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Cotidiano

Guedes definiu a eleição a favor de Lula, diz Janones

Deputado diz que o estudo sobre desindexação do salário mínimo e as blitzes realizadas pela PRF no dia da eleição foram determinantes para a vitória do petista

Maria Eduarda Guimarães

01/11/2022 às 16:02  atualizado em 01/11/2022 às 16:12

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André Janones

André Janones | Ettore Chirereguini/Gazeta de S. Paulo

O deputado federal de Minas Gerais André Janones (Avante), 38, que desempenhou nas eleições o papel de coordenador informal da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas redes sociais, afirma considerar que o estudo do Ministério da Economia sobre desindexação do salário mínimo e as blitzes realizadas pela Polícia Rodoviária Federal no dia da eleição foram determinantes para a vitória do petista.

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"Se for para eu destacar o episódio que definiu essa eleição, foi o do Paulo Guedes", afirma o deputado, que trocou a candidatura à Presidência em agosto para apoiar Lula.

A Folha de S.Paulo revelou que Guedes trabalhava com a hipótese de mudança das contas públicas que incluía salário mínimo e aposentadoria sem correção pela inflação passada. O ministro negou querer mudar a regra durante o jogo, mas admitiu ser favorável à desindexação, o que foi amplamente explorado pela propaganda do PT na TV, rádio e nas redes sociais.

Advogado do interior de Minas que explodiu na internet após gravar um vídeo em apoio à greve dos caminhoneiros em 2018, Janones reconhece ter veiculado material que pode dar margem a desinformação, mas nega disseminar fake news. "Não tinha outra opção para a gente derrotar eles."

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PERGUNTA - Qual o papel que o sr. considera ter desempenhado na campanha?
ANDRÉ JANONES: Quando eu entrei, o presidente Lula estava à frente. Então eu chego com um propósito claro de segurar o Bolsonaro. Se a gente tem o melhor candidato, as melhores propostas, o maior estadista, se ganha a eleição nas ruas, onde a gente poderia perder? Nas redes. É a última trincheira de defesa do bolsonarismo.

Eu lembro que a gente teve a segunda reunião com a comunicação e o Edinho [Silva, coordenador de comunicação da campanha] disse: "Janones, as redes são para nós o que é Santa Catarina. A gente não vai ganhar em Santa Catarina, a gente tem que minimizar a vitória dele [Bolsonaro]".

Aí eu disse: "A gente não vai diminuir a diferença nem empatar, nós vamos atropelar o bolsonarismo nas redes". Porque eu sei as regras algorítmicas, eu sei a estratégia dele, só que eu faço muito melhor, eu não preciso cometer crimes, eu não preciso cometer fake news. Eu vou no limite do que dá para ir.

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P - No começo houve críticas internas à atuação do sr. Nunca houve resistência?
AJ: Eu cheguei afoito, eu não sabia como funcionava ali. Eu sou de um partido nanico, totalmente diferente. Quando eu chego ali afoito, com a sede de vitória, a vontade de ver o nosso país livre do bolsonarismo, eu falo: "Lula, filma isso daqui, faz uma selfie assim". Não é bem assim, é um processo.
O Lula é um estadista mundial, é de outra geração, tem 77 anos de idade. Ele não ia virar ali um blogueiro da noite para o dia e nem é esse o papel dele. Acho que isso pode ter sido interpretado como um tipo de ruído.

P - O que o sr. considera terem sido os pontos altos da sua atuação?
AJ: Vou falar algo que não tem nenhum dado técnico, nenhuma pesquisa, é meu sentimento. A ação da Polícia Rodoviária Federal de impedir eleitores de votar no Nordeste, na reta final, pode ter sido crucial para nossa vitória.

Ajudou, mas ajudou muito. Porque poderia ter juntado eu, o Felipe Neto [youtuber e empresário, apoiador de Lula], o próprio Lula indo para as redes. A gente não conseguiria gerar o nível de engajamento, arrebatar as pessoas com aquela emoção do tipo "não vão me impedir de votar" como a gente conseguiu com esse episódio da PRF.

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Foram cinco pontos cruciais. Primeiro foi a cortina de fumaça que eu criei, lançando a possibilidade de um celular estar comigo [de Gustavo Bebbiano, coordenador da campanha de Bolsonaro em 2018, morto em 2020]. Eu deixei solto.

O segundo episódio foi o do "pintou um clima" [frase de Bolsonaro dita ao relatar episódio envolvendo adolescentes venezuelanas]. A ação do Roberto Jefferson [que recebeu com granadas e tiros agentes da Polícia Federal], a declaração do ministro Paulo Guedes sobre a desindexação do salário mínimo e o episódio da Carla Zambelli [deputada bolsonarista que sacou uma arma da véspera da eleição e, ao lado de assessores, encurralou um eleitor de Lula].

