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Cotidiano
Não existem mais os grandes fluxos, mas moradores e comerciantes convivem com o tráfico e o consumo de drogas em pontos distintos
10/06/2022 às 09:03 atualizado em 10/06/2022 às 09:08
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Região da cracolândia | Danilo Verpa/Folhapress
Um grupo de moradoras do Complexo Júlio Prestes, conjunto de prédios populares no centro de São Paulo, decidiu se mobilizar para reclamar de um problema crônico na região e que dá sinais de agravamento nos últimos dias: a presença de uma parte do fluxo da cracolândia nos arredores do residencial.
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"Estamos pedindo ajuda porque a cracolândia está na porta do nosso prédio", diz a autônoma Danielle Barreto, moradora de prédio localizado na avenida Duque de Caxias. "Eles retornaram e vivemos com medo de sair de nossa própria casa, pois são agressivos", completa, referindo-se a usuários de crack acampados na calçada.
Esta semana, o secretário-executivo de Projetos Estratégicos do município, Alexis Vargas, admitiu que a concentração de usuários de drogas no centro de São Paulo está mais dinâmica e dispersa.
Não existem mais os grandes fluxos (como é chamada a concentração de usuários), mas moradores e comerciantes convivem com o tráfico e o consumo de drogas em pontos distintos da região central.
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Outra moradora do residencial relata que houve uma melhora quando a concentração de usuários deixou o entorno da praça Júlio Prestes, em março deste ano, e mudou para a praça Princesa Isabel. No entanto, após uma grande operação policial, os usuários voltaram a se espalhar e semanas depois uma parte voltou ao antigo endereço.
"Temos observado o esforço deles em retornar ao lugar da origem", diz a moradora, com medo de divulgar o nome.
Ela vive no Complexo Júlio Prestes desde 2019 e diz ter ouvido a promessa de que a cracolândia sairia da região quando o residencial foi inaugurado, em 2018, após construção em regime de PPP (parceria pública privada).
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As cinco torres ficam em um espaço planejado para abrigar também lojas e supermercado e fazem parte de proposta do governo estadual para revitalizar a área central e instalar moradores perto dos seus empregos.
"Pagamos imposto, condomínio e nossa prestação habitacional", ressalta a moradora. Segundo ela, é grande a insatisfação com a violência na região e não faltam relatos de agressões e roubos.
O namorado de outra moradora, por exemplo, sofreu uma tentativa de roubo quando caminhava em direção à Estação da Luz após ser cercado por um grupo de homens. Ele foi agredido, caiu e conseguiu passar pelo meio das pernas de um dos criminosos. Voltou para o prédio com a calça rasgada, sujo e o joelho sangrando.
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"Quando os usuários de drogas caem para esse lado parece que ninguém se importa muito", acredita uma das primeiras mulheres a viver no complexo. "Pagamos um imposto altíssimo para passar todos os dias por fezes, urina e vômito".
A professora aposentada Dionísia Brito, que também mora no prédio da Duque de Caxias, conta que ia para o terminal Princesa Isabel por volta das 7h30 e foi atacada por dois homens que a seguiram, seguraram o seu braço direito e tentaram cortar a alça da bolsa.
"Gritei e corri. Consegui entrar no terminal, mas com a bolsa pendurada por um fio", relata.
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Assustada, Dionísia está com medo de sair de casa. "Eu conheço o sofrimento das pessoas daqui que saem todos os dias para trabalhar", diz.
Quando tem coragem de ir para a rua, ela prefere não levar o celular. Nos dias em que é necessário carregar o aparelho, deixa no modo avião para não tocar e chamar a atenção.
A professora aposentada mudou também o jeito de se vestir. Usa roupas e calçados que facilitam a locomoção para o caso de precisar correr.
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"Temos essa moradia onde pagamos prestação alta, IPTU alto, condomínio salgado para não termos o direito de andar com segurança", reclama Sidneia Antônia Salles.
Há três anos na torre 3 do complexo residencial, a funcionária pública aposentada acredita que caiu em uma "roubada" ao comprar o apartamento financiado.
"O cheiro é horrível, há fezes, se deixar o carro na rua quando a gente volta encontra os vidros estourados", afirma.
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Segundo ela, a situação piorou, pois há mais registros de tentativas de roubos e violência, sempre com grupos de três ou quatro pessoas entre os agressores.
Outra moradora do complexo conta que acreditou em melhorias para a região quando a cracolândia saiu do entorno da praça Júlio Prestes e, depois, foi retirada da praça Princesa Isabel.
"Foi um momento de respiro. Achamos que havíamos vencido a batalha", diz.
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No entanto, um mês depois os usuários de drogas voltaram e, segundo ela, agora o cenário é pior.
Autônoma e sem horário fixo de trabalho, ela enfrenta dificuldades para se locomover na região. "Antes ficava um ou outro usuário na avenida Duque de Caxias. Agora ficam cerca de 100 durante o dia, na ciclofaixa, em frente ao portão do prédio".
Segundo a trabalhadora autônoma, durante a noite a quantidade dobra, com concentração em frente e na lateral do prédio. "Fiquei sem opção de ônibus e de trem para voltar para casa. Não dá para circular na rua. Não dá para fazer absolutamente nada".
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