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Cotidiano
Segundo o estudo da Seade, a fatia da região no VTI automotivo do Estado caiu de 33,3% em 2003 para 22,9% em 2017
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O estudo revela ainda que São Bernardo manteve a hegemonia no setor automotivo paulista, mas viu sua participação cair de 25,9% para 17,1% entre 2003 e 2017 | /DIVULGAÇÃO
O ABC ainda é relevante reduto de montadoras e autopeças de São Paulo, mas o processo de interiorização do setor automotivo fez reduzir a participação da região no valor de transformação industrial (VTI) do segmento no Estado. É o que revela estudo divulgado na última quinta-feira (13) pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).
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O estudo, que usa dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela ainda que São Bernardo manteve a hegemonia no setor automotivo paulista, mas viu sua participação cair de 25,9% para 17,1% entre 2003 e 2017. No mesmo intervalo, São Caetano teve sua fatia reduzida de 5,8% para 4,5%.
No sentido contrário, o grupo de cidades formado por Piracicaba (sede da Hyundai desde 2012), Sumaré (Honda, desde 1997) e Indaiatuba (Toyota, desde 1998) ampliou sua participação de 5,5% para 21,1% na mesma comparação.
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Paralelamente à perda de VTI, o setor automotivo do ABC também perdeu empregos. Somente nas montadoras, o estudo mostra que, entre 2006 e 2017, foram fechados 12,3 mil postos de trabalho na região. No segmento de autopeças, o total de perdas chegou a 6,5 mil vagas no mesmo período.
HISTÓRIA
Autoras do estudo, as analistas da Fundação Seade Mônica Landi e Margret Althuon des-tacam que setor automotivo – que começou a se estabelecer no Brasil no início do século 20 – centralizou no ABC a instalação de suas fábricas até meados da década de 1970, em uma estratégia explicada pela proximidade com o Porto de Santos e o mercado consumidor, pela existência de mão de obra qualificada e pelo desenvolvimento de parque produtivo de autopeças na região.
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Poucas vezes o predomínio do ABC foi rompido até então, como no movimento de expansão em direção ao Vale do Paraíba feito por General Motors (1959), Ford (1967) e Volkswagen (1973), e na instalação da Fiat em Betim (1976). Não por acaso, o Estado de São Paulo respondia por três a cada quatro carros feitos no Brasil em 1990.
Em um cenário de abertura comercial, incentivos oferecidos por alguns Estados – a chamada “guerra fiscal” – e de busca das montadoras por novos mercados, o setor recebeu novo ciclo de investimentos a partir de meados dos anos 1990, desta vez descentralizado. Entre 1997 e 2007 foram instaladas 11 novas unidades fabris no país, das quais sete no Paraná. Regiões como Nordeste e Centro-Oeste ganharam relevância no setor, enquanto a participação de São Paulo caiu para 42,5% em 2011.
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O estudo lembra ainda que, ao longo das décadas de 2000 e de 2010, ocorreu um novo ciclo de investimentos, com destaque para a vinda de marcas asiáticas para o Interior paulista. Tanto no segundo como no terceiro ciclos, outro fator contribuiu para a desconcentração do setor: a escolha, pelas empresas, de locais com mão de obra mais barata e baixa organização sindical, com o objetivo de reduzir custos.
“No primeiro momento, o ABC era uma opção vantajosa, devido à proximidade com o Porto de Santos e com o mercado consumidor. Porém, com o passar do tempo, a região ficou cara, não só em termos de mão de obra, mas também de custos de imóveis e terrenos. Até mesmo sob o ponto de vista logístico, se estabelecer no Interior do Estado tornou-se uma estratégia vantajosa para as empresas”, disse Mônica.
A analista lembra que os dados ainda não consideram o impacto do fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo, em 2019, e do encerramento da produção da montadora no país, no início deste ano. Assim, a fatia do ABC no VTI automotivo paulista deve ser ainda menor agora.
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DESINDUSTRIALIZAÇÃO
Mônica destacou que, neste momento, mais importante do que a continuidade ou não do processo de descentralização é a sobrevivência do setor fabril. “Temos visto empresas deixando o país em vários setores, não só no automotivo. Como falta uma política industrial clara, fica difícil qualquer decisão de investimento. Assim, não se trata mais de descentralização, mas de desindustrialização.”
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