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Cotidiano
Hoje o trilho suspenso da linha 17 está atravessados por árvores que cresceram acima da sua altura, ao longo da avenida Roberto Marinho, na zona sul da capital
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Vigas da Linha 17Ouro do Monotrilho do Metrô de São Paulo em obra na Marginal Pinheiros | Divulgação
A promessa era que as obras seriam mais rápidas, em comparação a uma linha convencional de metrô, e em três anos a linha 17-ouro do monotrilho estaria pronta para a Copa do Mundo de 2014, ligando o aeroporto de Congonhas ao estádio do Morumbi. Neste ano, completa-se uma década de atrasos na previsão de entrega.
Hoje o trilho suspenso da linha 17 está atravessados por árvores que cresceram acima da sua altura, ao longo da avenida Roberto Marinho, na zona sul da capital. O aspecto é de obras abandonadas - e elas já foram paralisadas diversas vezes -, mas o governo estadual ressalta que elas estão em andamento, principalmente nas áreas internas de estações e no pátio de trens.
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Rompimento de contrato por fornecedores, construtoras envolvidas no escândalo da Lava Jato, questionamentos jurídicos, pandemia de Covid-19: uma série de dificuldades contribuiu para que o atraso fosse tão grande. Especialistas apontam, no entanto, que os maiores problemas da linha 17-ouro são o modal escolhido e os termos do contrato.
Segundo o consultor em transportes Flamínio Fichmann, há poucos monotrilhos no mundo e novos empreendimentos desse tipo são cada vez mais raros. É comum que esse tipo de trem tenha problemas estruturais, como trepidação e excesso de peso pressionando os pneus - na linha 15, por exemplo, já houve um pneu estourado e choque entre veículos.
"O monotrilho está servindo como exemplo de como não tomar uma decisão política", diz Fichmann. "O projeto é péssimo porque tem um grande impacto visual, é muito caro comparando com o VLT [Veículo Leve sobre Trilhos, o bonde moderno], ou com o BRT [Bus Rapid Transit, um corredor de ônibus com mais capacidade], e a ideia quando era que custaria um valor não muito grande por quilômetro e ficaria pronto mais rápido. Tudo isso caiu por terra."
O engenheiro Peter Alouche, ex-assessor técnico do Metrô de São Paulo para projetos estratégicos, também já escreveu que faltou "um debate público e sincero na adoção da tecnologia de monotrilho nas linhas 15, 17 e 18". Dessas três linhas, apenas a 15-prata está em operação, e em 2019 o governo estadual anunciou que havia desistido da linha 18-bronze, que foi substituída por um BRT.
No caso da linha 17-ouro, uma das principais dificuldades foi a desistência da fornecedora de trens, a empresa malasiana Scomi, em 2019. O trilho havia sido projetado especificamente para o trem da empresa --o formato é diferente da linha 15, por exemplo-- e não havia uma alternativa à disposição.
A gestão João Doria (à época no PSDB) assinou um contrato com a fabricante chinesa BYD para que ela desenvolvesse um modelo de trem. A intenção era entregar a linha até o fim de 2022. O impacto nas cadeias de fornecimento no mundo todo pela pandemia de Covid-19 atrasou a entrega.
Além disso, o Consórcio Monotrilho Integração, liderado pela Andrade Gutierrez, foi retirado da obra por não cumprir o cronograma e multado em R$ 88 milhões.
No ano passado, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) rompeu unilateralmente o contrato com o segundo consórcio, o Monotrilho Ouro. As obras estavam paralisadas.
Quando houver a inauguração da linha 17, agora prevista para 2026, a perspectiva é de que o funcionamento nos primeiros meses seja de longos e imprevisíveis testes. Será necessário realizar uma série de etapas de homologação e operação assistida antes que o monotrilho funcione plenamente.
Responsáveis pela pasta dos Transportes Metropolitanos durante as gestões de Geraldo Alckmin (2011-2018) no estado, os ex-secretários Jurandir Fernandes e Clodoaldo Pelissioni enviaram nota em que dizem ter empenhado "todos os esforços, garantindo inclusive todos os recursos financeiros, para executar as obras do monotrilho da linha 17-ouro, iniciadas pelo governo anterior".
Eles disseram que a "execução das obras, no entanto, foi prejudicada pela investigação das empresas contratadas pela Operação Lava-Jato. O governo de São Paulo, nesse contexto, adotou todos os procedimentos cabíveis para rescisão dos contratos e realização de nova licitação".
O ex-governador João Doria, procurado por meio de sua assessoria de imprensa, não quis comentar o assunto.
A gestão Tarcísio informou que "retomou as obras das estações, via e pátio" da linha, e que isso foi possível por meio de rescisão e assinatura de novo contrato. O governo estadual também disse que a vegetação que atravessa a via dos trens será cortada em outra etapa da obra.
"Em paralelo são fabricados os trens, sendo que a primeira unidade vai chegar ainda neste ano. "
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