A+

A-

Alternar Contraste

Sábado, 01 Fevereiro 2025

Buscar no Site

x

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp
Home Seta

Cotidiano

Equador declara estado de exceção após assassinato de candidato à presidência

Data da eleição está mantida para o dia 20 de agosto

Leonardo Sandre

10/08/2023 às 12:45  atualizado em 10/08/2023 às 12:54

Continua depois da publicidade

Compartilhe:

Facebook Twitter WhatsApp Telegram
Momentos antes de Fernando Villavicencio ser assassinado a tiros

Momentos antes de Fernando Villavicencio ser assassinado a tiros | Reprodução

O presidente do Equador, Guillermo Lasso, declarou nesta quinta-feira (10) estado de exceção em todo o país após o assassinato a tiros do candidato à Presidência Fernando Villavicencio. A medida, de acordo com o governo, visa a garantir a segurança das eleições gerais, mantidas para o dia 20 de agosto.

Continua depois da publicidade

"As Forças Armadas, a partir deste momento, mobilizam-se em todo o território nacional para garantir a segurança dos cidadãos, a tranquilidade do país e as eleições livres e democráticas em 20 de agosto", afirmou Lasso em discurso transmitido no YouTube. O presidente também declarou três dias de luto nacional "para honrar a memória" de Villavicencio, descrito por ele como um patriota.

O candidato de 59 anos foi baleado na cabeça e morto na noite desta quarta-feira (9), depois de participar de um encontro com apoiadores em uma escola de Quito, a capital equatoriana.

Villavicencio era ex-congressista e candidato pelo Movimento Construye. Ele disputava a Presidência e apareceu em segundo lugar numa pesquisa recente de intenção de voto feita pelo instituto Cedatos. Com 13,2% da preferência dos eleitores, o político estava atrás apenas da esquerdista Luisa González (26,6%), a única mulher na disputa e aliada do ex-presidente socialista Rafael Correa.

Continua depois da publicidade

Um suspeito do ataque morreu após ficar gravemente ferido em confronto com seguranças do candidato. Depois do crime, a polícia ainda detonou um dispositivo explosivo deixado no local do crime. Seis pessoas haviam sido detidas até a manhã desta quinta-feira por suspeita de envolvimento no caso.

"Este é um crime político que adquire um caráter terrorista. Não temos dúvida de que este assassinato é uma tentativa de sabotar o processo eleitoral", afirmou o presidente Lasso.

Mais tarde, na manhã desta quinta, a facção criminosa Los Lobos, uma das maiores do Equador, assumiu a autoria do assassinato. Em vídeo nas redes sociais, um porta-voz do grupo lê um comunicado no qual insinua que Villavicencio fez um acordo com o crime organizado e não cumpriu suas supostas promessas.

Continua depois da publicidade

Logo após o ataque, que ainda deixou nove feridos, incluindo uma candidata ao Parlamento e dois policiais, as autoridades do país se reuniram em caráter de urgência na sede do governo. Segundo Lasso, o estado de exceção será válido por 60 dias e permitirá a presença dos militares nas ruas.

A despeito do crime, a presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Diana Atamaint, afirmou que "a data das eleições permanece inalterada". Ela acrescentou que as Forças Armadas e a polícia redobrarão a segurança para que a votação "aconteça com garantias de escolha livre, em paz e com segurança".

Facção assumiu autoria do ataque

Continua depois da publicidade

A facção criminosa Los Lobos, uma das maiores do Equador, assumiu a autoria do assassinato do candidato à Presidência Fernando Villavicencio, morto a tiros nesta quarta (9) após comício em Quito.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, um porta-voz do grupo lê um comunicado no qual insinua que Villavicencio fez um acordo com o crime organizado e não cumpriu suas supostas promessas.

"Queremos deixar bem claro para toda a nação equatoriana que, cada vez que os políticos corruptos não cumprirem as promessas que estabelecemos quando recebem nosso dinheiro - e são milhões de dólares - para financiar suas campanhas, eles serão dispensados", afirmou o porta-voz, rodeado de outros criminosos vestidos de preto e com máscaras cobrindo os rostos enquanto exibem armas de fogo.

Continua depois da publicidade

Ele disse ainda que a organização criminosa pode realizar novos ataques e fez ameaças ao empresário Jan Topic, outro candidato na disputa à Presidência e sexto colocado numa pesquisa de intenção de voto divulgada no mês passado pelo instituto Cedatos, com 4,4% da preferência dos eleitores. "Você também, Jan Topic, mantenha sua palavra. Se você não cumprir suas promessas, você será o próximo."

