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Cotidiano
Números são bem diferentes daqueles divulgados pela pasta no final de outubro
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Ministério da Saúde | Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Só 1 em cada 10 crianças de 3 e 4 anos do Brasil recebeu a primeira dose contra Covid em três meses de campanha vacinal. Isso indica, de acordo com dados oficiais tabulados pela Folha de S.Paulo, que 13,9% das crianças dessa faixa etária já iniciaram a trajetória vacinal. Já a vacinação completa (com duas doses) é registrada em apenas 4,2% das crianças dessa idade no país.
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Para se ter ideia do que as taxas significam, nos primeiros três meses de campanha vacinal do grupo de 5 a 11 anos no país, no início do ano, mais da metade dessa população já tinha recebido a primeira dose contra a Covid. E vale lembrar: a população estimada de 3-4 anos é bem menor (5,9 milhões) do que o grupo de 5-11 anos (20,5 milhões).
Os dados foram levantados no DataSUS, do Ministério da Saúde. Foram analisados os registros de primeira e segunda doses de crianças de 3 e 4 anos a partir de julho deste ano, quando a imunização com Coronavac nessa faixa etária foi aprovada pela Anvisa e recomendada pelo governo.
Os números são bem diferentes daqueles divulgados pelo Ministério da Saúde no final de outubro. Na época, em resposta aos atrasos na vacinação, a pasta disse, em nota, que a taxa de doses aplicadas nessa faixa etária estava em cerca de 40%.
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Questionado pela Folha de S.Paulo por quase duas semanas após os dados tabulados, o Ministério da Saúde informou que houve um equívoco na pasta e que os 40% de crianças vacinadas mencionados na nota, na verdade, se referiam à segunda dose da faixa etária de 5 a 11 anos no final de outubro (hoje, em torno de 49%). E que a cobertura vacinal contra a Covid em crianças de 3 a 4 anos está, atualmente, em torno de 15% - com a primeira dose, no caso.
A pasta não informou, no entanto, como pretende responder à baixa adesão dessa faixa etária à vacinação.
Os números tabulados pela Folha de S.Paulo mostram, ainda, que Paraná, Ceará e Pernambuco estão entre os Estados com maior adesão às vacinas: têm pelo menos 6,8% das crianças de 3 e 4 anos com as duas doses - o que, mesmo na liderança nacional, é uma taxa muito baixa. Já Mato Grosso, Maranhão, Roraima e Acre não chegam a 1% dessa faixa etária com imunização completa, de acordo com os dados oficiais do DataSUS.
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Há, contudo, um pico de registros de vacinados de 3 e 4 anos contra a Covid no país no Dia D da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação, realizado em 20 de agosto, um sábado - um sinal de que campanhas para vacinação funcionam, sim.
A ação foi voltada para imunização contra pólio, que anda em baixa no país, mas acabou incentivando a adesão a outros imunizantes. Deu certo: o número de primeiras doses contra Covid nessa faixa etária, que nunca tinha passado de 30 mil aplicações diárias, chegou a quase 60 mil no Dia D.
Com isso, agosto registrou cerca de 380 mil primeiras doses contra a Covid aplicadas nos bracinhos de crianças de 3 e 4 anos -mais do que o dobro de setembro, quando foram 152 mil primeiras doses para essa faixa etária.
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"Vacinação se faz com campanhas e planejamento. De nada adianta ter toda a tecnologia do mundo se as vacinas não chegam aos braços de quem precisa", diz a microbiologista Natalia Pasternak, que tem se engajado, como divulgadora científica, na disseminação da importância das vacinas.
"É muito fácil colocar a culpa da baixa adesão nas famílias. Mas a verdade é que, se as campanhas são mal feitas, as famílias não ficam nem sabendo ou acham que não é importante o suficiente."
Dayane Machado, pesquisadora da Unicamp que investiga desinformação e vacinas, lembra que hesitação vacinal não é ativismo antivacinação.
"Precisamos entender quais são os desafios encontrados pelo público para desenvolver medidas compatíveis com as diferentes realidades do país."
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Os motivos de resistência à vacinação contra a Covid de pais e responsáveis têm sido investigado por especialistas de todo o mundo. Trabalho publicado em agosto no periódico "Vaccines" por cientistas de Nova York e da Flórida mostrou que, nos EUA, a resistência dos pais à imunização contra a Covid de seus filhos pequenos tem motivos variados.
Além da preocupação com eventuais efeitos colaterais de vacinação de longo prazo em crianças pequenas, a natureza apressada da aprovação dos imunizantes e a desconfiança em relação a governos e empresas farmacêuticas estão entre as razões da baixa adesão. O estudo mostrou ainda que pais inseguros também eram mais propensos a acreditar que as crianças não eram suscetíveis à infecção e que a vacina não funcionava contra novas variantes.
No Brasil, em artigo publicado no final do ano passado no periódico "Research, Society and Development", cientistas de Pernambuco fizeram uma ampla revisão de literatura para compreender os principais desafios que levam os pais e responsáveis de crianças pequenas a não cumprirem o calendário vacinal. Entre os achados estão o medo de eventuais efeitos colaterais e opção por "estilos de vida naturais".
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Os autores ressaltam, no entanto, que os estoques das vacinas precisam estar abastecidos para que a vacinação dê certo - o que tem sido um problema no país.
A vacinação na faixa etária de 3 e 4 anos chegou a ser suspensa por falta de imunizantes em algumas localidades do país. Caso da capital do Rio de Janeiro, que interrompeu a imunização por falta de primeira dose. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no entanto, negou atraso na vacinação contra a Covid de crianças abaixo de 5 anos no Brasil.
Até agora, a Coronavac é a única vacina disponível para essa idade. Aprovada em setembro pela Anvisa para crianças a partir de 6 meses, a Pfizer pediátrica ainda não entrou no calendário vacinal das crianças abaixo de 5 anos - e, recentemente, foi indicada pelo Ministério da Saúde apenas para bebês com comorbidades. As primeiras doses foram entregues ao governo pela farmacêutica no último dia 27.
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A Folha de S.Paulo extraiu as informações de vacinação do Datasus no último dia 18 e analisou os registros de primeira e de segunda doses contra Covid das crianças de 3 e 4 anos. Em seguida, foi feita uma análise com base na estimativa populacional do IBGE para a faixa etária em 2022, que define as metas das campanhas de vacinação, com posterior checagem das informações junto ao Ministério da Saúde.
O rastreamento nos dados do Datasus é possível porque cada pessoa imunizada é registrada no sistema com um código individual, ao qual estão ligadas informações como idade e dose da vacina recebida.
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