Se for para eu destacar o episódio que definiu essa eleição, foi o do Paulo Guedes.

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P - Por quê?
AJ: Quem tirou o voto do Bolsonaro, impediu o crescimento do Bolsonaro entre os pobres foi o Paulo Guedes com aquela declaração sobre o estudo para desindexar o salário mínimo. Uma semana antes da eleição, o Bolsonaro crescia entre quem recebe Auxílio Brasil e Lula caía.

Fui para a frente do Ministério da Economia falar isso [desindexação] numa linguagem que o povo entenda. Com todo respeito, mas esses caras não vão entender o que a Folha está falando. Aí é onde o bolsonarismo chega. Eles falam com essas pessoas que estão à margem da discussão.

O Lula cresce dentro desse público com a declaração do Guedes. Da noite para o dia a gente marca uma live com o Lula. Aquela live foi feita dentro de uma sala no aeroporto de Juiz de Fora, tamanha a urgência.

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P - O sr. usa o termo cortina de fumaça e diz que não usa fake news. As falas de que Bolsonaro ia acabar com 13º eram fake news.
AJ: Por isso eu não entrei, eu nunca falei sobre esse tema [que foi explorado exaustivamente pela campanha do PT]. Eu não estou dizendo aqui que é uma fake news, mas eu não vi nada que justificasse isso.
Eu abordei o seguinte: Bolsonaro vai mexer no valor real do salário, da aposentadoria e das pensões. E eu sempre dizia: o Lula me garantiu que não vai mexer na aposentadoria de vocês. O Guedes vai.

P - Mas a afirmação de que o sr. recebeu a informação de que a Zambelli seria presa às 17h do dia da eleição, que tinha mandado expedido. Isso não é uma fake news?
AJ: Eu recebi mesmo, aquilo estava correndo nos grupos. Eu não tinha convicção se tinha amparo real ou não.

Mas foi bom você fazer essa pergunta: eu não acho que os métodos que eu utilizo são os melhores. É a mesma coisa quando eu digo que o Bolsonaro vai acabar com o auxílio emergencial.

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Isso não é uma mentira, tecnicamente. Porque não está na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) o [auxílio] emergencial. Nem todo mundo sabe diferenciar o que é Auxílio Brasil e o que é emergencial.

De fato você pode dar margem a algum tipo de desinformação. Então por isso eu sempre falo que vou no limite. Não acho que isso aqui é puritano. Eu não acho que isso aqui é o melhor dos métodos, ele deixa brecha, sim, para outras interpretações. Mas não tinha outra opção para a gente derrotar eles.

Não tenho vergonha das atitudes que eu tive, faria todas novamente.

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Teve alguma coisa que a campanha de Bolsonaro fez nas redes e vocês não conseguiram barrar? Uma coisa que eles quase conseguiram fazer pegar foi a coisa da censura [decisões da Justiça contra fake news]. Nada, para mim, colocou mais em risco a nossa democracia do que aquela tentativa de forçar a imagem de que eles estavam sendo censurados.

Nesse episódio da censura a gente passou perto de realmente perder essa eleição e consequentemente ver a derrocada da nossa democracia.

P: Qual o papel que o sr. pretende desempenhar no novo governo?
AJ - Manterá o mesmo estilo? Eu não queria ter utilizado muitas técnicas que utilizei nesse período eleitoral. O Lula não venceu um candidato, ele venceu o Estado. Eu já iniciei nas minhas redes a fazer uma transição, restabelecer a paz, o diálogo.

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P: O sr. acha que é possível restabelecer a paz nesse clima de acirramento político?
AJ - No curto prazo, não. É um processo. Mas eu acho que, se a gente não conseguir estabelecer ela, pelo menos que a gente não contribua com o fortalecimento do discurso de ódio.
Eu tenho total consciência de que, se eu ficar tirando sarro, chamando bolsonarista de gado, eu não vou estar contribuindo para restabelecer a paz. Eu vou a partir de agora, através das minhas redes, comunicar o que foi o meu mandato. Eu tenho muito a contribuir com uma discussão política séria no nosso país.

P - O sr. pretende participar ocupando cargos?
AJ: Meu momento ainda é no Legislativo. Que eu possa ter poder de articulação para aprovar projetos, que eu possa ser ouvido pelo presidente da República através das minhas propostas, que eu possa relatar projetos relevantes.

Eu quero ampliar a minha participação. Cargos de liderança ou de vice-liderança estão nesse pacote que eu vou pleitear de forma legítima.

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