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Cotidiano
Publicação de Padre Júlio Lancellotti que mostra a arquitetura hostil instalada em monumento religioso gerou polêmica nas redes sociais neste fim de semana
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Prefeitura de Santos retirou as lanças da cruz neste domingo (20) | Nair Bueno/DL
Uma postagem do Padre Júlio Lancelotti, conhecido por postar casos de discriminação contra a população de rua, dividiu opiniões entre os moradores da Baixada Santista neste domingo (20). O post mostra a arquitetura hostil, criada para não permitir que pessoas acessem o local, instalada em uma cruz em frente a Paróquia Sagrada Família, no Jardim Castelo, em Santos, e ainda menciona a Diocese de Santos.
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Entre comentários sobre se a atitude seria certa ou não, a Diocese precisou se defender das acusações de aporofobia (repúdio, aversão ou desprezo pelos pobres ou desfavorecidos; hostilidade para com pessoas em situação de pobreza ou miséria).
"Esclarecemos que a cruz em questão foi erigida em praça pública como um monumento da comunidade por ocasião dos 50 anos de criação da Paróquia e está sob gestão da Prefeitura. A Igreja de Santos acolhe com respeito os pobres, que são semprebem vindos e atendidos em nossas comunidades, que tem também muitas iniciativas de ajuda a moradores de rua. Em entendimento com a Prefeitura, estamos buscando formas de resolver a situação respeitando a todos, os frequentadores da Praça e os devotos que tem na cruz um símbolo sagrado de Cristo e de seu grande amor por nós", argumenta em nota, publicada também nas redes sociais.
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Questionada pela Reportagem do Diário do Litoral, a Administração santista garante que não instalou as lanças no local. "Apesar de não ter sido responsável pela instalação, a Prefeitura de Santos retirou os obstáculos, na tarde deste domingo (20), de forma que o monumento retorna ao formato entregue no ato da inauguração".
O Cruzeiro da Sagrada Família foi construído em 2019 especialmente para as comemorações do Jubileu de Ouro da paróquia. Na época, sem lanças ou cercas ao redor. No entanto, se nem Diocese e nem Prefeitura foram responsáveis pela instalação da arquitetura hostil, quem teria feito?
"Sobre a parte colocada na parte de cima da cruz: a comunidade, na época, pediu para que esses itens fossem colocados acima da cruz pois ela estava sendo utilizada para outros fins, namoros, manobras de skate… enfim, não estava sendo respeitada. Foi uma ação da comunidade e que não foi bancada nem pela paróquia nem pela diocese", explicou a assessoria da Diocese.
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Nas redes sociais, explicações diversas aparecem para justificar a instalação dos obstáculos, além de comentários repudiando a ação. Enquanto alguns tentavam explicar o motivo da lanças e cercas serem colocadas no Cruzeiro, outros questionam se é certo afastar pessoas em um monumento religioso.
"Se passou um 1 mês (após a inauguração) e os pregos foram colocados. Diversas situações levaram a colocação dos pregos. Por segurança. Pois muitas crianças subiam e pulavam dali, pelos casais que namoravam em cima e, principalmente, a galera que zombava e imitava Jesus deitado na cruz", explicou a seguidora Clara Beatriz. Já a seguidora Mariana Lisboa conclui: "os santistas com certeza pregaram Jesus na cruz".
A Sociedade de Melhoramentos do bairro Jardim Castelo também foi contatada sobre a questão, mas até o fechamento desta matéria ainda não encaminhou resposta.
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HISTÓRICO
Não é a prineira vez que a cidade é palco de polêmicas por conta da instalação de arquitetura hostil. Em Santos há inúmeros exemplos, como pedras sob o viaduto Paulo Gomes Barbosa, bancos individuais da praça em frente à Igreja da Pompéia e grades na praça que envolve o Outeiro de Santa Catarina.
Outros exemplos são regos, vidros e objetos cortantes em muretas, esguichos de água disfarçados de fontes e pingadeiras para evitar a permanência. O termo arquitetura hostil" foi cunhado pelo jornalista britânico Ben Quinn, em 2014, ao fazer referência à presença de pontas de ferro em locais públicos para evitar a instalação de pessoas em situação de rua.
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FILME
Para quem debate o assunto, o documentário Colchão de Pedra é obrigatório. O Diário do Litoral, junto com a Universidade Santa Cecília (Unisanta), lançou em 16 de outubro do ano passado, no Dia Mundial da Alimentação - o documentário Colchão de Pedra, na plataforma Youtube, pelo endereço eletrônico https://bit.ly/3g9cWUQ.
A busca diária e desesperada por comida exposta no filme, dificultada pela aporofobia, arquitetura higienista e violência (tripé básico do longa-metragem), sensibiliza o expectador que se vê diante de revelações fortes e emocionantes de pessoas em situação de rua que, claramente, têm os direitos humanos retirados em Santos.
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O filme foi lançado em 20 de setembro e, desde então, vem percorrendo diversos espaços na região da Baixada santista, onde ocorre debates sobre a vulnerabilidade social a qual esses seres humanos são submetidos.
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