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Cotidiano

Modo avião! Escolas fecham o cerco a uso do celular e aumentam proibição na volta às aulas

O veto em sala de aula já se dissemina, e o banimento total no ambiente escolar começa a ser adotado, normalmente com o apoio -e até o apelo- das famílias

Igor de Paiva

04/02/2024 às 13:00

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Na Escola da Vila, em São Paulo, por exemplo, foi colocado nas salas do ensino médio um suporte plástico ao lado da lousa

Na Escola da Vila, em São Paulo, por exemplo, foi colocado nas salas do ensino médio um suporte plástico ao lado da lousa | Tânia Rêgo/Agência Brasil

Escolas públicas e particulares no Brasil e em outros países ampliam a restrição aos celulares diante de estudos que apontam graves consequências do uso excessivo do aparelho por crianças e adolescentes, tanto para o aprendizado quanto para a saúde mental.

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O veto em sala de aula já se dissemina, e o banimento total no ambiente escolar começa a ser adotado, normalmente com o apoio -e até o apelo- das famílias.

Na Escola da Vila, em São Paulo, por exemplo, foi colocado nas salas do ensino médio um suporte plástico ao lado da lousa, semelhante a uma sapateira, em que os estudantes devem guardar os aparelhos desligados. "Isso tem ajudado bastante a manter o foco nas aulas", diz Pablo Soares Damaceno, diretor do ensino médio.

Ele conta que a escola dá preferência a notebooks e tablets para atividades que envolvem a tecnologia e que, no recreio, tem incentivado a prática de esportes, música e jogos na tentativa de reduzir a dependência no celular.
O avanço das restrições foi recomendado por um relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) do ano passado, contundente ao apontar estudos que mostram uma "associação negativa entre o uso das tecnologias e o desempenho dos estudantes".

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À ocasião da divulgação do relatório, em julho, 1 em cada 4 países já tinha regras para restringir o celular nas escolas e, entre os que haviam anunciado o veto, estavam Espanha, Portugal, Finlândia, Holanda, Suíça e México. Desde então, o banimento vem ganhando espaço em outros países, entre os quais o Canadá e os Estados Unidos.

É um movimento oposto ao do primeiro momento do pós-pandemia, quando, depois das aulas online, as escolas entenderam que deveriam incorporar o celular, considerando também as dificuldades de sociabilização dos alunos causadas pelo isolamento.

Da mesma forma, ampliou-se o uso de tecnologia na educação, e o celular ganhou status de ferramenta pedagógica, tendo, inclusive, o uso requisitado em sala de aula. A ideia geral era a de aproveitar o que seria o lado positivo do celular, a partir da constatação de que ninguém parecia capaz de desgrudar do aparelho.

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Na prática, mostrou-se inviável conter o uso de redes sociais e jogos online pelos alunos e se percebeu que o celular, mesmo quando guardado nas mochilas, atrapalha a concentração.

Em dezembro, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) divulgou dados alarmantes, entre os quais o de que 65% dos alunos de 15 anos nos países pesquisados relataram que se distraem nas aulas de matemática com o celular. No Brasil, a média é ainda maior, chegando a 80%. Quase a metade (45%) dos estudantes disseram se sentir nervosos ou ansiosos quando estão longe do celular.

Diante dos prejuízos evidentes, o controle deverá ser mais efetivo no novo ano letivo.

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Walter Borja, diretor do Colégio Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, de São Paulo, conta que, desde o ano passado, já havia a determinação de proibir os celulares até o 6º ano em sala de aula, "mas o controle era superficial".

"Agora os celulares devem estar desligados e são colocados em uma caixa ou mantidos nas mochilas. Cada sala tem sua caixa", explica. Já a partir do 6º ano e no ensino médio, relata o diretor, antes era estimulada a utilização do celular para pesquisa e outros fins pedagógicos. "Mas agora vamos conter esse uso", afirma.

O Colégio Magno elaborou, com a participação das famílias, alunos e professores, uma nova política do uso do celular, que, a partir de agora, não será permitido nas salas de aula nem para atividades pedagógicas.