Segundo a rede britânica BBC, os Lobos são a segunda maior facção criminosa do Equador, com cerca de 8.000 membros. O grupo tem envolvimento com tráfico internacional de cocaína e é dissidente da organização Los Choneros, cujos componentes também foram acusados de ameaçar Villavicencio. As autoridades ainda não se manifestaram sobre o vídeo, e investigações estão em curso.

Carreira

Continua depois da publicidade

Um dos oito postulantes ao cargo, ele teve longa trajetória na vida pública e curta carreira política. Foi membro da Assembleia Nacional até três meses atrás, quando o presidente Guillermo Lasso decretou a chamada "morte cruzada", dissolvendo o Legislativo e convocando as eleições marcadas para o dia 20.

Villavicencio atuava como parlamentar desde 2021, período no qual foi muito ativo como presidente da comissão de fiscalização e controle político. Ele impulsionou investigações, principalmente em questões relacionadas ao petróleo, nos governos de Correa (2007-2017), Lenín Moreno (2017-2021) e de Lasso.

Apesar disso, recentemente o legislador foi acusado por opositores correístas de obstruir o processo de impeachment contra o atual presidente - que levou o líder a tomar a drástica medida meses atrás. O deputado negava as insinuações de proximidade com o governo, afirmando que a oposição agia sem evidências.

Continua depois da publicidade

Sua maior investigação como deputado foi no caso Petrochina, em que denunciou um suposto esquema de corrupção na venda de petróleo à China por valores abaixo dos de mercado no governo de Correa.

Villavicencio também ficou conhecido por sua longa carreira como jornalista, durante a qual ele fundou o portal Periodismo de Investigación. Até hoje o político se identificava como jornalista investigativo nas redes sociais e divulgava o link do seu site, por meio do qual fez diversas outras denúncias.

Outros países e candidatos lamentam morte

Continua depois da publicidade

Governos de diversos países condenaram o assassinato do candidato, descrevendo o crime como "detestável", "selvagem" e "ataque contra a democracia". Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil também lamentou a morte de Villavicencio e pediu punição aos criminosos.

"Ao manifestar a confiança de que os responsáveis por esse deplorável ato serão identificados e levados à Justiça, o governo brasileiro transmite suas sentidas condolências à família do candidato presidencial e ao governo e ao povo equatorianos", afirma trecho da nota divulgada pelo Itamaraty.

Candidatos à Presidência como Yaku Pérez (líder indígena de esquerda, terceiro nas pesquisas, com 12,5% das intenções de voto) e Otto Sonnenholzner (ex-vice-presidente, de direita, em quarto lugar, com 7,5%) anunciaram a suspensão de suas campanhas e condenaram o crime. González interrompeu um comício do qual participava após saber do crime, mas não divulgou se paralisará toda a sua agenda.

Continua depois da publicidade

Ameaças recorrentes

Villavicencio chegou a afirmar em outros eventos de campanha que havia recebido a recomendação de tomar precauções devido às ameaças. "Eles me disseram para usar um colete [à prova de balas]. [Mas] aqui estou eu, com a camisa suada. Vocês são o meu colete à prova de balas, não preciso disso", afirmou o candidato em dos comícios. "Aqui estou. Falaram que iam me quebrar [...] Que venham os chefes do tráfico, venham. Que venham os sicários. O tempo das ameaças acabou", acrescentou ele.

Antes visto como pacífico, o Equador, localizado entre o Peru e a Colômbia, grandes produtores de cocaína, tem portos no oceano Pacífico que atraem organizações criminosas devido ao potencial de escoamento da produção. A questão tem povoado a campanha para as eleições presidenciais do país, com candidatos apostando em uma forte retórica contra a criminalidade.

Continua depois da publicidade

Da província andina de Chimborazo, Villavicencio foi funcionário e sindicalista da estatal Petroecuador e também trabalhou como jornalista. Na função, denunciou corrupção e perdas financeiras em contratos do setor. Na campanha, apontou ao menos três ameaças feitas pelo grupo criminoso Los Choneros.

No final de julho, Lasso também declarou estado de exceção, mas apenas em algumas regiões do Equador. Na ocasião, a medida entrou em vigor na cidade de Durán e nas províncias de Los Ríos e Manabí após a ocorrência de um massacre numa prisão e o assassinato do prefeito da cidade de Manta.

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Conteúdos Recomendados