú, na zona sul de São Paulo, estão adotando a bicicleta como meio de transporte para fugir do trânsito intenso nos horários de pico e economizar tempo e dinheiro na ida para o trabalho. A troca dos modais têm tornado o deslocamento mais rápido, mas a falta de ciclovias no distrito é motivo de reclamação entre os novos ciclistas.
José Adilson Ribeiro, 49, faz o percurso de bike entre o bairro onde mora, o Jardim São Bernardo, e o Terminal Grajaú há quatro anos. Ele conta que decidiu optar pela bicicleta quando percebeu o tempo que gastava esperando no ponto de ônibus.
"Levo 15 minutos para chegar [de bicicleta]. De ônibus é bem mais porque tem que esperar nos pontos, então chego primeiro que o ônibus", explica. Depois que a bicicleta entrou na rotina para o trabalho, Ribeiro passou também a pedalar nos momentos de lazer. "Só não vou para o centro porque é muito perigoso", conta.
Há dois anos, quando pedalava na avenida Dona Belmira Marin, uma das principais vias do distrito, ele quebrou o braço ao ser atingido por um carro. "O ônibus deu passagem para o carro e eu estava sem visão'', conclui.
A avenida Dona Belmira Marin é a principal via de acesso para bairros como Parque Residencial Cocaia e Cantinho do Céu. Nela não há faixa exclusiva para bicicletas e os ciclistas precisam passar entre carros, ônibus e motos.
Segundo o Infosiga, sistema do governo estadual que gerencia as informações sobre o trânsito em São Paulo, entre 2019 e 2022 foram registrados 42 acidentes com ciclistas na Belmira Marin.
"Ou você ocupa a faixa ou você vai para a calçada e carrega a sua bike", comenta a grafiteira Stephanie Cristina Vieira, 21, sobre a avenida.
Ela começou recentemente a usar a bicicleta no caminho entre sua casa, na Vila São José, e a Estação Grajaú, da linha 9-esmeralda, onde pega o trem para o trabalho.
"De bicicleta [levo] no máximo sete minutos. Se fosse de ônibus ia dar uma meia hora, 25 minutos", afirma a artista. A bike fica guardada no bicicletário da estação até que ela volte à noite para buscá-la. O espaço tem vaga para 178 magrelas. Segundo a Via Mobilidade, que administra o local desde 27 de janeiro, em média 72 pessoas utilizaram o local diariamente entre janeiro e junho deste ano.
Moradora do bairro Jordanópolis, Naiara Martinez, 29, foi outra a adotar a bike para economizar tempo. Ela conta que o ônibus até a estação Grajaú dá muitas voltas no bairro, enquanto de bicicleta consegue fazer o mesmo trajeto em um terço do tempo.
"Nesse percurso eu gastava quase meia hora para chegar à estação. A pé, por dentro [do bairro], eu gasto 20 minutos e de bicicleta eu gasto dez minutos'', afirma. A troca dos modais trouxe ainda outras vantagens, segundo a ciclista. "Economizo uma passagem e faço exercício físico."
Também é o caso de Franklin Almeida, 33, que vive no Jardim Lucélia e usa a bike como meio de transporte para trabalhar e ir para a academia. Entre os motivos para trocar o uso do carro e do ônibus pela bicicleta estão o trânsito, o aumento da gasolina e os cuidados com a saúde. "É um meio [de transporte] que você cuida da saúde", afirma.
Ele lamenta, no entanto, a ausência de ciclovias no bairro. "Se você vai para a avenida Atlântica [no bairro vizinho] tem, no centro tem", comenta. Ele diz que os motoristas não respeitam os ciclistas, o que coloca em risco a segurança de quem pedala. "Quando eu vejo que tem carro próximo já vou para a calçada", afirma o morador.
A região do Grajaú conta com apenas uma ciclovia, a Teotônio Vilela, que fica na avenida de mesmo nome e tem 4,1 km. Outras grandes avenidas, como a já citada Belmira Marin, a Paulo Guilguer Reimberg e a Antônio Carlos Benjamin dos Santos, não contam com a separação entre bicicleta e outros veículos.
Criador do movimento Bike Zona Sul, Paulo Alves, 38, conta que já instalou quatro "ghosts bikes" no distrito -bicicletas pintadas de branco e que homenageiam ciclistas mortos no trânsito naquele local.
"Para a gente já é um número muito alarmante", afirma. Duas delas foram na Belmira Marin, onde o Infosiga também registrou duas mortes nos anos de 2015 e 2017.
O Bike Zona Sul surgiu em 2013 como uma página no Facebook para compartilhar experiências e desafios de pedalar na zona sul da cidade. Pouco tempo depois, a página deu origem a um coletivo de ciclistas da região, que reivindica melhorias na mobilidade para as periferias.
"A gente entende que é papel do poder público criar infraestrutura e campanhas de educação também para que as pessoas possam andar em segurança", explica o ciclista, que pedala há mais de uma década.
Ex-morador do Grajaú, Reimberg conta que o projeto de duplicação da Belmira Marin desenhado pela gestão do então prefeito Fernando Haddad (PT) em 2014 previa a construção de uma ciclovia na avenida, mas que a via exclusiva para bicicletas nunca saiu do papel.
Questionada se tinha novos planos para a instalação de ciclovias ou ciclofaixas na Belmira Marin, a Prefeitura de São Paulo respondeu, por nota, que não tem nenhum projeto para o local.
"A avenida Belmira Marin, por suas características, não comporta a implantação de uma estrutura cicloviária. Alternativas aos ciclistas estão em estudo e serão contempladas até o fim da execução do Plano Cicloviário da capital", diz a gestão Ricardo Nunes (MDB).
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