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Cotidiano
Moradores rebateram as afirmações do prefeito, que havia afirmado que seu projeto foi abortado porque moradores de média e alta renda bloquearam a ideia
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Praia de Maresias em São Sebastião é ponto turístico no litoral norte paulista | Luciano Vieira/ PMSS
Moradores da praia de Maresias que participaram do debate sobre a construção de casas populares no bairro rebatem afirmações do prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB-SP), de que seu projeto foi abortado porque moradores de média e alta renda bloquearam a ideia.
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"Não é verdade. Nunca fomos contra esse projeto", diz Eliseu Arantes, que presidia a Sociedade Amigos de Maresias (Somar) em 2020, quando a proposta foi apresentada.
Ele é dono de um estabelecimento comercial na região, o Supermercado Bom Gosto.
"A verdade é que, na época, fomos surpreendidos com o anúncio de construção de cerca de 450 casas em Maresias.
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E o bairro tinha apenas 17 famílias em áreas de risco. A associação se posicionou de forma contrária, por um motivo principal: não há saneamento básico em Maresias para suportar a chegada de um número tão grande de novos moradores", afirma ele.
Eliseu Arantes diz também que um estudo naquele ano demonstrou que as casas seriam construídas em uma "área de charco".
"Como trazer tantas pessoas para um bairro que já sofre com problemas de saneamento, água, praia poluída e ainda mais em uma área não apropriada?", segue ele. "Maresias já estava sofrendo, com bandeira vermelha em suas praias", diz. "O bairro está saturado."
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O empresário afirma ainda que das reuniões não participavam apenas "ricos", como diz o prefeito, mas também caiçaras e outros moradores de baixa renda.
"Eles eram maioria nas reuniões, e os mais preocupados", afirma. "Além do problema principal, de falta de saneamento e água, existe uma tensão em relação à segurança. A aglomeração de casas facilita a chegada do poder paralelo", segue.
"Retrataram as reuniões de forma pejorativa, como se fossem os ricos tentando impedir a construção das casas. E não era isso", diz ele.
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O prefeito Felipe Augusto afirmou ao UOL que foi impedido de levar o projeto de habitação popular adiante, na modalidade Minha Casa Minha Vida, porque moradores de renda maior não queriam saber de habitações populares por perto.
"Há dois anos, lancei um programa para a construção de 400 casas. Houve um absurdo: os moradores de média e alta renda, incluindo empresários e famosos, reuniram-se com a prefeitura simplesmente negando a construção de casas populares. Fui simplesmente bloqueado por pressão popular e cancelaram nossos programas na Caixa Econômica Federal", afirmou.
O ex-presidente da associação de moradores do bairro afirma que o prefeito é "uma pessoa dinâmica, mas não se constrói uma casa pelo teto", diz ele.
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Fábio Wajngarten, que tem casa em Maresias e na época comandava a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo de Jair Bolsonaro, participou de reunião da Somar.
"Ele foi convidado por mim porque entendíamos que poderia impulsionar os investimentos em esgoto na região", afirma Eliseu. "Ele nunca foi contra a construção de casas populares. Pelo contrário", declara.
O ex-presidente da associação afirma que novos condomínios, de casas para pessoas de maior renda, seguem sendo construídos em Maresias. "Mas eles instalam seu próprio sistema de tratamento de água e esgoto", diz.
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"Ainda assim, há uma preocupação, também em relação a eles, pelo risco de Maresias ter mais gente do que sua estrutura suporta", afirma.
A coluna conversou também com integrantes de outra associação, a Samarê (Associação Amigos de Maresias Residencial), que também foram contra a construção de um novo conjunto habitacional na região.
Eles afirmam que veem nas declarações do prefeito a tentativa de jogar a culpa pela tragédia das enchentes nos "ricos", quando a situação seria muito mais complexa.
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Afirmam ainda que São Sebastião tem 114 km de praia, e que colocar a responsabilidade nos ombros de moradores de Maresias, que tem apenas 4 km, pode ser entendida como uma tentativa de tirar o foco das responsabilidades do poder público.
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