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Cotidiano
Levantamento constatou que o vírus tem se tornado mais 'inteligente' e resistente ao sistema imune
27/04/2022 às 10:56 atualizado em 27/04/2022 às 11:09
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Vírus da Covid-19 (ilustração) | Unsplash
Por mais que o momento seja de relaxamento das medidas de prevenção à Covid-19 em todo o mundo, especialistas preveem que novas variantes do coronavírus podem estar por vir nos próximos meses, driblando a capacidade do sistema imune de contê-las. Esta é a conclusão de um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em parceria com o Instituto de Química (IQ) da USP e o Hospital Sírio Libanês.
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Publicado na revista Viruses no dia 16 de abril, o estudo traz uma revisão de mais de 150 artigos sobre o sars-cov-2. Foram analisados diversos aspectos do vírus, como seu potencial de mutação, a capacidade de controle do sistema imune, a transmissibilidade e a eficácia das vacinas. “A principal conclusão a que chegamos é que não devemos deixar o vírus circular, porque não sabemos como serão as variantes nos próximos meses”, afirma Cristiane Guzzo, professora do departamento de Microbiologia do ICB e pesquisadora principal do artigo.
Segundo ela, é um erro acreditar que a pandemia está sob controle e que não se trata mais de uma emergência sanitária, como anunciou o Ministério da Saúde no último dia 18. “Estamos em uma situação confortável para os próximos meses – quando a imunidade criada pelas doses de reforço das vacinas e pelo alto índice de contaminação da Ômicron permanecerá alta. Mas depois a tendência é que as pessoas comecem a se infectar novamente e aí ficaremos sujeitos ao surgimento de variantes ainda mais contagiosas e fortes do que as que conhecemos, o que diminui a eficácia das vacinas. Como não temos como prever como será a evolução da pandemia e como as novas variantes vão se comportar, todo o cuidado ainda precisa ser feito pela sociedade de forma a evitar a circulação do vírus”, destaca.
Mais perigoso
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No estudo, foi observado que o coronavírus é ainda mais mutável do que se imaginava. Isso porque a proteína Spike, parte superficial do vírus que faz contato com as células humanas, segue evoluindo. “Identificamos em primeira mão que 9,5% das mutações produzidas pelas variantes estão localizadas na região N Terminal (NTD) da proteína. Isso mostra que estas mutações não estão diretamente associadas à interação ao receptor humano ACE2, mas afeta principalmente a capacidade dos anticorpos humanos reconhecerem o vírus”, afirma Cristiane.
Os pesquisadores também constataram um número expressivo de mutações (7,7%) localizadas na região RDB, região que promove a interação com a ACE2. O que faz com que o contato entre vírus e célula humana seja maior e assim as contaminações aumentem. “A hipótese encontrada é de que a maioria das vacinas tem como princípio o estímulo da produção de anticorpos que inibam a interação entre a proteína Spike ao ACE2, de forma a diminuir a infecção viral. E uma das formas que o vírus encontrou para burlar essa inibição é modificar a região de interação do vírus com a célula humana”, enfatiza. “O vírus vem evoluindo com o objetivo de se manter vivo e para isso ele está se modificando principalmente para burlar a ação dos anticorpos e conseguir infectar o ser humano”, complementa.
Foram identificados seis mecanismos que a proteína Spike adquiriu de forma a aumentar a eficiência de transmissão do sars-cov-2. Um deles é o aumento da afinidade do Spike ao ACE2. Um outro é o aumento significativo da quantidade de proteínas Spike na superfície de cada partícula viral.
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No artigo, os pesquisadores destacam que outras proteínas do vírus também estão se modificando. Isso ocasiona, por exemplo, o aumento da taxa com que o vírus consegue se multiplicar nas células humanas. “Por esses e outros fatores, o vírus vai aprendendo a driblar a ação dos anticorpos e se adaptar ao ser humano”, acrescenta.
O conjunto de mutações sendo observadas na proteína Spike pode sugerir que o sars-cov-2 possa evoluir para infectar outras células, além das células pulmonares. “O grande medo seria a infecção, por exemplo, de células neurológicas”, afirma Cristiane.
Aumento da transmissão
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Além disso, foi observado que o período em que as pessoas começam a transmitir o vírus tem se iniciado cada vez mais cedo conforme as variantes surgem. Antes ainda do início dos sintomas.
“Vimos que 74% das transmissões pela variante Delta foram feitas por assintomáticos. Na variante original, as pessoas começavam a transmitir o vírus um dia antes do início dos sintomas. Já na Delta, isso passou a acontecer com dois dias de antecedência. São detalhes que mostram que o vírus está evoluindo na sua capacidade de se esconder em nosso organismo. O que também pode estar relacionado com o aumento na gravidade dos casos e na taxa de transmissão”, detalha.
“Isso explica por que cada pessoa contaminada com a variante original transmitia o vírus, em média, para duas pessoas. Já na Delta esse número aumentou para cinco e, na ômicron, a taxa varia entre sete e dez contaminações. Portanto, vale lembrar que as vacinas que temos hoje impedem a mortalidade e os casos graves da doença, mas não conseguem impedir que o vírus circule”, complementa.
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“Nosso estudo vai ao encontro daquilo que apontou a Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente, que o coronavírus ainda segue com o status de emergência à saúde pública por conta de sua evolução imprevisível”, afirma Cristiane. “Precisamos tomar as doses de reforço da vacina, evitar aglomerações, manter a utilização das máscaras, a higienização das mãos e manter os ambientes ventilados”, enfatiza. “Assim, evitamos uma nova onda, postergando o surgimento de novas variantes de preocupação até que possamos descobrir medicamentos eficazes contra a covid-19 e imunizantes, que possam bloquear a infecção e a transmissão viral, além de ativarem a produção de anticorpos que permaneçam por um período mais longo de tempo no corpo humano.”
Texto: assessoria de comunicação do ICB
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