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Cotidiano
O trabalho precisa ser contínuo, pois as árvores estão definhando, e o peso das pragas, quando atingidas por ventanias, facilita o rompimento dos galhos
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Ubatuba, no litoral norte de São Paulo | Ligia Hoffmann
Perto das praias de Ubatuba, no litoral norte paulista, uma figura com escada nas mãos representa imagem de guardião da natureza. Onadio Paida, 51, comerciante, há três anos se dedica a cuidar das árvores que compõem a vegetação da cidade.
Ele faz a "limpeza das árvores", dentre elas, amendoeiras, pau-brasil e amoreiras, e estima já ter cuidado de mais de cem árvores. Tudo por conta dele, às vezes com ajuda de alguns voluntários.
O trabalho precisa ser contínuo, pois as árvores estão definhando, e o peso das pragas, quando atingidas por ventanias, facilita o rompimento dos galhos. Há ainda aquelas que morrem.
Paida começou limpando árvores que ficam na praça próxima ao seu comércio e depois passou a cuidar das espécies plantadas na orla do Itaguá. Conta ter investido cerca de R$ 3.000 na compra da escada, serras e cinto de segurança.
Mas ele fica feliz com o resultado. "As árvores que tenho cuidado estão bem saudáveis enquanto as outras continuam sofrendo", conta. Segundo ele, a prefeitura ajuda na coleta do material retirado das árvores.
Lidi Keche, diretora ambiental da ONG Tamoio de Ubatuba, elogia a iniciativa de Paida. "Ele salvou muitas árvores e realiza um trabalho voluntário muito importante para a preservação ambiental em Ubatuba".
A Prefeitura de Ubatuba afirma fazer podas semanais com a participação de dez funcionários, priorizando as espécies nativas, como quaresmeiras, angicos, araçás, cedros-rosas, canelas-amarelas, ingás, paus-jacarés, guanandis, figueiras, urucuns e aroeiras.
Na vizinha Caraguatatuba, outro guardião carrega sacos de lixo nas mãos. Giliard Ferreira, 43, se dedica a limpar praias, costeiras, mangues, ilhas e pontos turísticos há oito anos na cidade, e também São Sebastião e Ubatuba. Ele limpa cerca de 40 praias, 18 delas no município dele.
Ferreira estima retirar cinco toneladas de lixo por ano. Ele soma cerca de 40 toneladas de lixo na natureza e nas praias nos últimos oito anos, incluindo embalagens procedentes de outros países.
O trabalho é extenso: ele se dedica à função de segunda a sexta, em média, seis horas por dia. Usa luvas e botas, utiliza sacos de lixo grossos, devido ao recolhimento de materiais cortantes como vidros e uma espécie de "pegador" adaptado para recolher microlixo.
O voluntário afirma chegar a locais onde os garis da empresa Renovar, contratada pela prefeitura, não alcançam: nas costeiras, encostas, mangues e trilhas.
Segundo o voluntário, nas costeiras, ele coleta o lixo produzido por pescadores. São eles resto de iscas, pedaços de isopor, nylon e bitucas de cigarro. Já nos mangues e na boca de rios, recolhe sapato, sofá e roupas.
Em dezembro de 2019, durante a limpeza do mangue do Camaroeiro, em Caraguatatuba, ele encontrou um bomba de efeito moral, fabricada em 2010, de uso exclusivo das forças de segurança.
O artefato, ainda intacto, foi entregue por ele na delegacia de polícia da cidade e, em seguida, encaminhado para a Polícia Federal, onde passaria por perícia para apurar a procedência.
Ferreira, que tem o segundo grau completo, diz que sempre é convidado para dar palestras em escolas. Ele não cobra nada, apenas solicita um certificado para ampliar seu currículo como ativista ambiental. Foram mais de 30 palestras até agora em Caraguatatuba, São Sebastião e Ubatuba.
A Prefeitura de Caraguatatuba afirma que a limpeza das praias é feita pela Renovar, uma empresa terceirizada, com uma equipe de 15 pessoas. A administração não informou o valor do contrato.
Segundo a prefeitura, as praias mais frequentadas como centro, Martim de Sá e Cocanha, recebem as equipes diariamente. As demais praias são limpas três vezes por semana. Conforme o município, são retirados semanalmente das praias uma média de 15 a 20 toneladas de detritos.
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