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Cotidiano
Com medo da sequência de crimes, moradores resolveram criar grupos em apps de mensagens em que debatem a movimentação do chamado fluxo
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Região da cracolândia | Willian Moreira/Futura Press/Folhapress
A migração de um grupo de usuários de drogas e moradores de rua da praça Princesa Isabel, onde estava a cracolândia em São Paulo, para as proximidades da esquina da rua Helvétia com a avenida São João tem aumentado o sentimento de insegurança na região.
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Com medo da sequência de crimes que têm acontecido ali, moradores resolveram criar grupos em aplicativos de mensagens em que debatem a movimentação do chamado fluxo –termo usado para identificar a concentração dos usuários–, que constantemente tem migrado da Helvétia para a rua Doutor Frederico Steidel. Os grupos também são usados para relatar roubos, furtos e agressões que ocorrem na vizinhança.
Na noite de quarta-feira (17) um morador divulgou um vídeo em que mostra um homem cercado por várias pessoas que tentam tomar seus pertences na avenida São João, na altura da rua Ana Cintra. Ele chega a ser derrubado no chão e arrastado. O trio só o deixa ir embora após a chegada de um outro homem, que expulsa os agressores.
O delegado titular do 77º DP, na Santa Cecília, Severino Pereira de Vasconcelos, confirmou à reportagem que os roubos aumentaram nas últimas semanas. Ele explica que a movimentação do fluxo leva consigo os crimes que acontecem no entorno da cracolândia.
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"Os usuários vão em quatro ou cinco, cercam a vítima e 'depenam' ela, levam celular e carteira para vender na feira do rolo [dentro do fluxo]. Eles querem dinheiro para poder fazer continuar consumindo", disse ele.
A reportagem conversou com duas vítimas que relataram a dinâmica dos ataques e o medo de sair de casa. Uma loja também teve sua porta de ferro arrombada e ferramentas que estavam dentro de um carro estacionado no estabelecimento foram furtadas.
Os moradores foram unanimes em apontar que após a ação que dispersou os dependentes químicos da praça Princesa Isabel durante a madrugada de quarta-feira (11), aumentou o número de ataques nas proximidades do terminal Amaral Gurgel e metrô Santa Cecília.
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Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que a Polícia Civil avalia todas as possibilidades para combater o tráfico e o uso aberto de drogas, dentro dos limites da lei, nas ruas de São Paulo. O comunicado também afirmou que Polícia Militar atua na região nas atividades de policiamento preventivo e ostensivo com a presença de duas bases fixas e duas móveis.
À reportagem, um adolescente de 17 anos disse que teve sua bicicleta roubada na segunda-feira (16), por volta das 21h30 –a dupla de criminosos ainda tentou levar seu celular, mas não conseguiu.
Quem também foi atacada recentemente na região foi Maria (ela pediu para não ter o restante do nome divulgado), uma síndica de 56 anos. Ela teve correntinha de ouro levada na tarde do sábado (14), nas proximidades do cruzamento da Helvétia com rua das Palmeiras.
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"Eu estava vindo do mercado. Eu estava com as duas mãos ocupadas. Eu estava com a correntinha exposta no pescoço. Quando eu senti já foi aquela mão rasgando o meu pescoço, para arrancar a correntinha", relatou em entrevista.
Segundo Maria, após notar que havia sido atacada, ela se virou e viu que o homem seguiu na direção do fluxo.
Moradora da região há 16 anos, ela disse que o bairro está perigoso, e que se sentiu intimidada ao ir até o mercado novamente nessa semana e dizer não a um homem que havia pedido dinheiro para ela.
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"A situação está bem perigosa. Está realmente uma coisa muito complicada. A gente quer que as autoridades tomem uma providência. A gente está refém da situação".
Maria também relatou que seus vizinhos estão com medo, alguns até mesmo deixando de sair para jantar devido ao medo de que algo aconteça. "Ninguém mais sai para jantar fora, para ficar na rua tarde. As crianças vão às aulas e a gente tem medo que aconteça alguma coisa".
Assim como o adolescente que teve a bicicleta tomada, Maria também não foi até uma delegacia realizar um boletim de ocorrência. "Não fiz boletim de ocorrência, porque não vai adiantar nada. A delegacia era o lugar onde as pessoas deveriam se sentir seguras, mas eu, particularmente, tenho até medo de procurar a delegacia, já prevendo uma resposta negativa".
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Quem também amanheceu com o prejuízo foram os donos de ferramentas furtadas de um carro que estava estacionado dentro uma loja na alameda Barão de Limeira, altura do número 500.
Segundo a zeladora Siomara Araújo, que conhece as vítimas, o furto ocorreu por volta das 4h de segunda-feira (16), quando pessoas teriam arrombado a porta de ferro do estabelecimento, que está fechado há cerca de um ano, e conseguiram abrir o automóvel que estava lá dentro.
"Levaram as ferramentas de trabalho, como furadeira. Tentaram levar a bateria do carro, mas não conseguiram".
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Siomara, que tem a chave do estabelecimento que foi arrombado, contou que a restauração da porta ficou em R$ 1,2 mil. O proprietário do automóvel, que alugava o lugar como estacionamento, resolveu deixar o carro em outro local, segundo ela.
"Eu não caminho mais no Minhocão, cancelei a academia, porque não saio mais depois das 18h", acrescentou a mulher.
Ainda conforme a SSP, entre janeiro e março deste ano, 62 pessoas foram presas ou apreendidas e 10,2 kg de drogas foram apreendidos em toda a região. A pasta ainda informou que, além das unidades territoriais, o registro das ocorrências pode ser feito pela Delegacia Eletrônica.
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Um balanço da Secretaria de Estado da Saúde apontou ainda que a busca de dependentes químicos por tratamento aumentou 23% na região central da Nova Luz após a intervenção policial na praça Princesa Isabel.
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