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Cotidiano

Estacionamento improvisado atrapalha cegos no vale do Anhangabaú

No local, veículos ficam estacionados por cima do piso tátil para auxílio na locomoção de deficientes visuais, obstruindo a passagem

Bruno Hoffmann

17/05/2023 às 13:17  atualizado em 17/05/2023 às 13:23

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Vale do Anhangabaú, no centro de SP

Vale do Anhangabaú, no centro de SP | Rivaldo Gomes/ Folhapress

A instalação de grades e tapumes no entorno do vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, tem causado transtornos a pessoas cegas que moram e trabalham na região. No início da avenida São João, em trecho teoricamente reservado ao trânsito de pedestres, gradis demarcavam vagas de estacionamento improvisadas, que são utilizadas por funcionários da prefeitura e da concessionária que administra o vale.

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No local, veículos ficam estacionados por cima do piso tátil para auxílio na locomoção de deficientes visuais, obstruindo a passagem. Alguns carros têm o símbolo da gestão municipal na porta.

"A gente lida com isso todo dia, temos que desviar até de viatura às vezes", disse o massoterapeuta Jeferson dos Santos, que, nesta terça-feira (16), caminhava do trabalho, na rua Libero Badaró, até a estação São Bento do Metrô.

Santos é cego e estava acompanhado de outros três colegas, também deficientes visuais, e de uma acompanhante. "Sozinho não tem nem como, a gente fica batendo bengala e se trombando pelo caminho até alguém ajudar. Podiam colocar alguém orientando", cobrou Weslley Silva, que também é massoterapeuta.

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Após contato da reportagem, a concessionária Viva o vale removeu os gradis, mas a área continuou sendo utilizada indevidamente como estacionamento. Nesta quarta-feira (17), veículos com identificação da prefeitura continuavam estacionando sobre o piso tátil.

A administração municipal, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), foi questionada mas não comentou o uso inadequado do espaço por servidores. Disse apenas que esclarecimentos devem ser prestados pela concessionária. A empresa não se manifestou até a publicação desta reportagem.

De acordo com o grupo de deficientes visuais que passava pelo local, o caminho fica ainda mais difícil durante a montagem de palcos e, especialmente, em dias de eventos, quando uma área maior do vale do Anhangabaú fica interditada. "A gente tem que dar uma volta maior para chegar até a estação, por um caminho que não conhecemos e que não tem a mesma sinalização", acrescentou Santos.

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Após reforma e concessão à iniciativa privada, o vale do Anhangabaú passou a ser mais utilizado como arena para grandes eventos, como shows e festivais. Nos períodos de montagem dos palcos, a área é cercada por grades e tapumes, que atrapalham a circulação de pedestres. Desde o início da gestão privada, em dezembro de 2021, o vale já passou mais de 100 dias interditado para eventos particulares.

Cercado

No início dessa semana, o vale voltou a ser gradeado para a montagem de palcos para a Virada Cultural, que será promovida pela prefeitura nos dias 27 e 28 de maio. "Vai ser mais um fim de semana complicado. Da última vez que teve evento a empresa teve que fechar por causa do barulho e dificuldade de acesso dos funcionários", disse o operador de cobrança Caíque Afonso, que trabalha em um edifício na rua Formosa, bem em frente ao vale.

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Ele conta que, desde que começou a trabalhar no local, há três meses, foram poucas as vezes em que viu o vale completamente liberado. "Acho ruim que um lugar público fique fechado desse jeito", disse.

As restrições à circulação são a principal reclamação de quem trabalha na região. "Atrapalha muito, porque quando tem show o acesso é dificultado e tenho colegas que já foram barrados pelos seguranças porque tinham esquecido o crachá da empresa", relatou operadora de telemarketing Erilaine Marques, 23.

Já o técnico de informática Luiz Gustavo Braga, 22, diz que os bloqueios dificultam o acesso a bancos e outras áreas livres, normalmente utilizadas no horário de almoço por quem trabalha na região. "Pra chegar até os bancos que ficam do outro lado, a gente tem que dar uma volta enorme. Isso faz com que a maioria das pessoas fiquem pra cá", disse Braga, que trabalha em um prédio ao lado da praça Ramos de Azevedo.

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Questionada, a concessionária Viva o Vale não esclareceu até a conclusão desta reportagem o motivo do posicionamento de gradis para delimitação de estacionamento, nem há quando tempo a estrutura foi colocada no local. A empresa também não se posicionou sobre as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência em razão dos bloqueios, nem disse se oferece suporte especial para este público nos dias de evento.

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