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Cotidiano
Filiado ao PSDB, Tomás demonstra incômodo com polarização, critica Alckmin e afirma pensar em ser candidato
13/05/2022 às 09:25 atualizado em 13/05/2022 às 09:32
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Bruno Covas e o filho Tomás (arquivo) | Reprodução/Instagram
Adesivos da campanha de reeleição de Bruno Covas, prefeito de São Paulo morto no dia 16 de maio de 2021 em decorrência de um câncer, estão fixados em uma das paredes do quarto de Tomás em uma república em Sag Harbor, Nova York.
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Desde janeiro, Tomás Covas, 16, mora nos Estados Unidos, mas pretende regressar ao Brasil até o mês que vem para terminar o ensino médio na capital paulista.
Em entrevista à Folha, o garoto se emociona ao falar dos momentos que passou com o pai e elogia sua trajetória política. "Para ser sincero, não tenho dúvidas que o meu pai seria presidente do Brasil algum dia. No mínimo, com certeza candidato, e acho que a gente iria, sim, ganhar", afirma Tomás.
"Vejo que é uma grande perda não só para mim, como um pai, um líder, minha inspiração, como é para o Brasil."
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Dos Estados Unidos, Tomás acompanha atentamente ao noticiário e demonstra incômodo com a polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Filiado ao PSDB, assim como o seu pai e o seu bisavô Mário Covas, Tomás criticou a decisão de Geraldo Alckmin, que entrou para o PSB e forma chapa com Lula. "Foi para um partido de esquerda [PSB] e para um projeto, que no meu ponto de vista, é um projeto pessoal."
Confira abaixo a entrevista completa:
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Um ano após a morte do seu pai, como você lida com a falta dele? Não me apego à data, é difícil diariamente. Até o dia em que eu morrer não vou esquecer um dia do meu pai, não vou deixar de lembrar dele em nenhum momento, isso levarei comigo. Para mim, todos os dias são muito complicados. Perder uma pessoa que era até mais do que o meu pai. Mas sei que ele sempre quis que eu, independentemente de qualquer situação, seguisse em frente e, por isso, vou me motivando. Ele não queria que eu ficasse triste, de cama etc. Então vamos tocando na medida do possível seguindo aí como ele dizia, com força, foco e fé.
Como você enfrentou a dor da perda neste recomeço? Sempre tive um psicológico muito bom... Na verdade, três dias após a morte dele, eu fui para escola, inclusive. Era o que o meu pai queria, que a gente continuasse, mas, claro, não tem como não ficar triste, é uma perda assim… e ainda mais pela idade [41 anos], pelo progresso que ele ia ser e o pai que era para mim.
Quais recordações você tem, e qual o legado do político? São lembranças do dia a dia mesmo, eu saía da escola e ia à prefeitura. Antes, em 2014, eu viajava para Brasília com ele. São momentos diários. Minha rotina, meus planos mudaram completamente, meus planos para a escola é preciso repensá-los. Antes nem pensava muito, eu só seguia. Jantava sempre com ele, ficávamos realmente grande parte do tempo juntos.
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Uma cena emblemática dessa parceria entre vocês é a ida ao Maracanã, em janeiro de 2021, numa das fases críticas da pandemia de Covid-19 para acompanhar a final da Libertadores. A paixão do Santos é muito mais minha do que a dele. Ele ia porque sabia que eu gostava, ainda mais na final da Libertadores, sabia da importância do campeonato. Infelizmente não saímos com o título, mas foi uma grande experiência no Rio de Janeiro. Claro, fiquei bravo depois do jogo. A gente ia muito à Vila Belmiro, quando ele conseguia um tempo na agenda, aos domingos. No Pacaembu, a gente foi em quase todos os jogos.
O Bruno foi criticado pela aparição no Maracanã em meio às medidas restritivas na pandemia. Você se abateu com aquilo?Falavam, falavam, não me incomodava, não. A vida de um político é difícil mesmo, faz parte. Eu só me senti culpado no dia por essa situação porque a gente havia sido convidado para ir ao camarote. Se a gente tivesse ficado no camarote, nem iam perceber que a gente estava lá. Falei, ‘camarote não dá, pai’, e a gente desceu, ficamos na arquibancada, nas cadeiras do Maracanã.
Qual o tamanho dessa perda precoce do seu pai para o PSDB e a política? Para ser sincero, não tenho dúvidas que o meu pai seria presidente do Brasil algum dia. No mínimo, com certeza candidato, e acho que a gente iria, sim, ganhar uma eleição para Presidência. Ele era assim, uma cabeça brilhante e fazia política com amor. Passava, sem brincadeira, 15 horas, 16 horas por dia trabalhando. Vejo que é uma grande perda não só para mim como um pai, um líder, a minha inspiração, como é para o Brasil.
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Pelo fato dele ser um político muito agregador, sempre procurando o diálogo, buscando, como ele falava, a política sem ódio, e acho que isso principalmente é o que a gente precisa nos dias, é o que está faltando para o nosso país. As pessoas sabiam disso, muitos quadros políticos falavam isso dele.
Você se preocupa com a conjuntura do PSDB? Claro que vai ter uma candidatura à Presidência e vamos ver como vai se resolver a terceira via, mas um grande quadro que vejo no partido é o Rodrigo Garcia. Ele teve uma relação muito boa com o meu pai. Nos últimos dias até teve a carta formalizando essa vinda dele para o PSDB, não tenho dúvida que o meu pai ajudou muito nisso. Vejo nele semelhanças com meu pai.
