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Cotidiano

Dependentes foram chamados de zumbi e carniça em operação na cracolândia

Frequentadores declararam também que perderam ou tiveram documentos pessoais tomados e ouviram ameaças de morte e de prisão

17/05/2022 às 10:56  atualizado em 17/05/2022 às 10:59

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Ruas da cracolândia vazias após ação policial

Ruas da cracolândia vazias após ação policial | Reprodução TV Globo

Moradores de rua e dependentes químicos abordados na megaoperação contra o tráfico de drogas na cracolândia da praça Princesa Isabel, em São Paulo, na madrugada da última quarta-feira (11), foram chamados de "zumbis, podres e carniça", segundo relatos colhidos por uma comissão da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) que acompanhou a retirada das pessoas do espaço.

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Eles declararam também que perderam ou tiveram documentos pessoais tomados e ouviram ameaças de morte e de prisão. Ainda segundo os relatos, mulheres foram revistadas por policiais homens.


A megaoperação foi realizada pela Polícia Civil e pela Prefeitura de São Paulo na praça que abrigava o novo endereço da cracolândia, no centro paulistano, desde a migração do fluxo de usuários, em 18 de março.


As informações sobre xingamentos e agressões fazem parte de um relatório do Núcleo de Ações Emergenciais e de Defesa dos Direitos Ameaçados da Comissão de Direitos Humanos da OAB. Segundo o documento, todas as pessoas em situação de rua que estavam na praça Princesa Isabel foram enquadradas e revistadas, com a justificativa de combate ao tráfico.

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De acordo com depoimentos de testemunhas, houve casos de agressão durante a abordagem policial, inclusive contra moradores da região que passavam pelo local na hora da megaoperação.


O secretário-executivo de Projetos Estratégicos da prefeitura, Alexis Vargas, refutou as acusações de violência durante a operação. "Havia ao menos cinco veículos de imprensa presentes e nenhum filmou atos de truculência", disse. "Não houve nenhuma violação de direitos humanos, não teve nenhuma unha quebrada."


As pessoas que foram obrigadas a sair da praça teriam sido impedidas de se sentar ou de permanecer aglomeradas nas regiões do terminal Princesa Isabel, rua Helvetia e avenida Rio Branco. Um grupo de pessoas, também segundo o relatório, teria sido conduzido até a favela do Moinho, que fica na região, sem poder desviar do caminho.

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No final de semana, o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, publicou em suas redes sociais fotos de ferimentos que seriam de pessoas agredidas na praça Princesa Isabel.


Em um vídeo, também divulgado nas redes sociais, o religioso conversa com 16 homens que viviam na praça e ouve relatos de disparos de balas de borracha, barracas quebradas e cobertores retirados. Os homem afirmaram que não tinham para onde ir após a megaoperação na praça e dormiriam nas ruas.


"A prefeitura tirou tudo deles, jogou tudo no lixo, triturou as barracas, tirou os documentos, tirou tudo o que eles tinham", disse o padre. "As pessoas são tratadas como lixo."

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Na noite de quinta (12), Raimundo Nonato Rodrigues Fonseca Junior, 32, morreu após levar um tiro no peito na avenida Rio Branco, na região central, durante tumulto que teria começado quando usuários de drogas tentaram depredar um ponto de ônibus. Fonseca foi levado para a Santa Casa, mas não resistiu.


Vídeos divulgados por moradores da região nas redes sociais mostram três homens armados disparando contra um grupo de dependentes químicos, que percorria a Rio Branco. Três policiais do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) admitiram ter atirado contra usuários de drogas.


De acordo com a delegada Elisabete Sato, eles se apresentaram espontaneamente ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), que investiga o caso. A Corregedoria da Polícia Civil foi convocada para acompanhar os depoimentos dos policiais.

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A advogada Priscila Akemi Beltrame, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, afirmou que a intenção do relatório é mobilizar as instituições, entre as quais a Ouvidoria da Polícia, para realizar a apuração do assassinato. "O temor é haver o aumento da violência e sofrimento da população de rua", diz ela.


Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) diz que a perícia vai apurar se o tiro que causou a morte de Fonseca saiu da arma de um dos policiais.


Fonseca era de Campinas, no interior paulista, e vivia nas ruas da capital ao menos desde 2019 devido à dependência de álcool e outras drogas.

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Neste domingo (15), manifestantes caminharam pelas ruas do centro paulistano pedindo justiça pelo homem morto. Os presentes entoaram palavras de ordem pedindo o fim do "genocídio na cracolândia" e ressaltando que "vidas na craco importam".

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