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Cotidiano
Daniel Augusto Jr. conta de livro sobre Cássio, histórias por trás de cliques históricos e lamenta saída do clube durante gestão Duílio
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Daniel Augusto Jr. é ex-fotógrafo do Corinthians, e registrou momentos históricos do clube | Thiago Neme/Gazeta de S.Paulo
“O Cássio é um dos maiores ídolos da história do Corinthians, e muitas vezes é maltratado por essa torcidinha de internet”. A frase é do fotógrafo Daniel Augusto Jr.; responsável pelos cliques de uma das eras mais vitoriosas da história do Timão – de 2008 até março de 2020, quando deixou o clube. Ele visitou a Gazeta nesta semana, e contou sobre o lançamento do seu próximo livro (justamente sobre Cássio), histórias por trás de imagens históricas e do seu amor pelo alvinegro da zona leste da Capital.
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“Vi Rivellino e Sócrates, e para mim, repito, Cássio está entre os maiores ídolos da história do clube. Além de uma pessoa incrível, maravilhosa, tem uma qualidade técnica fora do comum”, destacou o fotógrafo, que colocou o goleiro como o segundo maior ídolo do Timão na sua visão, atrás apenas do Doutor.
Com pai corintiano, o paulistano fez parte dos primeiros passos da Gaviões da Fiel, fundada por apaixonados pelo alvinegro em 1969. Ele iniciou três cursos universitários (filosofia, ciências sociais e jornalismo), mas se encontrou na fotografia em 1977, quando um cunhado disse a ele que isso daria dinheiro.
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Trabalhou em jornais em outras áreas fora do futebol. O seu primeiro grande clique esportivo aconteceu no fim de 1983. Sócrates, de costas, foi registrado sob a chuva do Morumbi na final contra o São Paulo, vencida pelo Timão.
“Havia a discussão sobre a votação da emenda Dante de Oliveira, que restituiria aos brasileiros o direito ao voto direto, e Sócrates dizia que se o direito ao voto fosse restabelecido no Brasil ele não sairia do país para jogar na Europa, na Itália”.
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O projeto, porém, acabaria vetado pela Câmara dos Deputados. “Eu queria registrar esse clima que estava passando. E aquela foto em preto e branco, melancólica, passou exatamente o sentimento de despedida, para caso ele realmente fosse embora”, classificou Daniel.
Ele atuou por publicações importantes de São Paulo, como a revista Placar e o jornal Lance!, até ser chamado para o site do Corinthians em 2003. Só no início de 2008, logo depois da queda do time para a Série B, acabou contratado para para ser o fotógrafo oficial do alvinegro. Daí, passou a acompanhar o dia a dia do clube.
Ele então se apresentou a Mano Menezes, recém-chegado do Sul. O treinador disse, de forma ríspida: “Muito bem. Faça bem o seu trabalho que eu vou tentar fazer o meu”. Ele se sentiu desconfortável. Foi quando percebeu que o auxiliar do treinador não parava de rir.
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“O Mano fez aquilo de sacanagem, só para brincar comigo. Depois me abraçou e tudo mais”, relembra. Para ele, Mano também foi um ídolo dentro do Corinthians.
O primeiro jogo marcante da sua atuação foi durante a final da Copa do Brasil daquele ano, quando o Corinthians perdeu o título para o Sport Recife, fora de casa. Ao fim da partida, ele voltou ao vestiário e topou com os jogadores desolados.
Com discrição, passou a clicar os jogadores. As imagens se tornaram também um símbolo da dor corintiana durante as derrotas.
Esse dia foi importante para ele também porque o meia Marcel o chamou para uma oração junto aos jogadores e a comissão técnica após o jogo. “Ali eu me senti incluído pelo grupo. Foi algo muito bonito”, disse, levemente emocionado.
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A imprensa toda queria uma imagem da barriga de Ronaldo, acusado de estar muito acima do peso após ser contratado, em 2009. Depois de alguns meses, durante um treinamento, o atacante gritou para ele: “Ei, Daniel, tira uma foto da minha barriga. Olha como está tanquinho”.
Ele fez o clique. Só depois percebeu que ao fazer aquela pose, Ronaldo ficava de lado para toda a imprensa que estava no treino, na lateral do campo, o que destacava ainda mais que a barriga realmente estava seca. Foi proposital.
