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Cotidiano

O cambuci tem a cara e o sabor de São Paulo

Fruta que deu nome a um dos bairros mais tradicionais da cidade está em plena colheita

Diogo Mesquita

27/04/2024 às 14:00

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Ligeiramente doce, mas extremamente ácido como o limão, o cambuci não é muito indicado para o consumo in natura

Ligeiramente doce, mas extremamente ácido como o limão, o cambuci não é muito indicado para o consumo in natura | Reprodução

Num tempo distante, quando São Paulo era mais Piratininga e menos arranha-céu, o tupi era a língua mais falada no Páteo do Colégio e os guarani buscavam a Terra sem Mal. 

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A Consolação e a Rebouças eram apenas uma trilha até o Rio Pi-iêre. e florescia uma mata exuberante em todos os matizes do verde-esmeralda, com frutas de perfumes variados e flores multicoloridas. 

Naqueles dias, a madeira nobre de uma certa árvore servia de alicerce para casas de pau-a-pique. Fundamental na consolidação da “civilização paulista”. Ela batizou um dos bairros mais tradicionais da metrópole e quase foi extinta. E teria sido um prejuízo irreparável. 

Hoje, apenas três exemplares dessa planta são conhecidos na terra de Anchieta. Mesmo assim, ela se tornou a árvore símbolo da Cidade.

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Senhoras e senhores: o cambuci está para São Paulo como o pau-brasil está para o País.

O cambucy vive!

E ele está em plena colheita, em pequenos sítios agroecológicos no extremo sul do Município e em pelo menos 12 cidades do ABC, da Grande São Paulo e do Litoral.

Há até um roteiro turístico no Polo de Ecoturismo de São Paulo, extremo sul da Capital Paulista, onde é possível visitar sítios, barres e restaurantes que se dedicam ao turismo rural.

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O programa permite ao visitante colher direto dos galhos a fruta singular, com formato que lembra um disco voador.

Você já provou o Cambuci?

Ligeiramente doce, mas extremamente ácido como o limão, o cambuci não é muito indicado para o consumo in natura. Em compensação, tem um perfume extraordinário.

Mais rica em vitamina C do que a laranja, parente da goiaba e da pitanga e com nuances de aroma e sabor que lembram a jabuticaba, o cambuci tem bagas com 6 centímetros de diâmetro, polpa cremosa e suculenta, com poucas sementes.

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Com esses atributos, a fruta tem se tornado estrela na harmonização criativa de chefs da alta gastronomia. E também é o ingrediente principal em sucos, licores e geleias. Na indústria de fármacos e cosméticos se destaca pelas propriedades anti-inflamatórias e antibacterianas.

A estimativa é que pelo menos 200 toneladas sejam colhidas a cada safra, que começa pouco antes das chuvas de março e vai até maio. Nesse período, o cambuci também é sinônimo de fartura para tucanos, macacos, pacas e antas, as jardineiras da floresta.

Igreja da Glória, no bairro de Cambuci / Divulgação
Igreja da Glória, no bairro de Cambuci / Divulgação
Vista aérea do bairro do Cambuci, em São Paulo / Rubens Chaves / Folhapress
Vista aérea do bairro do Cambuci, em São Paulo / Rubens Chaves / Folhapress

Passaporte para a eternidade

A fruta alimentou indígenas por décadas, seduziu portugueses e chegou ao século 21 pelas mãos de ‘garimpeiros’ que preservaram tradições seculares.

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Coube aos tropeiros que cruzavam os sertões de Paranapiacaba e Piaçaguera desde o Planalto até a praia, transportar no lombo de mulas as primeiras riquezas produzidas no Estado.

E, também, a alquimia máxima de unir a fruta em formato de disco voador à cachaça descoberta por acaso no Engenho dos Erasmos, na Santos de Braz Cubas dos séculos 16 e 17.

A partir daí, o cambuci ganhou passaporte para a eternidade!

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Valente como o padre José de Anchieta, forte como João Ramalho, resiliente como Frei Gaspar e com a têmpera de Tibiriçá, a árvore resistiu à extinção, buscou refúgio no Vale do Ribeira e no Alto Tietê, onde se multiplicou na histórica Iporanga e na charmosa São Luiz do Paraitinga.

Testemunha das transformações promovidas pelo tempo no cenário e nos costumes dos paulistas e de todas as gentes que para cá vieram, o cambuci virou sinônimo de identidade para municípios do ABC, da Grande São Paulo e do Litoral, que neste século 21 passaram a promover festivais gastronômicos com a fruta.

Maior produtora do fruto, a cidade de Natividade da Serra, no Vale do Paraíba, se autointitula “Capital do Cambuci”.

A contribuição da árvore e de seus frutos é tão significativa que o Instituto Federal, Campus Suzano, e produtores da Rota do Cambuci estão requerendo a indicação geográfica, espécie de reconhecimento internacional à fruta. 

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Roteiro une gastronomia, cultura e turismo

Auá significa ‘gente’ na língua tupi. E, há 20 anos, representa o enfrentamento a desafios socioambientais, especialmente os relacionados à Mata Atlântica e às suas riquezas. Fundado na virada do século, o Instituto Auá promove, há 15 anos, a Rota do Cambuci. O evento convida a “uma jornada de descobertas pela cultura e gastronomia” regionais.  No fundo, o festival é uma celebração não apenas de um fruto, mas de uma comunidade unida em torno da preservação e do resgate do cambuci e de tudo o que a Mata Atlântica tem a oferecer.

Agenda da 15ª Rota do Cambuci
Paranapiacaba – 20, 21, 27 e 28 de abril
Salesópolis – 16,17 e 18 de Maio
Rio Grande da Serra – 24, 25 e 26 de maio
Bertioga/Festival da Mata Atlântica – 31 de maio à 2 junho
Biritiba-Mirim – 21 à 23 de junho
Caraguatatuba/PESM Caraguatatuba – 30 de junho
Caraguatatuba/19º Festival da Tainha & Pescados Caiçaras – 4 a 7 de julho
Salesópolis/PESM Padre Dória – 9 de julho
Caraguatatuba/25º Festival do Camarão – 12 à 21 de julho
São Lourenço da Serra – 10 de agosto
São Bernardo do Campo/Riacho Grande – 21 e 22 de setembro
Parelheiros – 9 e 10 de novembro
Caraguatatuba/14º Festival do Mexilhão – 15 à 17 novembro
Ribeirão Pires – 6, 7 e 8 de dezembro

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