A+

A-

Alternar Contraste

Sábado, 23 Novembro 2024

Buscar no Site

x

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp
Home Seta

Cotidiano

Moradoras de conjunto popular em SP dizem estar cercadas pela cracolândia

Não existem mais os grandes fluxos, mas moradores e comerciantes convivem com o tráfico e o consumo de drogas em pontos distintos

10/06/2022 às 09:03  atualizado em 10/06/2022 às 09:08

Continua depois da publicidade

Compartilhe:

Facebook Twitter WhatsApp Telegram
Região da cracolândia

Região da cracolândia | Danilo Verpa/Folhapress

Um grupo de moradoras do Complexo Júlio Prestes, conjunto de prédios populares no centro de São Paulo, decidiu se mobilizar para reclamar de um problema crônico na região e que dá sinais de agravamento nos últimos dias: a presença de uma parte do fluxo da cracolândia nos arredores do residencial.

Continua depois da publicidade


"Estamos pedindo ajuda porque a cracolândia está na porta do nosso prédio", diz a autônoma Danielle Barreto, moradora de prédio localizado na avenida Duque de Caxias. "Eles retornaram e vivemos com medo de sair de nossa própria casa, pois são agressivos", completa, referindo-se a usuários de crack acampados na calçada.


Esta semana, o secretário-executivo de Projetos Estratégicos do município, Alexis Vargas, admitiu que a concentração de usuários de drogas no centro de São Paulo está mais dinâmica e dispersa.


Não existem mais os grandes fluxos (como é chamada a concentração de usuários), mas moradores e comerciantes convivem com o tráfico e o consumo de drogas em pontos distintos da região central.

Continua depois da publicidade


Outra moradora do residencial relata que houve uma melhora quando a concentração de usuários deixou o entorno da praça Júlio Prestes, em março deste ano, e mudou para a praça Princesa Isabel. No entanto, após uma grande operação policial, os usuários voltaram a se espalhar e semanas depois uma parte voltou ao antigo endereço.


"Temos observado o esforço deles em retornar ao lugar da origem", diz a moradora, com medo de divulgar o nome.


Ela vive no Complexo Júlio Prestes desde 2019 e diz ter ouvido a promessa de que a cracolândia sairia da região quando o residencial foi inaugurado, em 2018, após construção em regime de PPP (parceria pública privada).

Continua depois da publicidade


As cinco torres ficam em um espaço planejado para abrigar também lojas e supermercado e fazem parte de proposta do governo estadual para revitalizar a área central e instalar moradores perto dos seus empregos.


"Pagamos imposto, condomínio e nossa prestação habitacional", ressalta a moradora. Segundo ela, é grande a insatisfação com a violência na região e não faltam relatos de agressões e roubos.


O namorado de outra moradora, por exemplo, sofreu uma tentativa de roubo quando caminhava em direção à Estação da Luz após ser cercado por um grupo de homens. Ele foi agredido, caiu e conseguiu passar pelo meio das pernas de um dos criminosos. Voltou para o prédio com a calça rasgada, sujo e o joelho sangrando.

Continua depois da publicidade


"Quando os usuários de drogas caem para esse lado parece que ninguém se importa muito", acredita uma das primeiras mulheres a viver no complexo. "Pagamos um imposto altíssimo para passar todos os dias por fezes, urina e vômito".


A professora aposentada Dionísia Brito, que também mora no prédio da Duque de Caxias, conta que ia para o terminal Princesa Isabel por volta das 7h30 e foi atacada por dois homens que a seguiram, seguraram o seu braço direito e tentaram cortar a alça da bolsa.


"Gritei e corri. Consegui entrar no terminal, mas com a bolsa pendurada por um fio", relata.

Continua depois da publicidade


Assustada, Dionísia está com medo de sair de casa. "Eu conheço o sofrimento das pessoas daqui que saem todos os dias para trabalhar", diz.

Quando tem coragem de ir para a rua, ela prefere não levar o celular. Nos dias em que é necessário carregar o aparelho, deixa no modo avião para não tocar e chamar a atenção.


A professora aposentada mudou também o jeito de se vestir. Usa roupas e calçados que facilitam a locomoção para o caso de precisar correr.

Continua depois da publicidade


"Temos essa moradia onde pagamos prestação alta, IPTU alto, condomínio salgado para não termos o direito de andar com segurança", reclama Sidneia Antônia Salles.


Há três anos na torre 3 do complexo residencial, a funcionária pública aposentada acredita que caiu em uma "roubada" ao comprar o apartamento financiado.


"O cheiro é horrível, há fezes, se deixar o carro na rua quando a gente volta encontra os vidros estourados", afirma.

Continua depois da publicidade


Segundo ela, a situação piorou, pois há mais registros de tentativas de roubos e violência, sempre com grupos de três ou quatro pessoas entre os agressores.


Outra moradora do complexo conta que acreditou em melhorias para a região quando a cracolândia saiu do entorno da praça Júlio Prestes e, depois, foi retirada da praça Princesa Isabel.


"Foi um momento de respiro. Achamos que havíamos vencido a batalha", diz.

Continua depois da publicidade


No entanto, um mês depois os usuários de drogas voltaram e, segundo ela, agora o cenário é pior.


Autônoma e sem horário fixo de trabalho, ela enfrenta dificuldades para se locomover na região. "Antes ficava um ou outro usuário na avenida Duque de Caxias. Agora ficam cerca de 100 durante o dia, na ciclofaixa, em frente ao portão do prédio".


Segundo a trabalhadora autônoma, durante a noite a quantidade dobra, com concentração em frente e na lateral do prédio. "Fiquei sem opção de ônibus e de trem para voltar para casa. Não dá para circular na rua. Não dá para fazer absolutamente nada".

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Conteúdos Recomendados