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Cotidiano

Maior parte de escolas yanomamis não tem energia e nem estrutura

A situação é reflexo do garimpo ilegal que avançou no território indígena, que faz fronteira com a Venezuela e, no Brasil, passa por municípios de Roraima e Amazonas

Leonardo Sandre

16/02/2023 às 15:30  atualizado em 16/02/2023 às 16:17

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Pelo menos 570 crianças yanomamis morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome

Pelo menos 570 crianças yanomamis morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome | Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma nota técnica do MEC (Ministério da Educação) aponta um "cenário de total precariedade" da oferta educacional na Terra Indígena Yanomami. Obtido pela reportagem, o documento mostra que, das 26 escolas públicas no território, 11 estão com as portas fechadas.

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Todas as unidades inativas são de responsabilidade de Roraima. Mesmo entre as escolas abertas, todas no estado do Amazonas, infraestrutura e formação docente estão em condições mínimas. Das 15 em atividade, 11 funcionam em locais inadequados, como galpões, ranchos, paióis ou barracões.

Só uma conta com abastecimento de água regular e 13 nem sequer dispõem de energia. Dos 144 docentes vinculados às escolas em funcionamento, 23 concluíram somente o ensino fundamental, 75, só o ensino médio e somente 46 deles têm formação superior. Apenas quatro docentes são concursados efetivos.

O povo yanomami vive uma tragédia humanitária. A situação é reflexo do garimpo ilegal que avançou no território indígena, que faz fronteira com a Venezuela e, no Brasil, passa por municípios de Roraima e Amazonas.

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Pelo menos 570 crianças yanomamis morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome.

A nota técnica foi encaminhada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania com o objetivo de subsidiar as ações. Questionada, a pasta de Direitos Humanos não respondeu à reportagem.

As secretarias de educação de Roraima e Amazonas afirmaram que cumprem com a obrigação da oferta educacional na terra Yanomami.

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O diagnóstico foi realizado pela Secadi (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão) do MEC. A subpasta foi recriada no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e abrange as políticas de educação indígena.

A educação escolar diferenciada para os povos indígenas é fundamentada em diferentes princípios, como o da organização comunitária e da interculturalidade. O documento do MEC ressalta que a legislação exige ação colaborativa de estados e municípios.

Há uma série de peculiaridades nessa oferta, como a anuência dos líderes para a contratação de professores.

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No Amazonas, 13 escolas são municipais e as outras duas, estaduais. As unidades estão nas cidades de Santa Isabel do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira e Barcelos. No caso de Roraima, as unidades sem funcionamento ficam em Alto Alegre, Amajari e Caracaraí.

No total, o MEC registra pouco mais de 2.317 matrículas de crianças e adolescentes indígenas no território yanomami. Cerca de metade está em escolas municipais, e a outra metade, vinculada ao estado do Amazonas.

As escolas também apresentam indicadores piores de aprovação e abandono. A taxa de distorção idade-série é de 47% nas escolas da terra yanomami para os anos finais do ensino fundamental, contra uma média de 21% -esse índice mede o percentual de crianças com dois anos ou mais de atraso escolar.

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O professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) Gersem Baniwa diz que o cenário no território reflete a realidade da educação indígena do país, sobretudo na região Norte. Ele cita como um dos entraves para a qualificação da infraestrutura a falta de um arcabouço legal adequado às dificuldades e os altos custos de construção em locais isolados.

"Há enorme dificuldade para resolver essa situação, não por falta de conhecimento, interlocução e pressão do movimento indigenista", diz. "Até hoje, no entanto, o Estado brasileiro como um todo nunca encontrou e implantou uma política pública adequada para essas realidades."

O País tem 3.300 escolas indígenas, um terço das quais fica no Amazonas e quase todas em terras indígenas. Metade não tem esgoto sanitário, 30% não têm energia elétrica e só 3 em cada 10 têm acesso à internet, segundo levantamento do Instituto Unibanco com dados de 2020.

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As escolas que oferecem educação indígena concentram 274 mil matrículas.

Professor indígena, Gersem Baniwa já integrou o CNE (Conselho Nacional de Educação). Para ele, lidar com a tragédia yanomami passa também pela educação.

"O acesso à educação é fundamental para muitas coisas, como pensar a alimentação nesse contexto atual e, também, formas de proteção do território. Formar uma comunidade é importante para não depender apenas de um líder", diz.

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Presidente da Undime de Roraima, Sueli Magalhães defende ser importante que a oferta escolar indígena seja no território e na língua local, com respeito às culturas. A Undime representa os dirigentes municipais de educação.

"São desafios grandiosos, mas que a situação atual sirva para que políticas públicas, por meio do governo federal e estados, possam apoiar os municípios e essas escolas. Há dificuldades de chegar material, professores, de ter professores formados nas áreas e na língua materna de cada etnia."

Menos da metade das escolas indígenas (48%) usa material didático em língua indígena ou bilíngue (em língua indígena e em língua portuguesa). A maioria (74%), no entanto, ministra aulas em língua indígena.

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Em nota, a Secretaria de Educação de Roraima afirmou que as unidades estão desativadas por "não seguirem um ritmo regular de funcionamento". A pasta disse que não há docentes suficientes porque há dificuldades de contratação, como a falta de pessoas com formação, problemas de acesso e também por causa de conflitos na região.

A pasta ainda citou a interrupção das atividades escolares no território por causa da pandemia de coronavírus. Uma portaria de abril de 2022 garantiria o retorno das atividades.

Roraima tem 226 escolas indígenas. As unidades atendem juntas 17.279 estudantes.

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A secretaria defendeu que tem ações para reformar escolas indígenas, deu posse a 548 professores indígenas em agosto e formou no ano passado 36 docentes para a etnia yanomami. Está prevista a formação de mais duas turmas neste ano.

Também em nota, a secretaria de Educação do Amazonas informou que formou 34 professores indígenas na região e há 51 alunos yanomamis cursando o Magistério Intercultural Indígena.

A pasta oferta educação indígena para 32 municípios, com 64 etnias, em diferentes situações de contato. Em 2023, a secretaria registrou 9.464 alunos indígenas matriculados.

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Ainda segundo a nota, integrantes da secretaria de Educação do Amazonas estiveram no início do ano no território Yanomami para fazer um levantamento sobre possíveis ações e conversar com as comunidades. A pasta aguarda informações sobre demanda de matrículas para organização de turmas.

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