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Cotidiano
Primeiro dia de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo foi sem grandes sustos e com vários momentos de empolgação
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Rosas de Ouro fez um forte desfile crítico contra racismo e desigualdade negra | Reprodução/Instagram
Com arquibancadas lotadas, o Sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, foi palco, na noite desta sexta-feira (17) --e até as primeiras horas da manhã deste sábado (18)-- de gente animada com canto afinado, recados fortes contra racismo, preconceito e intolerância religiosa.
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O primeiro dia de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo foi sem grandes sustos e com vários momentos de empolgação.
Acadêmicos do Tatuapé, Rosas de Ouro e Gaviões fizeram desfiles grandiosos. A Tom Maior encantou pelo samba.
A Independente Tricolor, que subiu do ano passado, venceu o nervosismo para fazer um bom desfile. Na metade, numa paradinha da bateria, o samba foi cantado à capela pela arquibancada.
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"A emoção é muito grande, até porque especial não é para qualquer um", disse Mariane Freitas, que desfila pela Independente há seis anos e está confiante no título.
A Acadêmicos do Tatuapé, que homenageou Paraty, cidade do litoral sul do Rio de Janeiro, apostou na grandiosidade de seus carros e do samba, que agradou o público.
Com 23 anos como porta-bandeira da Acadêmicos do Tatuapé, Jussara Souza terminou o desfile do início da madrugada deste sábado convicta que foi um dos melhores de que já participou pela agremiação da zona leste de São Paulo. "A escola cantou demais."
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A chuva forte castigou o desfile da Barroca da Zona Sul, que entoou os versos de "Guaicurus", enredo que conta a história dos indígenas que se defenderam dos bandeirantes na região de Mato Grosso e Goiás.
"Ela [a chuva] lavou a alma, mas também deixou o instrumento mais pesado e poderia ter desafinado", explicou Bruno Barbosa, integrante da bateria.
A religiosidade foi tratada em ao menos três vezes na primeira noite. A Unidos de Vila Maria desfilou com uma enorme imagem de Nossa Senhora Aparecida negra, com cerca de 8 metros de altura, que chamou a atenção, inclusive, quando foi levada para fora do sambódromo, após o desfile da escola.
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A agremiação da zona norte de São Paulo, que contou a própria história no enredo, abusou também do colorido das suas fantasias e alegorias, e de personagens inusitados, de um palhaço perna de pau, a um enorme Papai Noel no último carro ou uma noiva passista.
Aline Sansa, 32, a moça de véu e grinalda, estava rouca de tanto cantar o samba da escola.
Moradora em Jundiaí, ela viajou para participar do desfile da Vila Maria com um grupo de 25 pessoas da cidade a 58 km de São Paulo.
Sua fantasia, explicou, era uma homenagem à Paróquia Nossa Senhora da Candelária. "Os casamentos no bairro são feitos ali", afirmou a noiva da noite sogre a igreja do bairro.
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Outras referências sobre religião foram feitas pela Tom Maior, que homenageou mães pretas e também tinha uma imagem de nossa senhora em um dos carros da escola, e a Gaviões que teve a intolerância religiosa como tema de seu enredo.
Antes delas, a Rosas de Ouro fez um forte desfile crítico contra racismo e desigualdade negra.
Logo no início, a coreografia mostrava negros tentando se equilibrar em um navio negreiro que funcionava como uma gangorra.
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A escola trouxe no enredo um pedido pelo enfrentamento ao racismo.
"A Brasilândia vem mostrar no seu Carnaval um mundo novo de igualdade racial", diziam os versos do samba.
O último carro da escola exibia fotos de personalidades negras, como Machado de Assis, Carolina de Jesus, Pelé, Glória Maria e Marielle Franco, além de Gilberto Gil e Emicida, entre outras.
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Ainda, na frente do carro havia um cartaz com a frase "vocês existem e são valiosos para nós", dita pelo ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, em seu discurso de posse.
A frase faz referência a trabalhadores e minorias como as populações negra, LGBTQIA+ e indígena, entre grupos que sofrem violência e preconceito.
O carro das personalidades negras da Rosas de Ouro buscou mostrar pessoas que sempre largam atrás por causa de sua cor, mas que conseguem grandes conquistas, segundo Osmar Costa, vice-presidente da escola.
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Entre os que desfilaram no carro estava o garoto Francisco Carlos Nascimento, 10, um dos convidados para passar a faixa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 1º de janeiro.
"Ele assumiu um protagonismo muito grande e representa o futuro das lideranças desse país, que vão ser negras", afirmou Costa.
O menino mora em Itaquera, zona leste de São Paulo e distante da sede da Rosas de Ouro, na parte norte. Ele foi conhecido pelo presidente durante o Natal dos Catadores, evento realizado no fim do ano passado e que contou com a presença de Lula.
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No seu sempre polêmico desfile a Gaviões, a apresentadora de TV e rainha de bateria da escola, Sabrina Sato, desfilou com uma fantasia de dragão de São Jorge, presente em várias religiões.
"Nessa corrente sou mais um guerreiro de São Jorge, mais um mensageiro de Ogum", disse ela em publicação nas redes sociais.
Em um dos carros havia um integrante caracterizado como Jesus, com a coroa de espinhos e roupa manchada de sangue.
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Ele cantava o sangue pendurado por uma corda na parte de trás do carro, a mais de cinco metros de altura. O homem acabou passando mal no fim do desfile e teve de ser socorrido ao Pronto de Socorro de Santana, mas saiu consciente do local, segundo os enfermeiros.
Um gigante Chico Xavier também se fez presente em seus carros com outros médiuns.
Gaviões e Tom Maior, curiosamente as duas últimas escolas a desfilarem, colocaram as arquibancadas para cantar.
Apesar de difícil, a letra do samba da Tom Maior ficou na cabeça da vendedora Márcia Augusta Dionísio, 23, que esperava a apresentação da Gaviões, mas não deixou de elogiar a música da escola adversária. "É um chiclete que gruda na cabeça", afirmou.
Mais sete escolas desfilam neste sábado, a partir das 22h30. E no domingo (21), é a vez do Grupo de Acesso do Carnaval paulistano.
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