“Ronaldo sempre foi inteligente demais. Ele fingiu que queria que eu tirasse a foto para a imprensa toda ver a barriga dele por aquele ângulo. Eu, claro, fotografei”, lembrou.
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Daniel explicou que uma das regras do bom fotojornalismo é nunca tentar direcionar uma imagem para ela acontecer, mas esperar os fatos naturalmente para, então, clicá-los. Houve uma exceção em 2017.
Naquele Brasileirão, o Corinthians faria uma partida decisiva contra o Palmeiras, e Romero pediu para Daniel ficar com o seu celular na beira do campo, porque ele sentia que faria um dos gols do Corinthians e queria fazer uma selfie após o tento.
“Brinquei com ele: é bom que você faça, porque faz tempo que não faz um gol para a gente”, revelou Daniel.
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“Expliquei para ele qual seria o meu posicionamento em campo: sempre na lateral oposta aos bancos de reserva e sempre no ataque do Corinthians. Naquele dia excepcionalmente trabalhei com duas câmeras: uma com a lente longa de 300mm para cenas distantes, e uma outra com uma lente 24/70mm para cenas mais próximas. Além do celular do Romero”, contou.
E Romero fez o gol. Correu para Daniel, pegou o celular e tirou a selfie histórica, em que aparecem também Camacho, Fagner, Balbuena, Gabriel, Jô e Pablo. A foto virou um dos grandes símbolos da conquista do heptacampeonato brasileiro pelo Corinthians.
“Foi o Romero que me pediu aquilo, então tudo bem, abri essa exceção”, lembrou, entre risos.
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Para ele, as fotografias de jornalismo primeiro precisam conter a informação necessária. Caso ao mesmo tempo contenha também uma boa estética, aí então a imagem se aproxima da perfeição.
Entre as outras fotos históricas registradas por Daniel estão a do gol de Tupãzinho na final do Brasileiro de 1990 (“aquela foi uma foto perfeita: tem informação e tem estética”). Ele só viu que conseguiu a foto na redação da Placar, após a cobrança de Juca Kfouri, então editor da revista.
Há ainda uma série de imagens que registrou durante as principais conquistas do clube a partir de 2008: cinco Campeonatos Paulistas, três Brasileirões, uma Recopa Sul-Americana, uma Copa do Brasil, uma Libertadores e um Mundial de Clubes. As vitórias viraram uma série de livros que contou a história das taças com a assinatura de Daniel Augusto Jr.
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Só tinha uma regra: as fotos tinham que ter vida, contar histórias e, sobretudo, não diminuir a imagem dos atletas do clube. “Nunca iria fotografar alguém pisando num jogador do Corinthians”, revelou.
Ele se afastou das atividades durante a pandemia da Covid-19. Depois de um tempo quis voltar, mas não era convocado pelo clube. Houve um dia, porém, em 2023, em que foi chamado para uma conversa pela gestão Duílio. Foi dispensado ali mesmo.
“Nunca entendi o que aconteceu. Me chamaram, disseram que não precisavam mais de mim, que não renovariam meu contrato e acabou ali mesmo um trabalho de tantos anos. Fiquei chateado, claro. Mas ainda não entendi totalmente por que aquilo aconteceu”, se lamentou.
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O Corinthians é uma paixão de Daniel que rivaliza com outra: o rock n’roll. Como por exemplo, pelos Beatles “A minha vida sempre foi ligada aos Fab Four”, exaltou Daniel.
Para ele, a maior canção dos Beatles é While My Guitar Gently Weeps, de George Harrison – o seu beatle favorito.
Além da banda, outras que ele costuma ouvir bastante é Creedence Clearwater Revival e Rolling Stones.
No Corinthians, porém, não tem jeito: o seu beatle favorito atende pelo nome de Cássio – além de Sócrates, claro.
A pré-venda exclusiva da obra vai contar com apenas 2012 exemplares, que serão numerados e personalizados, contando com o nome do comprador escrito no livro. O lançamento é feito pelo Corinthians, junto da Onze Cultural, e contam com novos depoimentos e imagens exclusivas.
A data para o lançamento do livro ainda não foi revelada, mas a expectativa é que o anúncio seja feito até o fim de maio.
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