Mesmo durante greve, empresas dão palestras na USP

Todos os anos, acontecem eventos na Universidade de São Paulo (USP) organizados por centros acadêmicos com o patrocínio de empresas. Essas iniciativas, na visão dos centros, não só são importantes para estreitar as relações dos alunos com o mercado de trabalho, mas também para financiar as diversas atividades dessas entidades durante o ano. No entanto, chamou a atenção a décima edição da Semana de Engenharia Elétrica e de Computação (SEnEC), organizada pelo Centro de Engenharia Elétrica e de Computação (CEE), ter ocorrido no campus normalmente, mesmo durante a greve que afetou as atividades acadêmicas na USP.

Faça parte do grupo da Gazeta no WhatsApp e no Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Conforme noticiado pela Gazeta, os manifestantes pedem a contratação imediata de professores, especialmente nos cursos em que disciplinas não estão sendo oferecidas por insuficiência de docentes ou estão sendo oferecidas de forma precária – levantamento divulgado pela Adusp mostra que, de 2014 a 2023, o corpo docente da Universidade encolheu 17,5%. 

Os eventos realizados nesta segunda-feira (2) foram: Hackaton da HP,  e palestras da ABB, da Beontag e da Morgan Stanley. Segundo divulgado no cronograma oficial da SEnEC, outras empresas também estão programadas para participar durante a semana, como JP Morgan, Siemens, BTG Pactual, Automni, IFollow, Orbis, Hitachi Energy, Giant Steps, Google e Microsoft.

Suposta omissão de envolvimento com a greve

A reportagem ouviu fontes ligadas à organização da greve que optaram por manter sua identidade anônima. Elas apresentaram conversas que revelam pedidos para que não ocorressem manifestações nas dependências do prédio da Engenharia Elétrica durante os eventos da SEnEC. Uma das mensagens dizia que “para garantir a presença das empresas, a organização do evento teve que declarar que não possuía nenhum envolvimento com a greve que está acontecendo”. Veja abaixo:

Isso gerou a revolta de alguns alunos, que questionaram as prioridades do centro acadêmico. “É incompatível, ou incoerente manter atividades durante a greve. No caso da SEnEC, lembro do CEE [entidade que organiza o evento] ter publicado no instagram que por estatuto respeitam as decisões da assembleia e portanto seguiriam a greve. Assim, não vejo sentido em manter o evento durante a paralisação", disse Pedro, aluno da USP há dois anos.

"Entendo que a instituição CEE não necessariamente responda pelos atos de seus membros, no entanto, há registros de integrantes da gestão do Centro Acadêmico defendendo e participando de piquetes. Acredito que isso seja um fator agravante da incompatibilidade, uma vez que além de não terem cancelados o próprio evento, não gostariam que terceiros os forçassem a cancelar, apesar de terem praticado isso durante as tentativas de aulas", complementou.

O jovem ainda afirmou que não entende o que o CEE considera como atividade essencial. "Manter a SEnEC, portanto, me faz questionar sobre o que os alunos que aderiram a greve consideram como essencial para que suas reivindicações sejam atendidas e o porque certos eventos eventos são permitidos durante a greve e outros não", concluiu.

O que diz o CEE

A reportagem entrou em contato com o CEE, que afirmou:

"A SEnEC, Semana acadêmica da Engenharia Elétrica e Computação , é uma semana que aproxima os alunos do universo das empresas para que eles vejam como a Engenharia pode ser aplicada na prática. Essa semana já está em sua 10ª edição e para esse ano, tem sido organizada desde Novembro de 2022. 

A greve por sua vez é uma greve que tem como principal pauta a contratação de mais docentes, e assim, os alunos estão deixando de frequentar as aulas ou provas. 

Nesse sentido, a SEnEC não possui nenhum associação com a greve. Dado que na greve foi proposto que aulas e provas não acontecessem, não há nada sobre outras atividades que possam acolher os alunos na comunidade acadêmica. Tanto que, desde semana passada houve a semana acadêmica da Engenharia de Produção e Engenharia Ambiental, em que vieram empresas palestrar, além disso, também promovemos rodas de conversas para conversar com os professores sobre a greve.

Ademais, vale destacar que as empresas estão cientes da greve na USP, tanto que possuímos e-mails trocados com elas sobre esse tema. 
Reforçamos que a greve é uma reivindicação dos alunos com a diretoria, e a SEnEC, por sua vez, é um evento organizado pelos alunos para os alunos, assim, não é uma atividade relacionada com o movimento grevista."

O que disseram as empresas

A Gazeta questionou as empresas citadas, mas não obteve resposta até a ultima atualização desta reportagem. A matéria será atualizada caso alguma delas resolva se pronunciar.

*Assistente de redação, sob supervisão