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Cotidiano
Marina, que frequenta uma Assembleia de Deus em Brasília e é missionária da igreja, ajudou a convencer Lula da necessidade de aproximar as igrejas com a candidatura petista
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Deputada eleita, Marina pulará o Congresso para entrar direto na Esplanada lulista, nomeada nesta quinta (29) para o Ministério do Meio Ambiente, cargo que já exerceu sob os primeiros mandatos do petista, de 2003 a 2008 | Elza Fiuza/Agência Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não era muito fã da ideia de divulgar, no meio da campanha eleitoral, uma carta direcionada a um eleitorado bastante refratário a ele, o evangélico. Até que Marina Silva (Rede) entrou no jogo.
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Junto com a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), ela fez a interlocução com a equipe de Lula para que enfim saísse do papel um recado direto ao segmento. Lula era arredio à ideia de direcionar sua fala para um único grupo religioso, por achar que isso contraria a laicidade do Estado.
Marina, que frequenta uma Assembleia de Deus em Brasília e é missionária da igreja, ajudou a convencê-lo da necessidade de desinchar a má vontade nas igrejas com a candidatura petista, nutrida por anos de propaganda bolsonarista demonizando a esquerda. A carta saiu só no meio do segundo turno, mas saiu.
Deputada eleita, Marina pulará o Congresso para entrar direto na Esplanada lulista, nomeada nesta quinta (29) para o Ministério do Meio Ambiente, cargo que já exerceu sob os primeiros mandatos do petista, de 2003 a 2008. É, por ora, o único quadro evangélico conhecido no primeiro escalão do futuro governo.
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Um contraponto à gestão de Jair Bolsonaro (PL), que chegava a destacar a fé protestante de ministros como atributo curricular. Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Fabio Faria (Comunicações), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Milton Ribeiro (Educação) são exemplos de crentes alocados na proa bolsonarista.
Marina gosta de repetir que religião e política não dão um bom baião de dois. Em 2014, sua segunda incursão presidencial, fez uma distinção entre "evangélico político" e "político evangélico". O segundo grupo "instrumentaliza a fé" ao transformar "púlpitos em palanques" e vice-versa. Aí que mora o perigo, disse. "Vocês sabem que jamais fiz isso."Criada no catolicismo, cogitou ser freira na adolescência. Em 1995, então senadora, passou por sufocos de saúde, fatura cobrada pela juventude em seringais do Acre.
Enfrentou cinco malárias, três hepatites e uma contaminação por metais pesados, provavelmente causada pela superdosagem de remédios para tratar a leishmaniose, que desencadeou um processo de degeneração neurológica.
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Pulava de médico em médico. Até conhecer um que lhe recomendou "um milagre":
Marina achou aquilo "fora do prumo para um médico". Sentiu-se "com raiva" quando o doutor ligou para um pastor de 20 anos com voz de ancião e a pôs na linha. Pastor André receitou uma bateria de orações. Ela narra a experiência na biografia "Marina: A Vida por uma Causa", da editora Mundo Cristão.
Recebeu a pregação como uma "revelação de cunho espiritual" e, depois daquele encontro, começou a frequentar um grupo de oração. Entrava em filas de enfermos para ser ungida pelos pastores.
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Para uma audiência evangélica, Marina disse que chegou a Deus "pela linguagem da dor". Via-se como "um vaso quebrado pelo qual Deus pagou o preço dobrado, com pagamento adiantado, para receber o vaso 37 anos depois".
Em 2010, assim comparou sua transição de católica para evangélica, em entrevista à revista Rolling Stone Brasil: "Suponhamos que você se apaixone por uma moça e de repente, sem saber, sem querer, você se apaixona por outra. Por que mudou?".
Naquele evento evangélico de 2014, Marina rechaçou a "visão equivocada" de que, por ser evangélica, tentaria impor sua religião. Citou como exemplo seu habitat político: não tentou "transformar" nem o judeu Walter Feldman nem a católica praticante Luiza Erundina, ambos coordenadores da sua campanha na ocasião.
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Ela já reconheceu que sua conversão colheu reações antipáticas dentro do próprio PT, seu partido à época. Em sua biografia, ela conta que alguns colegas de partido foram inclementes. Um disse que sempre pensou nela como uma mulher inteligente, não como uma evangélica.
Uma esquerda reticente à religiosidade evangélica, vista sem nuance alguma como um projeto fundamentalista, temia pelo futuro de agendas caras a ela se Marina assumisse a chefia do Executivo. A ex-senadora, por exemplo, declarou em 2018 que vetaria a legalização do aborto se o Congresso a aprovasse, por preferir um plebiscito sobre o tema.
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