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"Entendemos que, sim, contatos externos tiram o foco dos alunos e prejudicam a aprendizagem", diz a diretora Cláudia Tricate. A tecnologia, quando necessária, será utilizada por meio de outros dispositivos, como notebooks e tablets.
Francisco Manuel Ferreira, diretor pedagógico de fundamental 2 e ensino médio da Escola Viva, diz que a proibição total é cogitada para este ano, "a depender das situações que se apresentarem". Por ora, o uso do aparelho é liberado nos intervalos e em sala de aula, para fins pedagógicos, a partir do 6º ano.

"Em função de um uso excessivo e até grave do celular, como a exposição indevida de alunos em redes sociais, consideramos suspendê-lo de forma geral na escola já no ano passado, em algumas séries e por tempo determinado", afirma.

Segundo ele, o veto total tem sido solicitado pelas famílias, mas a escola ainda resiste, por considerar "que o celular faz parte da vida e que a escola é um espaço importante no processo formativo de aprender a lidar com a tecnologia".

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É o mesmo raciocínio da Carandá, em que o uso é proibido até o 5º ano, mas liberado a partir do 6º nos intervalos e, com autorização do professor e para fins pedagógico, nas aulas. "Compreendemos que a educação digital é também responsabilidade da escola e que a proibição do celular no ambiente escolar somente restringe a problemática", defende a diretora pedagógica, Ligia Colonhesi Berenguel.

Nas rede estadual de ensino de São Paulo, o uso da tecnologia vem crescendo na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), inclusive aplicativos em celular.

Questionada sobre o avanço das restrições ao aparelho contra danos a crianças e adolescentes, a Secretaria da Educação, sob comando de Renato Feder, respondeu, em nota, que "o uso do celular em sala de aula é permitido exclusivamente para finalidades pedagógicas" e que "o mau uso das tecnologias é mediado por meio do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva-SP), que prevê o diálogo entre estudantes e gestão escolar e, quando necessário, com a presença dos pais e responsáveis".

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APOIO AO BANIMENTO

Já no Rio de Janeiro, o banimento completo ganha força. A prefeitura da capital lançou uma consulta pública em dezembro sobre a proibição total dos celulares nas escolas municipais, e 83% das mais de 10 mil manifestações da sociedade foram favoráveis.

Com isso, a gestão Eduardo Paes (PSD) publicou um decreto na sexta-feira (2) vetando o aparelho até durante o recreio --com algumas exceções.

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Em agosto do ano passado, um decreto já havia proibido a utilização em sala de aula. O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, menciona a "epidemia de distrações" para defender que haja uma ampliação da restrição ao celular nos intervalos entre as aulas e até no recreio. Ele diz que, sem o celular, as crianças e os jovens têm mais tempo para aprender e conviver socialmente.

A Escola Parque, instituição particular reconhecida no Rio e frequentada por filhos de famosos e intelectuais, elaborou, com a participação das famílias, alunos e professores, o "plano de mudança da cultura do uso de celular", que prevê o recolhimento dos aparelhos antes do início das aulas. Entre as regras para este ano está a proibição total do aparelho por alunos do 6º e 7º, até no recreio.

Para os do 8º e 9º, o uso será liberado em três recreios por semana. O plano também prevê alternativas ao celular para os intervalos, como a organização de rodas de conversa, cineclubes, oficinas de desenho e cubo mágico e RPG.

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"Já vínhamos observando os efeitos nocivos do celular nos estudantes nos últimos anos: adição, distração, redução da privacidade, instrumento para cyberbullying, entre outros", diz Thiago Vedova, orientador do fundamental 2 (6º a 9º ano).

Ele conta que fez um intercâmbio pedagógico em Barcelona, onde observou iniciativas de restrição ao celular. "É um movimento mundial, com o respaldo de pediatras, neurologistas, psicólogos e de entidades ligadas à infância e à educação", aponta.

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