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Cotidiano
Proposta também restringe aborto em casos de estupro, gerando forte reação de especialistas e ativistas dos direitos das mulheres
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Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) | Zeca Ribeiro/Agência Câmara
A Câmara dos Deputados se prepara para votar nesta terça-feira (11) o pedido de urgência para o projeto de lei que iguala o aborto após a 22ª semana de gestação com o crime de homicídio. O projeto ainda restringe o aborto mesmo nos casos de estupro.
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A proposta prevê a alteração do Código Penal Brasileiro e iguala as penas para abortos realizados após 22 semanas de gestação às penas previstas para homicídio simples. A matéria também determina que em casos de viabilidade fetal, mesmo resultantes de estupro, o aborto não será permitido.
A Gazeta conversou com a advogada Thaynara Gargiulo sobre o assunto, ela afirmou que enquanto o aborto for criminalizado, os direitos das mulheres estarão em risco.
"A equiparação é uma política que reflete uma visão machista e retrógrada da sociedade, onde a liberdade e os direitos reprodutivos e sexuais da mulher não são plenamente reconhecidos. É uma visão contrária aos direitos fundamentais das mulheres à autonomia de seus corpos e a sua própria dignidade." completou Gargiulo.
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Na última terça-feira (4) o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), decidiu colocar na pauta do plenário a urgência do projeto.
O projeto foi protocolado há menos de um mês e teve a urgência incluída na pauta pelo presidente da Câmara após um pedido de deputados contrários ao procedimento. Caso a urgência seja aprovada, dispensa a tramitação do texto e permite a votação diretamente em plenário.
Segundo Gargiulo, a medida pode ocasionar em mortes de mulheres, principalmente das classes mais pobres. “Essa medida contribuirá para o crescimento dos abortos clandestinos e inseguros, continuando a provocar mortes de mulheres, especialmente entre as populações mais pobres”, afirmou a advogada.
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Inicialmente, a frente evangélica pediu para que fosse pautado o projeto de lei que proíbe o aborto no Brasil em qualquer caso, o chamado Estatuto do Nascituro. Mas, diante da resistência que a matéria poderia enfrentar, optou pelo projeto em questão.
Para Gargiulo, apesar de possuirmos um estado laico, a religião tem influenciado nas decisões do Estado.
"A PEC em tramite é justamente reflexo da influência, além de machista, religiosa, e embora o estado seja laico, o poder legislativo está tomando de valores religiosos", diz.
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Ainda de cordo com a advogada, ao tratarmos o assunto como um crime, as discussões serão tratadas sempre voltadas para punir a mulher, que não é a única responsável por uma gravidez indesejada. Se for resultado de um estupro então, ela não tem responsabilidade alguma.
"As discussões sobre o assunto sempre serão voltadas ao aumento da penalização de mulher, deixando de lado a saúde pública e a liberdade corporal".
Quando questionamos o papel do judiciário para a defesa dos direitos das mulheres, ela afirmou que a criminalização integral do aborto é um retrocesso aos direitos fundamentais. "Embora conceda ao feto o “direito e viver”, retira da mulher esse direito, principalmente nos casos de grave risco de vida da gestante", completou Gargiulo.
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Atualmente, de acordo com o artigo 28 do Código Penal, o aborto é crime, exceto em três casos: gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia do feto.
A Proposta de Emenda Constitucional 181/15 é uma proposta que interfere na interpretação de todas as leis e portarias que atualmente autorizam serviços de aborto legal no Brasil. O texto coloca em risco as formas de aborto atualmente permitidas no Código Penal Brasileiro, inclusive nos casos de estupro.
A proposta inicial do projeto era apenas ampliar o prazo da licença maternidade para mães de bebês prematuros. No entanto, a proposta estabelece a aplicação de pena de homicídio simples nos casos de aborto em fetos com mais de 22 semanas, após esse período a prática será criminalizada.
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A proposta também altera o artigo que estabelece casos em que o aborto é legal para restringir a prática em casos de gestação resultantes de estupro.
O projeto é assinado por 32 deputados, incluindo o vice-presidente da Casa, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), e o presidente da Bancada Evangélica, Eli Borges (PL-TO).
*Texto sob supervisão de Lara Madeira
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