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Cotidiano

Mexilhão invasor preocupa pesquisadores e chega ao litoral de São Paulo

Estudiosos acreditam que descoberta inicial em águas paulistas ocorreu na região do Porto de Santos

Da Reportagem

07/09/2024 às 14:00

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Sem predadores naturais e com condições favoráveis, mexilhão-verde tem se espalhado pela costa brasileira

Sem predadores naturais e com condições favoráveis, mexilhão-verde tem se espalhado pela costa brasileira | Gilberto Caetano Manzoni

Um mexilhão-verde, vindo das águas quentes do Indo-pacífico, foi encontrado no litoral brasileiro e preocupa pesquisadores. No litoral de São Paulo foi detectado em Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela, Peruíbe, Iguape, Ilha Comprida, Cananeia e Santos.

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Essa espécie invasora tem o poder de desestabilizar o meio ambiente e, se continuar se espalhando, pode tomar conta de toda a costa do Brasil. Sem predadores naturais e com condições favoráveis, há seis anos tem se espalhado pela costa brasileira, chegando a estados como Santa Catarina, Paraná, São Paulo e até Ceará.

Registrado pela primeira vez em 2018, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, esse mexilhão já foi encontrado em uma das áreas mais bem preservadas da Mata Atlântica

De acordo com um trabalho a respeito do mexilhão apresentado no último Congresso Latino Americano de Ciências do Mar (Colacmar), em Itajaí (SC), pelo doutor em oceanografia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Instituto de Pesca, Edson Barbieri, a espécie foi detectada pela primeira vez no estado de São Paulo no ano passado. 

Barbieri explicou que a água de lastro, usada para dar estabilidade aos navios, pode transportar várias formas de vida marinha, como larvas, pequenos crustáceos e moluscos, que acabam sendo descarregados com a água quando o navio chega ao seu destino.

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O biólogo e mestre em ecologia, Tiago Ribeiro, que é bolsista da Capes e doutorando na Universidade Santa Cecília, também encontrou o mexilhão-verde durante uma saída de campo na Jureia, no litoral de São Paulo, uma das áreas mais preservadas do Brasil. Desde então, Ribeiro se interessa pelo bivalve e fez uma apresentação sobre sua descoberta no mesmo congresso, em Itajaí.

Porto de Santos

Os estudiosos acreditam que a descoberta inicial em águas paulistas ocorreu na região do Porto de Santos, o que pode sugerir que a espécie tenha chegado ao Brasil dessa forma. Navios vindos de regiões onde o mexilhão é nativo podem ter facilitado a 'invasão'.

“Este processo de descarga de água de lastro ocorre em portos de todo o mundo, criando um circuito global de transferência de espécies que, sem medidas de controle rigorosas, pode levar a invasões biológicas significativas”, explica Edson Barbieri.

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Outro ponto preocupante, segundo Barbieri, é que o mexilhão-verde tem grande capacidade de se espalhar por todo o litoral brasileiro, já que ele se reproduz rapidamente e consegue colonizar diferentes tipos de substratos.

O biólogo Tiago Ribeiro também crê que a introdução do mexilhão-verde na região pode estar associada à água de lastro de embarcações, devido à proximidade ao maior porto da América Latina. Essa hipótese, no entanto, ainda precisa ser estudada com mais profundidade para ser confirmada.

Ribeiro enfatiza que a espécie invasora realmente pode ser tornar um problema para os mariscos nativos e desequilibrar o ambiente. O mexilhão-verde tem grande potencial para se espalhar por todo o litoral brasileiro e, para ele, é fundamental a participação de pescadores no monitoramento dos recursos marinhos.

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“A participação dos pescadores no monitoramento dos recursos marinhos é um exemplo inspirador de como a pesquisa científica e a gestão pesqueira podem se complementar e fortalecer mutuamente. Ao envolver os pescadores nesse processo, promove-se não apenas a coleta de dados de alta qualidade, mas também a construção de um conhecimento compartilhado sobre o mar", diz.

Para o biólogo, a aproximação entre ciência e comunidade pesqueira é fundamental para a formulação de políticas públicas mais justas e eficientes, que atendam tanto às necessidades dos pescadores quanto aos objetivos de conservação dos recursos marinhos.

Barbieri ressalta que a introdução de espécies exóticas também pode ocorrer por meio de práticas relacionadas à aquicultura, pelo comércio de organismos marinhos, pela aquariofilia e até por atividades recreativas, como navegação de lazer, já que, organismos marinhos, como algas, cracas e mexilhões, podem aderir aos cascos de embarcações recreativas e de transporte, incluindo cargueiros, e podem se desprender e colonizar o ambiente local.

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Impacto

O impacto da chegada de espécies invasoras pode ser grande. O pesquisador informa que os invasores podem mudar a biodiversidade local, alterar a estrutura e até o funcionamento dos ecossistemas.

Ele explica que mexilhão-verde, por exemplo, cresce muito mais rápido do que as espécies nativas, ocupando espaço e competindo por alimento, o que pode reduzir a população de mexilhões locais. 

Além disso, o mexilhão-verde pode se sobrepor fisicamente às espécies locais, causando declínios nas populações nativas ao ocupar nichos ecológicos semelhantes.

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Essa espécie também pode alterar a estrutura dos ecossistemas marinhos e modificar a dinâmica dos sedimentos e a disponibilidade de nutrientes, que pode afetar outros organismos, como peixes e crustáceos.

“Muitas dessas espécies são altamente adaptáveis e possuem capacidades competitivas que lhes permitem proliferar rapidamente em novos ambientes, suprimindo ou até eliminando espécies nativas e criando novos desafios para a conservação e a gestão ambiental", enfatiza.

Dessa forma, o pesquisador explica que a conscientização, o monitoramento contínuo e a implementação de políticas rigorosas de gestão de espécies invasoras são essenciais para mitigar os impactos das introduções exóticas e preservar a saúde dos ecossistemas marinhos.

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Barbieri alerta que existe a preocupação de que o mexilhão-verde se espalhe e domine todo o litoral do Brasil, especialmente nas áreas onde as condições ambientais sejam favoráveis e não existam predadores naturais para controlar sua população.

“Sua capacidade de se reproduzir rapidamente e de colonizar diversos tipos de substratos facilita sua dispersão ao longo da costa. Além disso, a falta de barreiras naturais, como grandes extensões de oceano aberto, permite que a espécie se mova de um local para outro. O alerta vermelho está aí, já há registro dessa espécie em Fortaleza.”

Pode comer

É seguro comer o mexilhão-verde, desde que ele seja coletado em áreas limpas e manuseado corretamente antes do consumo. Segundo o professor, assim como outros moluscos, o mexilhão-verde pode acumular toxinas e poluentes da água, o que pode torná-lo perigoso se retirado de áreas poluídas.

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Por isso, é importante garantir que a coleta seja feita em locais controlados e monitorados. 

Barbieri explica que um aspecto importante do mexilhão-verde, como o de outros bivalves, é sua capacidade de modificar o ambiente físico ao seu redor, criando substratos que podem servir de habitat para outras espécies, como cracas, tanto nativas quanto invasoras.

"Isso pode ter efeitos positivos e negativos: por um lado, pode aumentar a diversidade local ao fornecer novas superfícies de ancoragem; por outro, pode facilitar a invasão de outras espécies exóticas", diz.

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A Fundação Florestal e a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística foram procuradas para dar informações sobre o novo mexilhão, se há algum tipo de acompanhamento ou ação, mas até a publicação desta reportagem não enviaram resposta. A reportagem poderá ser atualizada caso os órgãos se manifestem.

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