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Cotidiano

Escavação manual e até olfato ajudaram na busca por vítimas da chuva em São Sebastião

Neste domingo (26), bombeiros, voluntários e militares encontraram o corpo da 65ª vítima do temporal que assolou o litoral norte de São Paulo

Natália Brito

27/02/2023 às 10:42  atualizado em 27/02/2023 às 10:47

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Vila Sahy, no litoral Norte de São Paulo

Vila Sahy, no litoral Norte de São Paulo | Divulgação/Governo do Estado

No terceiro dia após os deslizamentos que deixaram ao menos 65 mortos em São Sebastião (SP), no último domingo (19), voluntários e militares desempenhavam uma tarefa mórbida: guiavam-se pelo odor de corpos em estágio inicial de putrefação para localizar vítimas soterradas em um morro de Barra do Sahy.

Um morador chamou a atenção para uma geladeira parcialmente enterrada, possível origem do cheiro forte que alguns estavam sentindo. Houve dúvida entre os voluntários sobre a causa do odor, pois o eletrodoméstico enlameado certamente armazenava alimentos apodrecidos. Um dos homens do Corpo de Bombeiros garantiu que havia um corpo no local. A escavação com pás e enxadas confirmou a morte de uma mulher.

Tragédias provocadas por deslizamentos não são raras na história do litoral de São Paulo. A pior delas matou 500 pessoas em Caraguatatuba no ano de 1967. Mas o curto intervalo entre soterramentos com múltiplas vítimas nos últimos anos aprimorou a capacidade de alguns bombeiros de usar o olfato para achar vítimas em um tipo de ambiente que possui diferentes odores desagradáveis, como esgoto, lama, comida estragada e cadáveres.

Comandante de uma das equipes que trabalhara, nos deslizamentos na vila Sahy, o 1º tenente André Moreira Lima, 42, explicou que o cenário encontrado naquele ponto de São Sebastião era muito semelhante ao dos deslizamentos ocorridos na Baixada Santista no verão de 2020.

Muitos dos homens e mulheres que buscam corpos dentro de valas de mais de dois metros no litoral norte também fizeram esse mesmo trabalho no Guarujá, onde dezenas de pessoas morreram soterradas há três anos.

"Em diversas ocorrências atuamos com um cadáver no ambiente, mas o que deu esse know-how de conhecer o odor foi principalmente essa ocorrência na Baixada", afirma Lima, que também atuou nos resgates de 2020. "O cheiro que tem aqui é exatamente o cheiro que tinha lá."

Neste domingo (26), bombeiros, voluntários e militares encontraram o corpo da 65ª vítima do temporal que assolou o litoral norte de São Paulo. Era a última pessoa considerada desaparecida que restava na área e, ao menos por enquanto, as buscas na Barra do Sahy foram encerradas.

Segundo os bombeiros que atuam na região, buscas também foram encerradas em Juquehy, mas continuam na região da Baleia Verde -onde um corpo ainda é procurado.

A região do Sahy apresentou nas primeiras horas uma dificuldade extra para os resgates. Deslizamentos bloquearam totalmente o acesso por terra à localidade. Equipamentos específicos, equipes especializadas e cães farejadores demoraram a chegar.

Durante os quatro primeiros dias o trabalho foi realizado com ferramentas como cordas, pás e baldes. A escavação manual é a mais extenuante das tarefas para socorristas, segundo Lima.

Somente no quinto dia após a chuva histórica é que o maquinário pesado pôde entrar em ação porque, além da abertura dos acessos por terra, já não havia mais esperança de encontrar sobreviventes.

Diferentemente de terremotos como o que atingiu a Turquia e a Síria, deslizamentos de lama não costumam permitir a formação de bolsões de ar. Nesses bolsões, em tese, as pessoas podem ficar vivas por dias sob os escombros.

Por isso, em grandes deslizamentos de terra, em geral, as pessoas morrem mais rapidamente porque, mesmo que sobrevivam ao trauma, não conseguem respirar.

O trabalho de buscas também foi auxiliado por técnicos com dispositivos que detectam sinal de celulares.
Segundo funcionários da Anatel, três corpos foram encontrados devido ao uso desse mecanismo, inclusive um no sábado (25). "Apontamos o aparelho para a lama, se tiver um sinal, consigo captar um sinal de celular que está tentando contato com a torre", contou à Folha Rogério Zambotto.

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