Como está o seu envolvimento com o PSDB? A minha relação com o partido é boa, e as pessoas têm me chamado, acho que agora não vou trabalhar porque eu tenho os estudos, o colegial vai ser puxado. Penso também em uma eventual candidatura e quero ter um preparo antes, como o meu pai teve. Ele fez duas faculdades, direito e economia, e esse preparo é fundamental. Tenho em mente fazer direito, não está cravado ainda.
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Você acredita que o seu caminho poderá ser o de disputar à Presidência, assim como vislumbrou para o Bruno? Claro, mas tem um espaço para isso. Não é porque sou filho do Bruno Covas que ganharei uma eleição para presidência. Não me sinto no dever assim, porque ele nunca me forçou a alguma coisa do tipo e a ter uma relação partidária. Obviamente, sabia que eu gostava, me deixava livre, mas nunca pressionou, sempre foi algo natural e vamos ver o que vai acontecer.
Candidato à presidência pelo PSDB, João Doria está patinando, segundo as pesquisas. Acredita que em uma virada? Ele me manda mensagens sempre, tinha muito carinho pelo meu pai e por mim. Nas pesquisas iremos ver, acho que o PSDB vai buscar uma união para uma candidatura única de terceira via. Vamos ver se ele [Doria] vai ser cabeça de chapa ou não, é a esperança que o Brasil pode ter diante desses dois cenários de polarização que vivemos hoje. A população, hoje, não está pensando em quem votar. No cenário que a gente vive, de falta de emprego e muita gente passando fome, as pessoas não estão pensando agora em eleição. Temos que ver como deverá ser definido o cenário para saber qual será a melhor opção.
Você citou união no partido. É possível entre Doria e Eduardo Leite?Com Eduardo Leite, não. Acho que não seria possível. Talvez com candidatos de outros partidos, com o MDB, o União Brasil, sim.
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A vacinação é um dos grandes trunfos do Doria. Poderá contribuir nesse cenário de crise? Só a vacinação não, mas claro que foi um grande feito. Enquanto o governo federal procurou dar cloroquina, a gente buscou a vacina. O João Doria conseguiu trazer a vacina para os brasileiros, vamos ver se ele vai conseguir usar isso a seu favor para crescer nas pesquisas.
Qual a avaliação de Jair Bolsonaro nos Estados Unidos? Não está positiva por aqui, não. O pessoal olha para o Brasil assim, não é um país bem, como posso dizer, aceitável. Não é um país em que as pessoas acham que está numa situação boa, porque não está mesmo. As pessoas não estão vendo com bons olhos o Brasil nos Estados Unidos.
Essa imagem te envergonha, te intimida? Envergonhar, não, porque o pessoal aqui gosta do povo brasileiro, mas claro é uma situação chata. O Brasil não tem uma boa relação, o presidente não tem boa relação com demais países, [falta] de diálogo e comunicação. É uma situação muito difícil e complicada, chata para o nosso país.
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Avalie a decisão de Geraldo Alckmin de se filiar ao PSB e formar chapa com Lula? Meu pai foi convidado [pelo Alckmin] para ser secretário de meio ambiente, gostava de ir à secretaria, era muito bacana. Agora, acho que o Alckmin cometeu a decisão errada, não sei se ele defendeu os seus princípios morais. Não concordei com a saída dele [do PSDB], mas ele fez as escolhas dele, tanto que o PSDB não aceitaria isso. Foi para um partido de esquerda [PSB] e para um projeto, que no meu ponto de vista, é um projeto pessoal.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem dado continuidade à gestão Bruno Covas? Complicado de falar, mas claro, sim, o Ricardo é um cara muito humilde, gosto muito dele e ele, de mim. Mas ele agora é o prefeito, é natural que faça mudanças e escolhas pessoas de sua confiança. Ele é o prefeito e pode fazer o que bem entender. São jeitos diferentes, vamos ver agora como será a gestão. Ele procura manter os princípios, o Ricardo respeitava muito o meu pai.
Com quem você mora nos Estados Unidos e como tem conseguido bancar esta estadia? Moro numa casa com mais seis pessoas, são cinco americanos e um alemão. É uma casa bem tranquila a dez minutos da escola, vamos de ônibus, chego em casa às 17h. Perto de Nova York, daí no final de semana a gente pega um ônibus e vai para lá. Mas não é como São Paulo, dá sempre saudade, só que é uma experiência fundamental para mim. Foi uma pessoa que me ajudou, meu pai vivia realmente do salário dele de político.
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Lembro que quando o Doria saiu da prefeitura reclamaram, porque o Doria doava o salário dele todo o mês. O meu pai não conseguiu fazer a mesma coisa, a gente não ia ter onde morar. Mas uma pessoa está me ajudando, essa oportunidade é única e, por isso, não vou desperdiçar. A educação sempre foi a única coisa que meu pai cobrava. Queria que eu tivesse um bom ensino, então vou aproveitar essa oportunidade.
TOMAS COVAS, 16
Integrante de uma das mais importantes famílias da política paulista, nasceu em 9 de agosto de 2005. É filho de Bruno Covas, que comandou a prefeitura de São Paulo de 2018 a 2021, e da economista Karen Ichiba de Oliveira, e bisneto de Mário Covas, governador do estado entre 1995 e 2001. Foi de Tomás um dos bordões ("A esperança vai vencer os radicais") utilizados pelo pai em sua campanha à reeleição em 2020, quando o o tucano derrotou Guilherme Boulos (PSOL)
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