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Cotidiano
A terapeuta materno-infantil Olivia Tani diz que a forma como o cérebro do bebê se estruturou durante a gravidez pode influenciar em seu sono quando criança
08/03/2023 às 15:48 atualizado em 08/03/2023 às 16:09
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Segundo Tani, o problema pode prejudicar o desenvolvimento neuronal | Divulgação
O sono é uma necessidade fisiológica humana e deixa mães e bebês estressados quando esse descanso fundamental não acontece por longos períodos. Uma das maiores queixas dos pais com a chegada de um filho é o sono agitado, com vários despertares à noite, sonecas curtas e sem qualidade durante o dia e muita irritação do bebê que não descansou. O mesmo acontece com a mãe que está física e emocionalmente exausta.
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A terapeuta materno-infantil Olivia Tani acredita que essas características já são suficientes para as mães identificarem as prováveis causas emocionais do sono irregular dos filhos e começarem a tratar a criança para amenizar os sintomas. Segundo a terapeuta, a forma como o cérebro do bebê se estruturou durante a gravidez tem influência, principalmente, do estresse vivenciado no período gestacional.
“O bebê que não consegue ter um sono reparador está comunicando que algo não está bem. As mães costumam achar que é uma fase, algum período passageiro de salto de desenvolvimento ou que o sono picado acontece por algum desajuste na rotina ou higiene do sono inadequada. Mas mesmo organizando estes fatores externos, muitas vezes não se observa melhora na qualidade do sono. E ainda que se aguarde a tal fase passar, o sono continua disfuncional com o passar dos meses, chegando a se prolongar por anos.", inicia a profissional.
Prejuízos ao desenvolvimento neuronal
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Segundo Tani, o problema pode prejudicar o desenvolvimento neuronal. "O problema é que todo o estresse vivido pelo bebê pela falta de descanso adequado acaba impactando em seu desenvolvimento neuronal. E os prejuízos começam a ser percebidos de forma mais evidente na idade escolar, quando a criança apresenta algum grau de hiperatividade ou dificuldade de aprendizagem.", acrescenta.
A especialista ressalta que os bebês são sensíveis ao estresse. "Se um adulto que atravessa longos períodos sem sono de qualidade sofre com um prejuízo em sua memória e capacidade de concentração, não é difícil de imaginar o impacto que a falta de sono tem no cérebro de um bebê que está em altíssima velocidade de desenvolvimento e é extremamente sensível ao estresse.", explica.
A profissional compara ainda a sensibilidade dos adultos ao estresse com o efeito causado nas crianças. "Entendemos quando um adulto que está sob estresse por conta de problemas no trabalho, no relacionamento, viveu um trauma como um luto ou acidente tem o seu sono afetado - mesmo tendo uma rotina organizada ou fazendo uma higiene do sono. Da mesma forma, um bebê também não consegue relaxar e dormir um sono profundo e tranquilo quando está emocionalmente abalado. Por isso é importante cuidar das causas emocionais desde bebês.”, diz a explica a terapeuta holística.
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Psicologia Pré-Natal pode ajudar
Alguns estudos sobre a Psicologia Pré-Natal — ciência que se originou há mais de 100 anos no mundo — atestam a relação entre a má qualidade do sono do bebê e as memórias intrauterinas.
“É comum as mães acreditarem que os bebês se incomodam apenas com dor, fome, sede, frio ou calor. Mas estamos falando de um ser humano completo que tem consciência, pensamentos e emoções desde que estava sendo gestado e isso hoje já foi amplamente comprovado cientificamente”, enfatiza Olivia.
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Para a terapeuta, quando a criança tem maior dificuldade para dormir de forma reparadora, o sono é leve ou agitado e/ou com episódios de terror noturno, existe claramente alguma memória traumática que impede o sistema nervoso de relaxar profundamente. E essa memória normalmente está relacionada com o período intrauterino ou a forma como ocorreu o nascimento.
“É resultado do que o bebê sentiu nas experiências marcantes vividas por sua mãe enquanto seu cérebro estava em intensa formação, ou seja, na gestação e no nascimento. E, para isso, intervenções superficiais não são suficientes para resolver, é preciso terapia para cuidar do estado emocional dos bebês”, diz Olívia.
Emoções da gestante chegam ao bebê
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Ainda de acordo com a especialista, as emoções da mulher gestante chegam até o bebê em formação através de toda a neuroquímica dos hormônios que circulam em sua corrente sanguínea. E principalmente o cortisol - hormônio do estresse - impacta não só a forma como o cérebro, os órgãos e o corpo vão se desenvolver, mas também na formação da psiquê e personalidade do indivíduo ao longo da vida.
Como exemplo, mulheres que passaram por estresse frequente na gestação (seja no trabalho ou no relacionamento), tiveram depressão gestacional ou algum outro risco de saúde, passaram por luto, acidente ou algum trauma, sentiram preocupação excessiva em sofrer uma perda gestacional ou se o estresse foi pelo fato de ter engravidado em um momento indesejado, há grandes chances de terem filhos com um sono disfuncional.
Processo de parto também pode ter relação com o problema
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Também tem grande impacto a forma como ocorreu o nascimento do ponto de vista da experiência do bebê: se houve risco de vida a ele ou à mãe, se foi um parto difícil com uso de fórceps ou extrator à vácuo, se precisou ser internado após o nascimento, etc. Tudo isso deixa memórias traumáticas profundas que vão repercutir não apenas no sono, mas em sua personalidade e comportamentos durante o crescimento do filho. É o que ela chama de “linguagem invisível das crianças”, pois cada uma comunica através das suas dificuldades os impactos do que foi vivido desde o início de sua vida.
Com esse novo olhar para os bebês é possível cuidar mais a fundo da origem das diversas dificuldades com o sono dos filhos, mas também expandir a consciência para toda a sociedade da importância de se proteger as gestantes durante o período crucial de formação de um novo ser humano.
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